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Pedro Simonard

Antropólogo, documentarista, professor universitário e pesquisador

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Povo nas ruas e a imprensa reage contra

A oposição a Jair Bolsonaro colocou mais de 400 mil pessoas Brasil afora em atos em defesa da vida, pela vacina e pelo impeachment do presidente

(Foto: Reprodução)
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Dia 29 de maio marcou a volta do povo às ruas. A oposição a Jair Bolsonaro colocou mais de 400 mil pessoas Brasil afora em atos em defesa da vida, pela vacina e pelo impeachment do presidente.

Movimentos sociais diversos – LGBTQI+, movimento de favelas, torcedores antifascistas, partidos políticos, entre outros – foram às ruas com suas faixas, bandeiras, palavras de ordem e reivindicações. Ninguém proibiu bandeiras de partidos, ninguém pediu a volta da ditadura, ninguém defendeu a cloroquina nem levantou faixas contra a vacina.

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Manifestações muito grandes foram vistas em várias cidades brasileiras.

A pressão nas ruas deve aumentar à medida em que a vacinação aumente, a CPI do Genocídio divulgue mais ações genocidas do governo Bolsonaro e as manifestações pró-Bolsonaro também ocorram. Está sendo divulgado nas redes sociais um novo ato com motociclistas a favor de Bolsonaro em São Paulo, no dia 12 de junho. 

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Em Recife, as forças policiais já demonstraram que estarão ao lado do presidente genocida e farão de tudo para tumultuar. Se esta prática irá se repetir Brasil afora nas próximas manifestações, dependerá das ações tomadas pelo governador do estado, Paulo Câmara (PSB). Se ele conseguir enquadrar e punir os responsáveis pela repressão desmedida a uma manifestação pacífica, isso poderá reverberar positivamente para os outros estados.

No Rio de Janeiro, a polícia controlada pelo governador bolsonarista Claudio Castro não causou tumulto e o ato terminou de maneira pacífica. 

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As manifestações demonstraram que as bases dos trabalhadores estão dispostas a atropelar as direções partidárias e fazê-las se mover. Muitos dirigentes de partidos quiseram boicotar os atos do dia 29 de maio em nome da não aglomeração durante a pandemia. Só se decidiram apoiar as manifestações no último minuto ao perceberam que os trabalhadores ocupariam as ruas independentemente dos partidos. Talvez a lembrança das consequências da inércia dos partidos de esquerda durante as movimentações de 2013 e 2014 tenha dado um solavanco nas direções partidárias e feito com que estas se movessem: “e pur si muove!” Como bem esclareceu um cartaz em uma das muitas manifestações ocorridas ultimamente na Colômbia “se o povo vai para a rua durante uma pandemia, é porque o governo é mais letal que o vírus!”.

As pesquisas eleitorais mostram o crescimento constante no percentual de eleitores dispostos a votar no ex-presidente Lula, mas ainda indicam que há por volta de 45% de indecisos. Setores da oposição se deixam impressionar pelo percentual de indecisos e começam a defender que Lula se una ao centro para derrotar Bolsonaro. Não dá para entender este medo neste momento da conjuntura política. As esquerdas voltaram a ocupar as ruas em grande estilo. Nem o mais otimista esperaria manifestações tão numerosas, reunindo tantas pessoas.

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Lula vem crescendo nas pesquisas justamente em um cenário polarizado. A imprensa corporativa não se cansa de acusá-lo de polarizar e radicalizar politicamente e, mesmo assim, o percentual de eleitores que dizem que votariam nele em 2022 não para de aumentar. Agora é o momento de avançar o máximo que for possível até encontrar algum tipo de resistência, se e quando esta reação ao nome de Lula ocorrer. Não é o momento de solicitar moderação e que Lula procure o centro. Não faz sentido pôr o pé no freio sem que haja no horizonte alguma ameaça concreta como, por exemplo, Bolsonaro parar de perder apoio e voltar a ter seu governo bem avaliado, freando o crescimento de Lula. A conjuntura política está polarizada, favorável à esquerda e é o momento de aproveitá-la. A tendência é que trabalhadores e movimentos sociais aumentem suas manifestações políticas públicas, pressionando ainda mais o governo. 

Bolsonaro está acuado pelas revelações da CPI do Genocídio, pelos mais de 100 processos de impeachment protocolados na Câmara dos Deputados, o que o fragiliza e aumenta o preço do resgate pedido pelo Centrão para apoiá-lo. Está acuado pela crise aberta por ele mesmo com o exército ao colocar o general Pazuello no alto do trio elétrico durante o “motoraço” no Rio de Janeiro no último dia 23 de maio. A queda de braço entre ele e o exército está atrasando a punição de Pazuello. A tendência é que o Bolsonaro tenha que aceitar alguma punição ao general que serviu como seu títere durante tanto tempo.

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A direita e o centro esperam, ansiosamente, que o aumento de pessoas vacinadas permita a retomada de empregos e gere algum crescimento econômico. A imprensa corporativa já deu o tom da manipulação. O Globo e o Estado de São Paulo esconderam as manifestações de suas primeiras páginas, substituindo-as por vagas notícias sobre melhoras na economia. A Folha de São Paulo expôs as manifestações em sua primeira página. Em troca, publicou uma reportagem morna onde procurou fazer malabarismo para tratar dos atos. É o que lhes resta neste momento. Os candidatos de centro, a tal terceira via tão desejada pelos neoliberais, não decolam. Noticiar que as esquerdas e parte da oposição conservadora voltaram às ruas significa reconhecer que o projeto defendido pela imprensa corporativa é impopular, recessivo e genocida e que, a continuar neste levada, será derrotado muito em breve.

A TV Record, controlada pela Igreja Universal do Reino de Deus, fez malabarismo para noticiar as manifestações. Em tuíte alegou que o povo ocupou as ruas em grandes manifestações em defesa do auxílio emergencial.

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No domingo, 30 de maio, o sociólogo Luiz Eduardo Soares publicou coluna no Brasil 247, na qual ressalta que a falta de uma terceira via mais “cheirosa” pode levar a direita a compor com Bolsonaro. Seria uma tentativa de domar o tosco genocida e criar um Bolsonaro sem bolsonarismo. Opção complicada porque obrigaria forças antagônicas no campo da direita a se reaproximarem. Bolsonaro já ameaçou a imprensa corporativa diversas vezes e esta vem batendo no genocida, enquanto busca construir um candidato palatável. Se isto não for possível e a “ameaça Lula” tornar-se mais real, o pragmatismo próprio da direita pode levá-la a compor com Bolsonaro, segundo escreveu o sociólogo.
Ainda resta muito tempo para as eleições presidenciais. Os movimentos sociais voltaram às ruas para pressionar Bolsonaro. A conjuntura é propícia para marcar posição e expor as diferenças entre um projeto de país popular-nacionalista, defendido pelas esquerdas e setores nacionalistas do centro, e o projeto impopular e entreguista dos neolis e dos neofascistas. As esquerdas precisam mostrar claramente que são elas que defendem os direitos dos trabalhadores e dos despossuídos; que são as esquerdas que defendem os empregos; que defendem a indústria nacional; que defendem a saúde pública, gratuita e de qualidade; são as esquerdas que defendem o ensino público, gratuito e de qualidade, além da ciência.

Se em algum momento a oposição de esquerda perceber que este projeto precisa ser mitigado para atrair o centro, aí será a hora de pensar nisso. Na conjuntura presente, a aliança com o centro mostrará incompetência e covardia.

P.S.: Precisamos defender uma reforma constitucional que substitua o impeachment, instrumento utilizado pela burguesia neocolonial para retomar o controle do poder, pelo recall, instrumento que coloca nas mãos do povo a destituição daqueles que ele mesmo elegeu.

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