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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Pessoas em situação de rua ganham visibilidade no combate ao coronavírus

"Essas pessoas que 'sujavam' a paisagem por onde vocês transitavam na hora do almoço em direção aos restaurantes finos, precisam estar bem alimentadas e limpinhas. Do contrário, estarão por aí, com uma bomba de coronavírus bem guardada em seus corpos frágeis e desnutridos", escreve a jornalista Denise Assis

(Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

Ao longo dos últimos anos a população em situação de rua explodiu diante do desemprego galopante e uma economia que apenas patinou, reduzindo a cada dia a capacidade de criar postos de trabalho. Um estudo de 2016 elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a partir de dados disponibilizados por 1.924 municípios via Censo do Sistema Único de Assistência Social (Censo Suas), estimou em cerca de 102 mil pessoas esta população, naquele ano. Levando-se em conta que de 2016 em diante o número de desempregados do país só aumentou, chegando a 12 milhões em 2019, não é impossível que o número de famílias vivendo nas ruas pode ter dobrado. 

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A caminho do trabalho nas empresas, principalmente das grandes capitais, os executivos engravatados só se davam o trabalho de se esquivar do feixe de pés apontados para o céu, sob cobertores rotos, amontoados sob marquises e viadutos. A parcela invisível que se confundia com a calçada não existia em suas contas ou em suas vidas. 

Agora, com a chegada do coronavírus, esta população passou a ser “caçada”, “higienizada”, “cadastrada” e, de preferência, mantida “sob controle”. Tal como o mosquito da dengue, essas pessoas – sim, elas são pessoas - se transformaram em “vetores intermediários”, ou ameaçadores “transmissores assintomáticos”. Um perigo para os que não podem ou não querem manter a quarentena e precisam transitar pelas áreas onde eles habitam. E, assim, na condição de “ameaça”, este segmento da população teve que ser erguido dos seus cobertores e até passam na TV, espaço que jamais frequentaram. Tornaram-se “visíveis” e não podem ser deixadas para trás.

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Em discurso no Senado Federal, em fevereiro de 2019, o senador Flávio Arns (Rede-PR), defendeu a necessidade de mapeá-los e devolvê-los à “plena cidadania”. Com apoio do colega Paulo Paim (PT-RS), Arns apontou, com dados do Ipea, outra estimativa alarmante: apenas 47% da população de rua estava no Cadastro Único de Programas Sociais.

Agora, quando é preciso fazê-los existir para a sociedade alarmada com a ameaça do crescimento de contaminados, e convencê-los a manter hábitos de higiene totalmente fora das suas condições econômicas, não são poucas as dificuldades para inseri-los em programas de ajuda financeira, ou mesmo de distribuição de cestas básicas de alimentos e produtos de higiene. 

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Os que os ignoraram apressados rumo aos seus postos de trabalho, estão trancados em casa ou em carros, aos berros para que tudo volte a funcionar como antes. Esqueçam o antes. Essas pessoas que “sujavam” a paisagem por onde vocês transitavam na hora do almoço em direção aos restaurantes finos, precisam estar bem alimentadas e limpinhas. Do contrário, estarão por aí, com uma bomba de coronavírus bem guardada em seus corpos frágeis e desnutridos. E a dúvida de alguns pesquisadores é que não se sabe nem mesmo se eles podem ser responsáveis por um rebote, uma “nova onda” de contágio. Melhor cuidá-los. E inseri-los já, no Cadastro Único.

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