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Rodrigo Vianna

Jornalista desde 1990. Passou por Folha, TV Cultura, Globo e Record; e hoje apresenta o "Boa Noite 247". Vencedor dos Prêmios Vladimir Herzog e Embratel de Jornalismo, é também Mestre em História Social pela USP. Blogueiro, integra a direção do Centro de Estudos Barão de Itararé.

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Por que Lula tem pressa?

"O presidente não quer virar um administrador da massa falida do neoliberalismo e começou o governo mais à esquerda do que em 2003", diz Rodrigo Vianna

Camilo Santana, Luciana Santos, Rui Costa, Lula e Janja (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
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Lula relançou esta semana o Minha Casa, Minha Vida - numa emocionante cerimônia no interior da Bahia. Eram casas que estavam com 95% das obras prontas, mas o desgoverno anterior segurava as entregas. Lula sabe que quem precisa de um teto tem pressa, e conseguiu articular rapidamente a conclusão das obras para entrega de mais de 600 unidades no município de Santo Amaro (BA). Outros estados (Alagoas, Maranhão, Pará, Goiás e Minas) serão logo beneficiados com a retomada do programa, que passa a priorizar famílias de renda inferior a 2.600 reais (Bolsonaro havia bloqueado essa faixa).

Na semana anterior, Lula esteve em Washington, num encontro importante com Biden, de retomada do papel internacional do Brasil. Nisso, também, Lula tem pressa.

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Antes de viajar, o presidente travou intenso debate sobre a necessidade de reduzir a absurda taxa de juros brasileira. Lula tem pressa em estabelecer as condições mínimas para retomada do crescimento.

Economistas e jornalistas liberais lembraram que em 2003, quando tomou posse pela primeira vez, Lula encontrou juros acima de 20% e, sob comando de Meirelles, o BC manteve a taxa alta por muitos meses. É fato. Em 2003, Lula não tinha a mesma pressa que em 2023. O que mudou?

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Primeiro, no começo do século XXI não havia no Brasil uma extrema-direita com base popular, disposta a invadir prédios públicos e instalar o caos em nome do “combate ao comunismo”. Lula precisa de resultados rápidos já no primeiro ano do novo mandato, para que essa base extremista não seja alimentada pela sensação de “viu, vocês votaram no bandido que prometeu prosperidade, e com Bolsonaro estava até melhor”.

Em segundo lugar, a economia mundial em 2003 vivia ainda período de relativo otimismo. Lula tinha um mundo disposto a comprar “commodities” brasileiras e alavancar nossa balança comercial. Esse desenho foi fundamental para gerar recursos que permitiram bancar programas sociais. Quando veio a crise de 2008, Lula já havia arrumado a casa e o Brasil resistiu.

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É verdade que em 2003 o consenso neoliberal ainda se impunha, sem muitas rachaduras. Agora, após a pandemia e a crise capitalista no Ocidente, Estados Unidos e Europa voltam a apostar no papel do Estado - por necessidade absoluta. Lula tem pressa em mostrar, ao que sobrou de burguesia nacional no Brasil, que o consenso neoliberal explodiu e que precisamos apostar em novo arranjo. Isso virá com a regra fiscal elaborada por Haddad, que substituirá o inoperante “teto de gastos”.

Em terceiro lugar, Lula tem pressa porque olha para os países vizinhos e enxerga os riscos de começar o mandato de forma frouxa. No Chile, Gabriel Boric nomeou metade do ministério de mulheres, adotou um discurso avançado nos costumes, mas titubeou no debate da economia e da geopolítica. E a popularidade dele – com um ano de mandato – está baixa. Lula sabe que, se aceitar o figurino “moderado”, vai virar um administrador da massa falida do neoliberalismo.  

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O presidente decidiu pisar no acelerador e fazer o debate. Governa com pressa, mas sem afobação. Lula começa o terceiro mandato mais à esquerda do que em 2003 porque há mais de 30 milhões de brasileiros à beira da fome, porque a conjuntura internacional é pior, porque a extrema direita ameaça a democracia e porque compreendeu rapidamente que o modelo neoliberal, que vem desde os anos 1990, morreu com a pandemia e a Guerra da Ucrânia.

Lula é talvez um dos principais artífices, no mundo, de um novo modelo de governança que os setores democráticos e progressistas ainda tentam construir. A social democracia europeia está cambaleante. Sobrevive na Espanha, em Portugal, na Alemanha. Mas com muitas limitações. O presidente brasileiro será mais um integrante desse bloco envelhecido? Ou será o líder de uma nova social democracia, de um novo trabalhismo?

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As primeiras medidas e os primeiros posicionamentos do governo apontam para a segunda hipótese. Lula tem razão em pisar no acelerador. Há um bloco neofascista a derrotar: no Brasil, na Europa e no mundo. E tudo isso acontece enquanto a China dá sinal e pede ultrapassagem pela esquerda – alinhada à Rússia, por sua vez enredada numa guerra de consequências desastrosas.

É um mundo perigoso, muito mais perigoso do que em 2003. Mas um mundo com mais oportunidades para quem for capaz de agir com alguma ousadia.

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Por isso, Lula tem pressa!

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