Pondé, o "inteligentão"
Para Pondé, os “inteligentinhos” são de esquerda, é claro
Há 15 anos, como fez questão de nos lembrar em coluna recente na Folha (29/06/2025), Luiz Felipe Pondé criou um “conceito”: o de “inteligentinhos”. Não é difícil perceber o quanto a ambição é, no caso, inversamente proporcional à profundidade teórica.
Apenas alguém cujo ego só não é maior do que o ressentimento poderia se dar ao luxo de transformar em “conceito” o que não passa de repetição incessante do sempre igual — tal como o “eterno retorno” de Nietzsche, um dos seus escudos filosóficos.
Mas a operação não deixa de ser reveladora. Pois o “pensamento” de Pondé, como se observa em suas colunas na Folha, pode ser resumido como uma permanente denúncia do papel nefasto cumprido pelos “inteligentinhos” no Brasil e no mundo contemporâneos.
Para Pondé, os “inteligentinhos” são de esquerda, é claro. Mais especificamente, são aqueles e aquelas identificados/as com um certo progressismo cultural. São os adversários do bom senso (alô, Trump!), imunes ao ridículo que é, do ponto de vista do nosso autor, querer medir o mundo com sua própria régua, pretensamente superior à dos demais mortais.
Pronto. O espantalho, digo, o “conceito”, está feito. E é em contraste a ele que Pondé pode triunfar livremente, como se flutuasse acima dos conflitos mundanos, admirando a imbecilidade dos que, não por capricho, mas por necessidade, insistem em achar que nem tudo precisa continuar como está.
Pondé fala de lugar nenhum. Desencarnado, nem por isso ele se abstém de encarnar o ponto zero da razão — de uma razão que não hesita em negar a si mesma. Desse pedestal inencontrável, ele pode dizer tudo e seu contrário: pode fustigar a direita “burra”, o que lhe confere ares de independência, ao mesmo tempo em que investe quase todas as suas energias no desmascaramento dos supostos ressentidos e fracassados da esquerda. Em uma palavra: dos “inteligentinhos”.
Para mostrar que conhece, leitor de orelhas que é, Pondé se permite o prazer intelectualmente cínico de mencionar, de modo favorável, autores de esquerda. Não qualquer autor. Pondé costuma citar os filósofos da chamada Escola de Frankfurt, tomando-os como prova improvável de que — e disso só os lúcidos sabem — nada pode (nem deve) ser feito.
Pensar o contrário seria, no melhor dos casos, autoengano, e no pior, autopromoção deliberada. Afinal de contas, como ele gosta de dizer (as repetições são incessantes), os “inteligentinhos” não são nada mais do que marqueteiros culturais.
Como Adorno, Pondé observa o mundo a partir do “Grande Hotel Abismo”, uma imagem utilizada por Lukács para fustigar o excesso de negatividade e de pessimismo dos intelectuais frankfurtianos. Mas, à diferença de Adorno, para quem o motivo da angústia era o capitalismo, o amor de Pondé pelo desastre sem solução é suplantado pelo ódio aos que olham para a catástrofe a fim de encontrar caminhos para superá-la, buscando bifurcar um “progresso” que avança na direção do precipício.
Sintomas do mundo contemporâneo, em que só os tolos resistem ao irresistível, os artigos de Pondé são uma espécie de autoajuda às avessas: ele quer nos ensinar a nos deliciarmos com a mediocridade do mundo, transferindo o próprio ressentimento aos outros.
Pondé jamais se rebaixa ao nível dos “inteligentinhos”. Ele está acima, numa poltrona confortável e inalcançável. Ele não tem régua. Ele é a régua. É o único adulto na sala. Ele é, enfim, o nosso “inteligentão”.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

