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Pixuleco e a democracia

O Pixuleco é o negro que labutava de sol a sol sob a vergasta impiedosa do capataz, é o quilombola que ousou sonhar com liberdade e sucumbiu sob os canhões do Estado, é cada insurgente da monarquia e da república que pereceu combatendo por justiça e igualdade

O Pixuleco é o negro que labutava de sol a sol sob a vergasta impiedosa do capataz, é o quilombola que ousou sonhar com liberdade e sucumbiu sob os canhões do Estado, é cada insurgente da monarquia e da república que pereceu combatendo por justiça e igualdade (Foto: Eder Martins)
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Nos últimos meses temos presenciado a manifestação de setores que conspiram abertamente contra a democracia. Inconformados com os resultados legítimos das urnas submetem a nação a um show de horrores e vexame internacional ao proclamar abertamente seus anseios por soluções não democráticas para a sociedade brasileira. Sem um programa coerente se expressam através de reivindicações que remetem a fórmulas autoritárias já experimentadas em nossa história, como a volta da Ditadura e da Monarquia, e manifestam abertamente o desejo de assassinar e encarcerar seus adversários políticos. Entre os bizarros símbolos de tal insensatez tem se destacado um boneco inflável, reprodução grotesca e criminosa de Lula vestido como prisioneiro. Se os artífices são poucos seu rancor é gigantesco, doze metros de ódio inflado que multiplicam e arrastam de cidade em cidade como se acreditassem que a desrazão de sua causa pudesse ser resolvida aumentado o tom de voz ou enchendo suas calúnias de vento.

Embora a torpeza e injustiça da ofensa me peguei refletindo sobre os significados mais profundos desse patético espetáculo. É preciso, inclusive para o bem da democracia, entender quem são e o que pedem. Pedem a prisão da mais importante liderança política da nação, gestor de governos que tiraram 40 milhões de pessoas da miséria e tornaram o Brasil uma potência política e econômica. Exigem tal coisa mesmo diante da inexistência de qualquer indício, e menos ainda de provas, de comportamento criminoso. A natureza do pedido esclarece a identidade de seus autores. São setores que reivindicam um direito que lhes pertenceu desde antes do surgimento da nação, o de poder usar a violência contra os pobres, ao arrepio da lei e com a participação ativa do Estado. O que desejam não é punir Lula pelo descumprimento da lei, do qual sabem que ele não é culpado, e sim algemá-lo por ter construído um Brasil menos desigual. Trata-se aqui de gente que historicamente teve no Estado o defensor de seus privilégios, o garantidor da desigualdade que permitia a exploração dos de baixo e o braço que aplicava a violência, legal ou ilegal, nos que se insurgissem contra uma sociedade brutalmente desigual. Compreendendo isto, torna-se possível perceber uma linha de continuidade que desnuda a identidade histórica das mãos que inflam o Pixuleco. São as mãos do mercador de escravo, do senhor de engenho e seus capitães do mato, as mãos que arremessavam negras grávidas ao forno para rir-se do barulho da explosão do feto, as mãos da degola de milhares em Canudos e no Contestado, as mãos do torturador de cada uma de nossas ditaduras que seviciavam e matavam os que ousassem lutar nas fronteiras da liberdade, as mãos que mesmo diante da consolidação de nossa democracia continuaram apostando na manutenção de seus privilégios e no fracasso do Brasil.

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Ao entender-se o autor chega-se ao significado da obra. O boneco não representa só Lula, ele expressa o desejo de arrastar algemado qualquer um que deseje o fim dos privilégios e um mundo mais igual. O Pixuleco é o negro que labutava de sol a sol sob a vergasta impiedosa do capataz, é o quilombola que ousou sonhar com liberdade e sucumbiu sob os canhões do Estado, é cada insurgente da monarquia e da república que pereceu combatendo por justiça e igualdade, é o trabalhador pobre e exausto que sonhou com uma vida melhor para seus filhos, é o sem terra que vagava pelas estradas da nação desejoso de um naco de terra para viver, é cada brasileiro que viu sua vida melhorar durante os governos populares do PT, o boneco do Lula somos eu e você. Finalmente o Pixuleco é o próprio Lula, retirante pobre e corajoso que ensinou aos de baixo que a solidariedade entre os oprimidos pode mudar o mundo, diminuir a miséria, promover a igualdade e semear justiça verdadeira.

Dito isto importa perceber que o boneco também expressa uma impotência e revela um progresso de nossa sociedade. A impotência é óbvia, deseja-se arrastar em correntes o verdadeiro Lula, o PT, os que participaram da construção de um país mais justo e todos os brasileiros que apoiaram nas urnas o projeto modernizador e distributivo dos governos populares que se seguem desde 2003 . Tal barbaridade é particularmente impensável em uma sociedade que cada vez mais consolida sua democracia e que deseja continuar tornando o Estado um promotor de justiça e igualdade e não um defensor dos ricos e espancador dos pobres.

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O que restou aos patetas que insistem em defender privilégios inconcebíveis em uma sociedade civilizada é a caricatura e o ridículo. Não qualquer ridículo, um do tamanho do ego inflado de seus autores, doze metros. Embora isso não devemos perceber somente a situação vexatória a que se submetem tais pessoas ao materializar símbolos políticos que expressam propostas baseadas em ódio, revanchismo e egoísmo. Está presente também, no boneco, uma manifestação brutal de intolerância pelos diferentes , o desejo de que sejam tratados a força e fora da lei. Somos cidadãos de uma sociedade democrática, a tolerância é um pressuposto fundamental da democracia. Devemos, portanto, ser tolerantes com posições políticas diferentes das nossas, por mais desagradáveis que nos pareçam. O que me pergunto é, a tolerância deve ter algum limite? A resposta me parece clara, e já a articularam outros antes de mim, a tolerância não pode tolerar a intolerância. É sempre perigoso que uma sociedade democrática permita a livre manifestação de grupos que conspiram abertamente contra Estado Democrático de Direito,pregam o assassinato e o encarceramento ilegal de seus adversários e desejam substituir o poder dos eleitores, uma maioria supostamente desqualificada, pela opinião, supostamente mais qualificada, de um pequeno grupo de desmiolados sedentos de sangue. Acredito na força de nossa democracia para superar o assédio dos mercenários e criminosos que operam fora de seus limites, mas insisto em que práticas e posições intolerantes devem ser combatidas, inimigas que são da pluralidade, da justiça, da igualdade de direitos e da própria liberdade.

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