Por que o Jesus preto incomoda tanto?

Putin faz um pronunciamento mundial, em plena sexta-feira Santa, onde apresenta ao mundo, coleções entre obras de arte e bíblias de mais de 1.700 anos, contendo, o que na verdade todos sabem, mas muitos repudiam; um Jesus preto. Um Jesus de pele morena, um Jesus Mouro, enfim, um Jesus preto. Um anúncio feito justamente no feriado católico mais importante, onde por volta do ano de 1500 D.C. Policarpo foi para Roma, representando os cristãos, para discutir com o Papa Aniceto sobre a data da Páscoa, tal a importância do tema.

Se você minimante, esquece seu entendimento da fé e tenta abordar de forma racional a questão, vai aceitar que um nascido do Oriente médio, norte da África, tem a tez mais morena.  Porém, isso mostra mais do que a obviedade que não se trata de realidade histórica, mas sim de dominação. Aceitamos a imagem de Jesus de rosto europeu, cabelos compridos e tez clara. Como na pintura de Warner Sallaman de 1940 ou a imagem de um Jesus loiro de olhos azuis pintado por Miguel Ângelo, supostamente baseado em seu amante  Tommaso dei Cavalieri. O mais correto, seria a reconstrução histórica feita por Richard Neave em 1943, retratando um Jesus mais apropriado, moreno.

A própria construção da figura de Jesus foi manipulada ao longo dos séculos. A história do Mestre em várias passagens tem semelhanças com outras divindades e personagens mitológicos mais antigos e mais respeitados para a época. O nascimento virginal, ressureição e ensinamentos estão presentes nas histórias de Hórus no Egito, Mitras na Pérsia e Krishna na Índia. Muito se aproveitou das narrativas mais populares, para a construção da figura de Jesus, o que não invalida os feitos e passagens das parábolas do Mestre. Hórus, por exemplo, teve doze apóstolos, nascido anunciado por uma estrela, visitado por três homens sábios e morreu na cruz. E não para por aí. Para o Cristianismo se tornar dominante, era necessário essas adaptações.

Nossa bíblia, que tem origem europeia, tem diversas alterações seculares, montadas por gerações com interesses em domínios. Logo no início, se apoderaram da imagem de Apolo com a coroa solar, para construção dessa primeira imagem. Tanto que nas catacumbas romanas, o Mestre é retratado como Deus solar. Jesus, o bom pastor, foi retirado das imagens do deus Hermes, do século V antes de Jesus. 

A ideia de Putin é expor para todos, principalmente para seus aliados, africanos e sul-americanos, como o imperialismo se faz presente não apenas com intervenções físicas, mas também visuais. Para ele é importante que haja mais aliados, além da China. Hoje, Europeus e americanos estão em crise financeira e todo o eixo dos Breaks está em ascensão. Dez anos atrás, conseguiu desarticular essa união com guerras em solo africano, disputa direta com chineses e russos pelo mercado mundial e instalando núcleos da extrema direita, ligadas ao jurídico para desestabilizar sul-americanos.

A verdade é que russos e chineses estão implementando um mundo mais multipolar, mais franco para todos e não apenas para a imagem europeia. O problema das novas lideranças mundiais, que enfrentam um mundo polarizado é que as narrativas fazem parte da nova guerra, sem necessidade de armas ou balas. Só resta a narrativa. Os americanos vulgarizaram a ideia de Nixon que falava que o “governo não soluciona, o governo é o problema” e que “todos somos Keynesianos agora”.

Devemos lembrar que Nixon estava errado e que o embate atual é econômico e não é uma discussão de fé. Assim como as imagens de divindades afros não são usadas na Umbanda, apenas as energias de suas linhas, Jesus deve ser sentido. Enquanto houver Jesus no coração de todos, não haverá conflitos.