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Rodrigo Vianna

Jornalista desde 1990. Passou por Folha, TV Cultura, Globo e Record; e hoje apresenta o "Boa Noite 247". Vencedor dos Prêmios Vladimir Herzog e Embratel de Jornalismo, é também Mestre em História Social pela USP. Blogueiro, integra a direção do Centro de Estudos Barão de Itararé.

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Pesquisa Quaest: duas eleições

"É como se houvesse duas pautas opostas em disputa: um diálogo de surdos entre dois países que não conversam", avalia

Lula e Jair Bolsonaro (Foto: Ricardo Stuckert | ABr)
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Por Rodrigo Vianna

A pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira (11/05) mostra forte estabilidade na corrida presidencial, especialmente nos índices obtidos pelo ex-presidente Lula. O petista tem 46% dos votos, contra 31% de Bolsonaro e 13% dos outros (Ciro/Doria etc). São índices praticamente idênticos aos de abril, e que deixam em aberto a possibilidade de uma vitória de Lula no primeiro turno. 

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Mas, quando olhamos para os detalhes, trata-se de uma estabilidade com ventos levemente favoráveis ao capetão. Em novembro de 2021, Bolsonaro tinha 21%. Subiu 10 pontos em seis meses, o que se explica principalmente pela retirada da candidatura Moro.

Ao mesmo tempo, a rejeição ao governo Bolsonaro recuou 10 pontos. O governo era ruim/péssimo para 56% dos entrevistados, em novembro. Hoje, são 46%. A explicação, dirão alguns, está no Auxílio Brasil. Não. A redução na rejeição foi até maior entre quem não recebe o auxílio. Bolsonaro se recupera mais fortemente entre quem ganha acima de 5 salários mínimos.

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Parece haver uma (leve) sensação de melhora na economia, explicada pela reabertura pós vacinação - o que favorece o discurso mentiroso bolsonarista de que "fechar a economia foi um erro".

Bolsonaro também retoma apoios entre evangélicos e moradores do Centro Oeste (onde o peso do agronegócio é decisivo).

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Podemos dizer, então,que a melhora relativa na avaliação do governo deve-se a um misto de discurso moral e sensação difusa de que o pior já passou.

São ventos favoráveis, mas insuficientes hoje para uma reversão do quadro eleitoral. Lula segue em primeiro lugar nas duas regiões mais populosas do país (Sudeste e Nordeste), e lidera com empate técnico no Norte e (surpreendentemente) no Sul. O petista também tem a forte preferência de mulheres, católicos e dos mais pobres.

Segue possível uma vitória lulista em primeiro turno, especialmente nos cenários em que Ciro sai da disputa. Hoje, isso decidiria a eleição. Sem o pedetista, Lula ganha 4 pontos na disputa.

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Até agora os movimentos de Bolsonaro serviram para consolidar votos nos setores que já estão com ele: homens, evangélicos, agro. Isso garante a ele um piso de 30%. 

O que Bolsonaro vai fazer a partir de agora é a "Operação Rejeição". Ele precisa encontrar uma forma de aumentar a rejeição de Lula enquanto reduz aos poucos a dele. Para isso, não adianta só falar de "corrupção/Lula ladrão". Para ganhar voto novo, o capetão precisa de um bombardeio moral. Felipe Nunes da Quaest deixa claro o que poderia mover votos de Lula para Bolsonaro: a questão religiosa, do aborto etc.

É como se houvesse duas eleições, com duas pautas diferentes:
- numa, o debate é sobre economia/emprego/esperança;

- noutra, o debate é sobre religião/aborto/"valores"/medo de fechamento de igrejas e do PT abortista.

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A economia, diz a Quaest, é o tema central da eleição para a maioria. Bolsonaro, portanto, precisaria mudar a pauta. Nesse ponto, o vídeo recente da campanha de Lula, com a Oração de São Francisco, foi muito importante. Impede que o terror religioso bolsonarista avance para além de sua bolha. Foi um movimento defensivo de longo alcance.

Lula aposta na esperança. Bolsonaro joga com o medo. A ideia de golpe, violência nas ruas, militares: tudo isso ajuda a compor um quadro de caos e insegurança que é a chance de Bolsonaro virar o jogo. 

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Bolsonaro tentará a quadratura do círculo: um candidato governista que fala como se fosse "oposição ao sistema". Tentará vender a ideia de que "está ruim comigo, mas pode ficar ainda pior com o petismo abortista".

Minha impressão: nada disso será suficiente, porque do outro lado há a lembrança dos tempos bons de Lula. Mas vai ser uma batalha suja e triste. E, ao mesmo tempo, uma conversa de surdos entre dois países que não dialogam entre si.

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