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José Reinaldo Carvalho

Jornalista, editor internacional do Brasil 247 e da página Resistência: http://www.resistencia.cc

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Por que Netanyahu ainda não executou a anexação da Palestina

Entre a estratégia dos sionistas no poder em Israel e sua realização interpõem-se a luta do povo palestino, a solidariedade internacional e as contraditórias circunstâncias políticas, escreve o jornalista José Reinaldo Carvalho, editor internacional do Brasil 247

(Foto: Reuters)
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Por José Reinaldo Carvalho, do Jornalistas pela Democracia - Quem acompanha a evolução dos acontecimentos no Oriente Médio, especialmente aqueles que apoiam a luta do povo palestino pela libertação nacional e a fundação do seu Estado soberano e independente, se pergunta se o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, desistiu do plano de anexação da Cisjordânia aguardado para o início do mês. 

O anúncio foi feito reiteradas vezes durante as três campanhas eleitorais em menos de um ano entre 2019 e 2020 e reafirmado em janeiro último, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, revelou o chamado Acordo do Século, também designado como "plano de paz". Como temos afirmado neste espaço em diferentes ocasiões, a proposta de Trump não é um acordo nem muito menos um plano de paz. 

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Aqui importa responder por que Netanyahu não oficializou em 1º de julho a anexação da Cisjordânia e se isso representa um recuo, uma mudança de planos estratégicos dos sionistas no poder. 

Por enquanto, uma confluência de circunstâncias atuou como anteparo à ofensiva do primeiro-ministro israelense. 

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Os palestinos, através da sua Autoridade Nacional (ANP) e da Organização pela Libertação da Palestina (OLP), reconhecida internacionalmente como representante legítima do povo, responderam em termos enérgicos. Valeram as manifestações de massas nos territórios palestinos e também em Tel Aviv e a posição política firme da ANP, que mantém suspensos os compromissos com Israel e acesa a resistência. É inarredável a decisão de fincar pé no território e insistir nas históricas bandeiras de luta: independência, criação do Estado nacional nas fronteiras anteriores a 1967, com capital em Jerusalém Leste, e retorno dos refugiados. 

Fato auspicioso, o Fatah (Movimento de Libertação Nacional da Palestina) e o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) anunciaram um acordo para fazer oposição unida contra o projeto de anexação israelense da Cisjordânia ocupada. A última vez que as direções das duas organizações tinham se reunido foi no início do ano. "Vamos implementar todos os mecanismos para garantir a unidade nacional" contra o projeto israelense, afirmou o secretário-geral do Fatah, Jibril Rajub. "Afirmo que a posição da direção do Hamas é pelo consenso nacional. Esta entrevista coletiva conjunta é, por sua vez, uma oportunidade de iniciar uma nova etapa a serviço do nosso povo neste momento perigoso", disse Saleh al-Aruri, falando pelo Hamas

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O Fatah é a força dirigente da OLP e da ANP e exerce o poder na Cisjordânia. O Hamas controla a Faixa de Gaza. Ambos os partidos rivalizam pela hegemonia, mas têm como traço de união a luta comum pela libertação nacional do povo palestino.  Resguardadas as suas diferenças ideológicas e de linha política, distintas concepções estratégicas, táticas, de métodos e formas de luta, sabem que a vitória da causa palestina contra inimigos tão poderosos como os agressores sionistas e o imperialismo estadunidense depende da unidade nacional. 

A ofensiva israelense para anexar os territórios palestinos ocupados ilegalmente e pela força empurra os dois partidos para o entendimento.  

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A unidade palestina e a renovada disposição de resistência e luta constituem um aviso importante para o governo israelense, resultante de uma frágil e instável coalizão, formada entre o partido Likud do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o Azul e Branco de Benny Gantz.  

Embora a anexação da Cisjordânia por Israel esteja contemplada nos planos de Trump, este não está em condições de socorrer agora sua cabeça de ponte no Oriente Médio. 

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A Casa Branca é assediada por todos os lados. Pelo movimento antirracista e social que expõe ao mundo as mazelas de uma sociedade decadente e o mal-estar resultante das políticas antissociais vigentes. Pelo descontrole da pandemia de Covid-19, com a vergonhosa desídia do governo Trump, outro fator que manieta temporariamente as ações do mandatário. Pelas pesquisas eleitorais, que começam a apontar a possibilidade de derrota do republicano, o que não deixa de repercutir no governo israelense. Trump sabe que o plano de anexação da Cisjordânia pode custar caro aos seus interesses eleitorais.

Assim, a "oportunidade histórica" como se expressou Netanyahu no momento da proclamação do "acordo do século", pode não ter sido criada em sua plenitude. O momento internacional não é tão favorável para que os sionistas realizem planos maximalistas. De imediato, eles podem ser obrigados a deixar em suspenso o roteiro traçado para uma nova agressão ao povo palestino e uma ameaça tão flagrante à estabilidade regional e à paz mundial. 

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Para além destas circunstâncias, o anúncio da anexação da Cisjordânia, que viola o Direito Internacional, foi alvo de uma saraivada de críticas do secretário-geral da ONU, do Vaticano e mesmo de líderes europeus, que temem a eclosão de novos confrontos armados e não estão dispostos a se somar às ações aventureiras. A tal ponto que a União Europeia chegou a discutir a imposição de sanções contra Israel se consumar a anexação da Cisjordânia. 

No mundo árabe, também foi forte a oposição aos planos anexionistas, pelo pronunciamento da Liga Árabe. 

Uma reação negativa tão generalizada contra as pretensões do regime sionista explica por que Netanyahu não levou adiante, por enquanto, o plano anexionista. 

Isto não significa que tenha desistido dos seus desígnios de dominação, anexação e genocídio na Palestina, que constituem a essência de sua estratégia. 

Entre essa estratégia e sua realização, contudo, interpõem-se a luta do povo palestino, a solidariedade internacional e as circunstâncias políticas. 

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