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Guilherme Scalzilli

Historiador e escritor

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Pesquisa "Sem Lula" é fraude

Boa parte dos eleitores de Lula saberá identificar o seu substituto através da propaganda gratuita e de eventos públicos, se já não o fizer pela simples repercussão do veto no TSE. A impugnação da candidatura jamais resultará na ausência completa do maior cabo eleitoral da campanha. "Sem Lula" constitui uma premissa vazia

Lula quatro dedos imagem grande (Foto: Guilherme Scalzilli)
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O destaque dado pelo último Datafolha à viabilidade de Marina Silva foi malicioso. O instituto não se esforçou de fato em medir o possível comportamento do eleitorado nos cenários mais prováveis. Os 47% que poderiam votar no indicado por Lula desapareceram na inserção de outros petistas, abrindo uma lacuna imensa no conjunto probabilístico.

Essa disparidade tem origem metodológica: basta omitir o eventual apoio de Lula aos petistas incluídos nos cenários alternativos. O entrevistado vê apenas uma lista com os candidatos em cada situação. Como não há outro estímulo nessa rodada, os índices dependem do grau de reconhecimento de nomes e rostos. E, claro, Marina supera qualquer coadjuvante.

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Mas boa parte dos eleitores de Lula saberá identificar o seu substituto através da propaganda gratuita e de eventos públicos, se já não o fizer pela simples repercussão do veto no TSE. A impugnação da candidatura jamais resultará na ausência completa do maior cabo eleitoral da campanha. "Sem Lula" constitui uma premissa vazia.

Em resumo, o Datafolha não apenas inflou as chances de Marina, mas também forjou o panorama idealizado pelo Regime Judicial de Exceção. Amenizou o alcance do lulismo e amarrou uma enquete limpa de elementos que prejudicassem a candidata ou desagradassem as cortes soberanas. Escondeu as verdadeiras notícias.

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Equilibrando os mesmos dados com uma influência verossímil de Lula (metade do potencial aferido), podemos imaginar um petista na liderança, pouco acima de Jair Bolsonaro, enquanto Ciro Gomes e Marina compartilham a terceira colocação dez pontos atrás. Não foi isso que o Datafolha quis divulgar, mas é o que seus números parciais sugerem.

O resultado soa particularmente ruim para Ciro. A pesquisa mostra que nem a neutralização artificial de Lula favorece o pedetista, complicando suas pretensões a unificador automático da esquerda. Mas ele também é prejudicado pelo silêncio em torno do eventual apoio de Lula, suficiente para tirar Marina do segundo turno (e das manchetes).

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A principal consequência da omissão é justamente negar ao PT uma base ampla de informações que norteie suas estratégias. O instituto recusa ao partido os testes que realizaria com nomes conservadores se tivessem um aliado forte impedido de concorrer. Mas não deixa de fornecer indícios sobre o eleitorado que os setores antipetistas disputarão na etapa inicial.

Acontece que a tentativa de dissimular estatisticamente a força do lulismo implica admiti-la de antemão. Se tivesse dúvida sobre a viabilidade dos planos do PT, o Datafolha buscaria submeter suas candidaturas a todas as provas possíveis. Não o faz porque sabe a resposta, como quem ignora um fato consumado para elucidar as incertezas restantes.

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Se o instituto dá como irreversíveis as chances petistas no primeiro turno e antecipa a derrota de Bolsonaro para o voto útil no segundo, o favorecimento de Marina ganha um viés curioso. Ao afirmar que ela é a única alternativa da direita moderada ao fantasma reacionário, o Datafolha antecipa o confronto de ambos. Afinal, só há uma vaga imediata a preencher.

Tudo indica, portanto, que a exposição desmedida e precoce da candidata constitui um laboratório visando a polarização decisiva da campanha. Com Lula, direta ou indiretamente, e sem Bolsonaro. Um cenário oposto àquele que serve de base para o Datafolha, revelando que seu marinismo, como de hábito, é bem menos ingênuo do que parece.

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