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Homero Gottardello

Jornalista, Bacharel em Direito, Música (habilitação em “Teoria Geral da Música”) e Belas-Artes (habilitação em “Cinema”)

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Ponto de virada: Brasil fica de fora do ‘Top23’, entre os EVs

Com apenas 0,4% de eletrificação, mercado nacional está atrás de Hungria, Tailândia, Chipre, Colômbia e até da República Dominicana na transição energética

Há exatamente um ano, a Bloomberg Green estuda a curva de avanço dos EVs e suas taxas de adoção em todo o mundo. Há 12 meses, 19 países tinham ultrapassado o ponto de virada: 5% das vendas de automóveis novos (carros de passeio e comerciais leves) e, em agosto, outros cinco países (Canadá, Espanha, Hungria, Austrália e Tailândia) se juntam ao grupo que, agora, soma 23 nações. O Brasil, onde os veículos elétricos não têm mais que 0,4% de participação, com modestíssimas 3.760 unidades vendidas no primeiro semestre deste ano, infelizmente está fora deste grupo (Foto: TDK Corporation/DIVULGAÇÃO)
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O futuro do automóvel é elétrico, queiram ou não aquele seu amigo “entendido” ou seu primo que “sabe tudo de carros”. A pergunta que se faz, principalmente no ‘Terceiro Mundo’ que o Brasil encabeça, é quando isso irá se consolidar e, principalmente, se já é hora de o brasileiro virar a chave, trocando seu modelo tradicional por um EV. Na Europa, os veículos elétricos já dominam as vendas em alguns países, como Noruega (90% de participação entre os zero-quilômetro) e Suécia (60%), ao mesmo passo em que ganham cada vez mais terreno nos maiores mercados do Velho Mundo: na França, os EVs já respondem por 23,3% das comercializações; na Holanda, 38%; na Alemanha, 26%; e no Reino Unido, 24%. Nos Estados Unidos, a virada da eletromobilidade acontece num ritmo mais lento e, hoje, a participação dos EVs está na casa de 7,1%, mas, entre janeiro e junho deste ano, suas vendas cresceram 62%. “Em 2021, os modelos elétricos detinham 3,1% do mix norte-americano, fatia que subiu para 5,6%, no ano passado, e segue aumentado”, pontua o gerente de análises de transporte da BloombergNEF, Colin McKerracher. “Convencer todos os consumidores a adotarem uma nova tecnologia é difícil, no início. O forno de microondas, por exemplo, levou duas décadas patinando comercialmente para garantir presença em apenas 10% dos lares, nos EUA. Só nos anos 90 eles se popularizaram e passaram a equipar quase todas as cozinhas”, compara McKerracher.

Há exatamente um ano, outro braço de pesquisas estratégicas do grupo, a Bloomberg Green, estuda a curva de avanço dos EVs e suas taxas de adoção em todo o mundo. Doze meses atrás, 19 países tinham ultrapassado o ponto de virada: 5% das vendas de automóveis novos (carros de passeio e comerciais leves). Neste mês, outros cinco países (Canadá, Espanha, Hungria, Austrália e Tailândia) se juntam ao grupo que, agora, soma 23 nações. O Brasil, onde os veículos elétricos não têm mais que 0,4% de participação, com modestíssimas 3.760 unidades vendidas no primeiro semestre deste ano, infelizmente está fora deste grupo e, ao contrário do que o amigo e o primão tentam te convencer, isso é um péssimo sinal. Por quê?

“Quando sobrepomos gráficos com o avanço de novas tecnologias, como smarTVs, telefones celulares inteligentes e lâmpadas de LEDs, por exemplo, sua adoção segue uma curva em forma de ‘S’. Suas vendas avançam lentamente na fase inicial e, depois, mais rapidamente na medida em que vão se popularizando. No caso dos EVs, a participação de mercado de 5% é o ponto de inflexão”, afirma a analista-chefe de eletromobilidade, Aleksandra O'Donovan. “O tempo que leva para chegar a esse nível varia muito de país para país, mas uma vez resolvidos os desafios universais dos valores mais altos de aquisição, da disponibilidade de uma rede de recarga e até mesmo a desconfiança dos compradores mais conservadores, os volumes crescem mais rápido”, acrescenta ela.

Nos Estados Unidos, considerado um modelo de nação pela maioria dos brasileiros, o ponto de virada dos EVs só aconteceu no final de 2021. “Podemos dizer que a transição para a eletromobilidade se opera com atraso, nos EUA, já que o poder de compra dos consumidores não é um limitador. Mas há razões para este atraso, principalmente se levarmos em conta que os norte-americanos passam mais tempo em seus carros do que brasileiros, chineses, britânicos, alemães ou pessoas de qualquer outra nacionalidade. Isso se reflete na exigência de grandes alcances, ou seja, autonomias superiores às dos primeiros veículos elétricos. Por outro lado, as enormes picapes e os grandes SUVs, que representam mais da metade do mercado estadounidense, são os últimos modelos a serem eletrificados”, destaca Aleksandra.

Na contramão - A estimativa da BloombergNEF é que, nos próximos quatros anos, o volume comercial de 10 milhões de unidades alcançado pela soma dos híbridos plug-in (PHEVs) e dos EVs, em 2022, seja triplicado. No caso dos híbridos plug-in, considera-se a participação de 10% como o ponto de viragem, mas até nisso o Brasil chama atenção por trafegar na contramão. “Nos primeiros seis primeiros meses deste ano, foram vendidos 933.524 automóveis no país, dos quais 11.475 foram PHEVs – ou seja, 1,2% de participação. É um caso particular já que, em oposição à maioria das outras nações, o Brasil tem um mercado de EVs estagnado, que cresceu apenas 11% entre janeiro e junho, portanto, três vezes menos do que o setor (+30%) como um todo”, avalia o gerente de análises de transporte, Colin McKerracher. “Como se vê, no caso dos híbridos plug-in, as comercializações aumentaram 205% neste mesmo período, mas o que chama atenção é a fatia de veículos elétricos ter diminuído em relação ao ano passado”, complementa McKerracher.

Mesmo sem uma regulamentação aprovada para a virada eletromobilidade, parece que um segmento brasileiro começa a despertar do sono em berço esplêndido. Há três semanas, uma delegação encabeçada pelo Instituto Brasileiro de Mobilidade Sustentável (IBMS) participou do “Fórum Internacional de Cooperação Ambiental de Macau (MIECF) 2023”, na China, de olho nas mais recentes soluções relacionadas à sustentabilidade, inovação e tecnologia na área da eletromobilidade. “O MIECF 2023 nos ofereceu uma oportunidade para compartilhamento de conhecimento, discussão e parcerias estratégicas, reunindo autoridades governamentais, líderes empresariais e acadêmicos de todo o mundo”, comentou o presidente do IBMS, Ricardo Guggisberg. O grupo brasileiro visitou a fábrica chinesa do GAC, em Guangzhou, onde é produzido o Aion V Plus – um “SEV” de 4,65 metros, com mais de 240 cv de potência e autonomia de 400 quilômetros que, lá, parte de o equivalente a R$ 109 mil.

Mas ainda é muito pouco e basta uma comparação com o Chile que, mesmo lidando com o tornado político permanente e o fantasma da inflação, tem uma infraestrutura de recarga superior à do Brasil. Antes de mais nada, é importante informar que, lá, a participação dos EVs no mercado de automóveis é de 0,6% - contra 0,4%, no Brasil. Mas os chilenos estão na frente em um importante aspecto, que é a previsibilidade. Isso porque têm uma rede de recarga que perpassa os 1.150 quilômetros de distância que separam as cidades de Le Serena e de Temuco, como se os brasileiros pudessem contar com pontos de recarregamento do Oiapoque ao Chuí.

Atrás de Colômbia e Uruguai - “No Chile, é o transporte coletivo que puxa a virada da eletromobilidade. O país possui, hoje, a segunda maior frota de ônibus elétricos do mundo, atrás apenas da China, e este tipo de veículo opera em frotas, o que cria um volume capaz de desencadear a transição”, pondera a gerente nacional da subsidiária chilena da BYD Auto, Tamara Berríos. Só na capital, Santiago, a montadora chinesa tem 435 coletivos em operação – no Brasil, são apenas 30. “Os EVs vão acontecer agora, no Chile, e a Nissan está trabalhando com empresas de infraestrutura de recarga para ajudarmos neste processo”, assegura o gerente de desenvolvimento de veículos elétricos da marca japonesa, Luis Felipe Clavel. Lá, o governo acaba de aprovar novas regulações para instalação de pontos de carregamento domésticos, enquanto busca mecanismos de financiamento para táxis, o que também impulsionará a infraestrutura. “A eletromobilidade veio para ficar, na América Latina”, reafirma Clavel, da Nissan chilena.

Na Colômbia, os EVs e os híbridos plug-in já respondem por 3,1% do mercado doméstico, praticamente o mesmo percentual do Uruguai (2,9%). Na República Dominicana, os veículos elétricos fecharam o ano passado com uma fatia de 2,5% das vendas e, na Costa Rica, a participação dos EVs está em 11%. Infelizmente, temos que mostrar a verdade para o leitor e, neste sentido, o Brasil (0,4%) também corre atrás de Equador (0,7%) e Panamá (0,8%), ficando à frente apenas de Peru (0,2%) e Argentina (0,06%).

Na ponta do lápis, as vendas globais de veículos com motores de combustão interna atingiram seu pico em 2017, com o crescimento líquido do setor sendo sustentado pelos EVs, desde então – isso, o primão não te conta, porque não sabe. “Os EVs dominarão o mercado global, não importa se em cinco ou em 50 anos. Os modelos térmicos virarão peças de museu, porque os governos estão pesando na balança. Nos Estados Unidos, o governo Biden quer os EVs respondendo por metade das vendas, já em 2030. A Lei Bipartidária de Infraestruturas, de 2021, e a Lei de Redução da Inflação, de 2022, direcionam bilhões de dólares em financiamentos público e privado para tudo, desde redes de carregamento rodoviário a usinas de reciclagem de baterias”, detalha a analista-chefe de eletromobilidade da BloombergNEF, Aleksandra O'Donovan.

Prever a adoção de novas tecnologias é um negócio traiçoeiro, mas, com a proibição dos motores térmicos se avizinhando, o resto desta década será lembrado por fazer os EVs tão populares quanto um microondas.

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