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      Urariano Mota

      Autor de “Soledad no Recife”, recriação dos últimos dias de Soledad Barrett, mulher do Cabo Anselmo, entregue pelo traidor à ditadura. Escreveu ainda “O filho renegado de Deus”, Prêmio Guavira de Literatura 2014, e “A mais longa duração da juventude”, romance da geração rebelde do Brasil

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      Por que o ódio a Jesus?

      No sábado da semana que passou, fui abordado de modo abusivo, insistente, diante de sinal de trânsito. Um grupo de evangélicas me incomodou com a exigência de eu receber um panfleto da sua igreja. Mas de um modo tão antipático, que me deixou em dúvida se aceitaria o impresso.

      No sábado da semana que passou, fui abordado de modo abusivo, insistente, diante de sinal de trânsito. Um grupo de evangélicas me incomodou com a exigência de eu receber um panfleto da sua igreja. Mas de um modo tão antipático, que me deixou em dúvida se aceitaria o impresso. 

      Em condições normais, eu não vacilaria. Leitor que sou da Bíblia, tenho curiosidade em saber quais versículos são distribuídos para a doutrinação de pessoas. No entanto, a forma com que me empurravam o folheto, que se tivesse cola ficaria pendurado em minha mão, me fez recusar em silêncio e atravessar a rua. Para quê? Ouvi gritos: 

      - Jesus te ama!!! 

      Então respondi, num impulso: 

      - Eu odeio Jesus!

      E já na outra margem, pude ouvir: 

      - Amém. Aleluia!

      Mas tanto o Aleluia quanto o “Jesus te ama” foram ditos com voz de raiva, de quem roga uma praga. Acredito mesmo que se a frase evangélica tivesse poder concreto, faria acionar um motorista louco sobre mim. De tanto amor à minha morte e salvação. 

      Já depois, ao tomar uma cerveja, o desejo das irmãs fazia eco. Eu me perguntava: será que a maldição vai se cumprir já? E mais grave, me pergunto agora: por que eu, tão religioso na infância, amante das histórias e forma do Velho Testamento, simpatizante da vida de Cristo, como pude falar na rua do bairro onde moro, “ eu odeio Jesus” ?

      É claro que nisso há razões subjetivas, que vêm também como uma libertação. Mas não sou louco de me abandonar em público à expressão de pensamentos mais íntimos. Não escrevo literatura em voz alta. A razão é objetiva, social. Ela vem da organização política que o Brasil sofre hoje, em que certas igrejas evangélicas apoiam o fascismo e o atraso de Bolsonaro. 

      A razão vem do quanto evangélicos infestam o congresso, a mídia, os bairros populares, com a sua pregação de atraso, de raiva contra a ciência e as artes. Se essas igrejas são Jesus, não pode haver paz entre os amantes da humanidade e evangélicos. 

      Há pouco, num acréscimo às chamadas razões objetivas, recebi a notícia de que milhares de pessoas participaram de ato evangélico em São Paulo. E pude ler: 

      “Nas imediações, um vendedor de camisetas colocou um totem com uma foto em tamanho real de Bolsonaro com a faixa de presidente. Participantes tiraram fotos —alguns faziam gesto de arma com os braços, outros faziam um coração com as mãos.

      Declarou um empresário: ‘é importante Bolsonaro vir para esta marcha e mostrar que Deus é quem comanda o governo dele’ ”. 

      Para esses evangélicos, Cristo encarna o próprio anticristo, na medida em que nega o amor universal e se mistura aos perseguidores, na pior companhia e cia. Jesus entrou para a direita. Por isso, não perguntem mais por que um homem, qualquer homem de formação cristã, fala: eu odeio Jesus. 

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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