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Heraldo Tovani

Professor, formado em História, com pós-graduação em Psicopedagogia e especialização em Psicanálise

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Politicamente correto ou corretamente político?

As opções políticas não são únicas. O liberal e o socialista, os democratas e os que defendem a volta dos militares, os comunistas e os fascistas defendem posições diametralmente opostas e antagônicas. O que é correto a um, via de regra é incorreto a outro. Vale perguntar, assim, se existe uma única postura que seria Politicamente Correta para todos, independentemente de sua posição ou crença política

Foto externa do Congresso Nacional  (Foto: Heraldo Tovani)
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O tal Politicamente Correto vem sendo atacado de todos os lados.

Quase não vemos abertamente os seus defensores, mas você certamente será olhado com desconfiança se manifestar uma opinião que não siga o preceito do Politicamente Correto. É como se ele já estivesse sedimentado no inconsciente coletivo.

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Os mil olhos do Politicamente Correto estão sempre a te vigiar, cobrar e punir.

De um lado, é importante lembrarmos que o Politicamente Correto vem na onda de afirmação das minorias que, historicamente indigentes, exigem hoje um nome de tratamento que não carregue em si os preconceitos e a intolerância com as quais a sociedade sempre os hostilizou.

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É, sem dúvida, Justo e legítimo exigir não mais ser chamado de preto, viado e sapatão. É ético e decente entendermos e aceitarmos, por nosso lado, a posição do outro em sua demanda e termos consciência do grau de preconceito que determinadas palavras carregam e as recusarmos. Não por ser Politicamente Correto, mas por ser ético.

Há, por outro lado, correntes de opinião que querem questionar, por exemplo, as cotas raciais e de gênero. Há os que questionam o movimento de afirmação feminina. Há os que são contrários a demarcação de terras indígenas, por entenderem que isto é contrário aos interesses econômicos do país e há os que chamam de mimimi quaisquer das pautas dos movimentos das minorias, como os movimentos negros, gays, feministas, entre outros.

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Politicamente Correto é um daqueles termos que carregam em si uma concordância geral. Quem é contra que alguma coisa seja correta, principalmente se essa coisa for politicamente relevante? É um termo que acaba por ser aceito pelo seu conteúdo moral e não pelo seu caráter ético ou político.

É o mesmo que ocorre, por exemplo, com o termo "Escola sem Partido". Quem é a favor da partidarização do currículo escolar? Há uma concordância geral que a melhor educação é aquela onde não haja doutrinação de nenhuma espécie.

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O problema reside não no termo, mas sim na sua vulgarização, na sua deturpação, na má intenção e na má utilização de quem o sustenta com má índole.

A polarização sobre o Politicamente Correto se dá entre aqueles que o desprezam – que não são poucos – e aqueles que se valem dele para defender seus pontos de vista. Ambos escondem intenções e se utilizam do termo para invalidar ou corroborar posições políticas. "Você está sendo politicamente incorreto!", dizem uns, "você está censurando minha liberdade de opinião", respondem outros.

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No jornal O Globo, o cronista José Paulo Cavalcanti Filho, em 07 de julho, defende que o valor fundamental da democracia, a liberdade de consciência, se opõe ao Politicamente Correto. Em sua opinião "a praga do Politicamente Correto" se configura como censura.

Luiz Felipe Pondè, professor de filosofia, afirma que "Logo criarão uma lei que proibirá as mulheres de serem bonitas em nome da autoestima das feias e proibirão os homens bem-sucedidos de terem carrões em defesa da dignidade de quem pega ônibus ou metrô. Isso se chama Ditadura dos Ofendidos".

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Como podemos ver, a questão esbarra em princípios de valores morais e éticos como a liberdade de expressão, democracia, censura e liberdade de opinião, respeito e, por outro lado, os direitos das minorias.

O que poderia ser uma afirmação de respeito ou um debate sobre reparações de erros históricos do Brasil, degenera para uma simplificação, transformando-se em simples códigos de conduta ou na melhor forma de falar e referir.

Não é velho, é melhor idade. Não é preto, é afrodescendente. Não é trombadinha, é criança em situação de rua. Não é excepcional, é especial. Não é gordo, não é gay, não é lésbica, não é...

Como se a forma de tratamento alterasse o problema e remediasse equívocos e injustiças.

O Politicamente Correto acaba sendo mais nocivo que benéfico. Mais camuflador de posições que revelador. Mais hipócrita que coerente.

O que seria Politicamente Correto para um nazista, em relação a um judeu ou a um negro? Ou ainda, é possível ser nazista e ao mesmo tempo Politicamente Correto?

Politicamente Correto? Mas, correto para qual política?

As opções políticas não são únicas. O liberal e o socialista, os democratas e os que defendem a volta dos militares, os comunistas e os fascistas defendem posições diametralmente opostas e antagônicas. O que é correto a um, via de regra é incorreto a outro. Vale perguntar, assim, se existe uma única postura que seria Politicamente Correta para todos, independentemente de sua posição ou crença política.

O Politicamente Correto busca um consenso que despreza o debate. Esconde o nosso moralismo sob o manto das boas maneiras de uma sociedade falsamente civilizada.

Se abandonarmos a hipocrisia, seremos obrigados a desprezar ou, ao menos, aceitar uma mudança do conceito de Politicamente Correto.

Aceitar sua inversão radical para verdadeiramente atender às demandas de quase todos os seguimentos e transformar o conceito moral do termo em conceito político.

Longe de Politicamente Correto, preferiremos o Corretamente Político.

E não há aqui somente uma brincadeira com termo, há, de fato, uma ressignificação.

O Politicamente Correto exige a aceitação de um "correto" pré-existente, predeterminado por uma imposição e um "politicamente" que se refere a uma conduta e não a uma construção política.

Já, por outro lado, ser Corretamente Político significa assumir que minha fala está vinculada à minha opção política. Que as posições que defendo estão vinculadas a um certo entendimento que eu tenho sobre a sociedade, a política, a cultura e a história. Significa que sei, por exemplo, que o preconceituoso expõe seu preconceito em seu discurso, independente dos termos utilizados. Sei que o problema está no preconceito, não no termo.

Enfim, não existe nada que seja Politicamente Correto. Existe o que é correto em um determinado tempo e sociedade, dentro ou fora do campo político.

Já foi correto, por exemplo, a existência dos manicômios, como instrumento da política oficial de tratamento dos chamados, à época, alienados mentais. Hoje não o é. Nem os manicômios, nem o termo que designava os seus pacientes.

A masturbação já foi considerada doença, pecado e desvio moral. Hoje já é aceita como natural, saudável e até recomendável. Cada tempo fabrica a sua moral e sua ética próprias.

Os conservadores resistem. Sempre resistiram.

Hoje resistem à afirmação da mulher na sociedade, à emancipação dos negros, à luta pela igualdade e respeito de gênero, à construção do saber independente pelos jovens e adolescentes...

Como em todas as épocas passadas, os conservadores fatalmente serão ultrapassados pela realidade. Porém, é muito importante que se manifestem, que defendam seus pontos de vista. Mas, claramente, assumidamente em suas posições, não camuflados em discursos Politicamente Corretos.

Não quero ser Politicamente Correto, escolho ser Corretamente Político!

Aquele que deixa clara a posição do que é, para ele, "correto", permite a todos os que o ouvem entenderem qual é a sua posição "política".

Isso é Corretamente Político.

 

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