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    Bepe Damasco

    Jornalista, editor do Blog do Bepe

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    Povo grego diz não à agiotagem

    Que aprenda uma certa parcela sectária da esquerda que, no Brasil e ao redor do mundo, já atirava pedras no líder grego porque ele se dispunha a negociar em busca de uma saída para a sua pátria e para a sua gente

    Que aprenda uma certa parcela sectária da esquerda que, no Brasil e ao redor do mundo, já atirava pedras no líder grego porque ele se dispunha a negociar em busca de uma saída para a sua pátria e para a sua gente (Foto: Bepe Damasco)

    Contrariando os institutos de pesquisa, que até nas sondagens de boca de urna indicavam uma disputa acirrada entre o sim ao mercado financeiro internacional e o não em defesa da soberania grega, o plebiscito realizado neste domingo, 5 de julho, terminou com uma consagradora vitória do não, com mais de 60% dos votos.

    O resultado é uma lição para a Troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e FMI), que a partir de agora será forçada a entender que seu poder tem limites.Que ela pode muito, mas não pode tudo. Especialmente quando está em jogo a dignidade de uma nação. 

    A decisão da República Helênica também abre um precedente alvissareiro para todos os países garroteados pela banca internacional, cujas finanças públicas são reféns de uma concepção rentista que sacrifica o presente e o futuro de milhões de seres humanos no planeta.

    A população grega apontou um novo caminho. Com sua decisão histórica de hoje, disse ao mundo que prefere enfrentar de forma soberana todas a dificuldades que certamente lhes serão impostas pelos seus principais credores - os bancos alemães e franceses e pela cúpula da Comunidade Econômica Europeia- do que se curvar a interesses de governos neoliberais e de bancos.

    Não faltarão retaliações políticas também da poderosa mandachuva dos países da Zona do Euro, a chanceler alemã Angela Merkel. Não importa. O povo grego, ao optar por tomar nas suas mãos as rédeas da história e assumir o protagonismo do seu destino, há de encontrar a saídas adequadas à gravidade do momento.

    E o primeiro-ministro helênico Alexis Tsipras, do partido de esquerda Syriza, não só honrou seus compromissos de campanha em defesa da soberania grega, como o fez da forma mais radicalmente democrática. O governo grego está à altura de um dos maiores desafios da história de um dos berços da nossa civilização.

    Convocar um plebiscito em uma semana, conclamando o povo a decidir se aceitava cortar ainda mais direitos sociais em nome do pagamento de uma parcela bilionária da dívida, revela que o governo grego é chefiado por um estadista de alto nível.

    Que aprenda uma certa parcela sectária da esquerda que, no Brasil e ao redor do mundo, já atirava pedras no líder grego porque ele se dispunha a negociar em busca de uma saída para a sua pátria e para a sua gente.

    Uma liderança como Tsipras faz muito bem à esquerda mundial, na medida em que mostra que se o esquerdismo faca nos dentes não leva a lugar algum, tampouco a rendição à lógica do capital pode lavar à melhoria da vida do povo.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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