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Tereza Cruvinel

Colunista/comentarista do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.

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Por que Bolsonaro e Guedes baixaram a bola em relação à Argentina

"O que houve foi uma discreta reação de empresários brasileiros contra a postura do governo em relação ao país que mais compra produtos manufaturados do Brasil, afora a complementaridade das duas economias em muitos setores", aponta a colunista Tereza Cruvinel

Militares repetem Dilma e enterram Guedes na curva do neoliberalismo (Foto: PR | Reuters)
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Foi necessária uma reação de parcela do empresariado brasileiro para que o governo brasileiro baixasse a borduna com que vinha atirando contra a Argentina, ameaçando o futuro do Mercosul e as relações comerciais entre os dois países.

Há cerca de um mês, o ministro da Economia Paulo Guedes, com apoio do chanceler Ernesto Araújo, trabalhavam num ambicioso plano de abertura da economia brasileira através de acentuada redução das tarifas de importação. Como o Brasil não pode fazer isso unilateralmente, mas só por consenso entre os quatro países membros do Mercosul, ameaçavam ora expulsar a Argentina, que mais resistira, ora deixar o bloco. O Itamaraty sofreu grande pressão de Guedes para avançar com o assunto.   Agora, nas véspera da reunião de cúpula de Bento Gonçalves, enfiaram a viola no saco e nem vão apresentar a proposta de redução tarifária para uma grande número de produtos.  A ordem agora é dizer que não se tratou de proposta mas apenas de um estudo, um esboço.

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               Por que recuaram? Não foi por um repentino apreço pela boa e velha tradição diplomática brasileira, nem pela sincera disposição, verbalizada pelo próprio Bolsonaro, de ter “relações pragmáticas” com a Argentina,  depois de uma série de agressões de ordem ideológica ao presidente eleito Alberto Fernandez.  Bolsonaro chegou a dizer que o povo argentino “escolheu mal”. Irritado porque o presidente eleito pregou o “Lula Livre”, em palavras e gestos, como o de fazer o L com a mão na fotografia da vitória eleitora,  Bolzonaro não o cumprimentou e anunciou que não iria à sua posse. Tudo isso fez o futuro chanceler argentino dizer que seu país está de luto em relação ao Brasil, pelas inesperadas agressões depois de tantos anos de aliança estratégica com resultados positivos, como a própria criação do Mercosul.

               O que houve foi uma discreta reação de empresários brasileiros contra a postura do governo em relação ao país que mais compra produtos manufaturados do Brasil, afora a complementaridade das duas economias em muitos setores. As exportações de manufaturados brasileiros para países da América do Sul caíram 23% este ano e pela primeira vez em 16 anos a balança comercial com a Argentina ficou negativa para o Brasil. Este mal resultado, hoje causado pela recessão no país vizinho, se agravaria muito com o aumento do conflito que o governo brasileiro parecia vir buscando.

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               Mais importante: Guedes e o governo não ouviram nem a indústria nem o agronegócio brasileiros, como é de praxe, antes de elaborarem a tal proposta de redução da Tarifa Externa Comum, a TEC, que se adotada sem gradualismo e modulação, prejudicaria setores importantes com a invasão de produtos estrangeiros.

Representantes da indústria usaram a velha tática, a de levar o problema ao Congresso e sensibilizar os aliados, dos quais o governo precisa para tocar sua agenda de reformas. Senadores fizeram o recado chegar ao governo, informando que o desgaste na relação com a Argentina e a insistência na imposição da redução tarifária poderia comprometer a votação dos pacotes de Guedes. Simples assim: se não pararem com isso, haverá custo político.

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O resultado foi a recente declaração de Bolsonaro sobre “relações pragmáticas”, respondida positivamente pelo futuro presidente Alberto Fernandes, que disse ter visto a declaração “com alegria”.

E também a orientação ao Itamaraty para esquecer a apresentação da proposta de redução da TEC na cúpula de Bento Gonçalves, que começa na segunda-feira, culminando com o encontro de presidentes na quinta. Menos mal.

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