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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Pra Frente Brasil – um primeiro de abril histórico

"A demissão de Amorim da presidência da Embrafilme - agência de fomento à produção do Cinema Brasileiro-, é um episódio histórico, a demonstrar que mesmo em pleno processo de 'abertura' política, iniciado por Ernesto Geisel era preciso estar atento e forte", escreve a jornalista Denise Assis, ao relembrar episódio envolvendo o ex-chanceler Celso Amorim durante a Ditadura Militar

(Foto: Divulgação)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

O confinamento da quarentena tem propiciado balanços de vida e lembranças. Hoje cedo o ex-chanceler e embaixador, Celso Amorim, recuperou o seguinte fato, relativo à data: “Hoje completam-se 38 anos da minha demissão da Embrafilme, em função do filme “Pra Frente Brasil”, dirigido por Roberto Farias e financiado pelo órgão que eu presidia. Um soluço da abertura lenta e gradual...”

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Longe de ser apenas uma reminiscência pessoal, a demissão de Amorim da presidência da Embrafilme - agência de fomento à produção do Cinema Brasileiro-, é um episódio histórico, a demonstrar que mesmo em pleno processo de “abertura” política, iniciado por Ernesto Geisel, o penúltimo general a ocupar o posto da presidência, (seu sucessor e último foi João Figueiredo), era preciso estar atento e forte. Tal como o programa de sucesso na TV, a “Discoteca do Chacrinha”, a ditadura “só acaba quando termina”. É assim, como nos dias de hoje, uma novela intermitente, que guarda sobressaltos a cada minuto.

“Pra frente Brasil”, com direção de Roberto Farias - que também dividiu o roteiro com Paulo Mendonça e teve seu irmão, Reginaldo Farias, como ator, foi o primeiro filme a denunciar abertamente a tortura institucionalizada como uma política de Estado. Antes mesmo de vir à tona a história da Operação Bandeirantes (OBAN) - um grupo de empresários dispostos a financiar os aparatos e equipamentos da tortura -, cujo cenário era o DOI-CODI paulista. Ali, Brilhante Ustra, aquele torturador, aclamado pela cúpula do governo atual, dirigia os suplícios em que o resultado, em muitos casos, veio a ser a morte e o “desaparecimento”.

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No filme de Farias, após ser confundido com um ativista político, um pacato cidadão, Jofre, da classe média, é preso e torturado por agentes federais durante a euforia do milagre econômico brasileiro e da Copa do Mundo de 1970. O título foi inspirado na letra do hino – de autoria de Miguel Gustavo -, que empurrou a seleção brasileira rumo ao Tri, em 1970. Ao mesmo tempo, uma ironia com a economia de um país que patinava nos estertores da ditadura. Naquele ano, o de 1982, o Brasil devia as calças e 80% de suas importações era de petróleo. Desde 1978 o país fechava a balança comercial no vermelho e corria o risco de ficar sem combustível, por não ter fôlego para continuar arcando com as importações.

Corajosos, tanto o diretor, Roberto Farias, quanto o presidente da Embrafilme de então, Celso Amorim, bancaram a produção e o lançamento, pensando ser séria a ameaça de Figueiredo, escolhido por Geisel como seu substituto para afiançar a abertura. Figueiredo levou o dever de casa tão a sério que cunhou a célebre frase: “É para abrir mesmo. E quem quiser que não abra eu prendo e arrebento. Não tenha dúvidas”. 

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O ex-chanceler, Celso Amorim, foi nomeado no cargo em 1979. A sua indicação foi uma clara demonstração da abertura “lenta, gradual e segura” do regime, já que Amorim havia trabalhado com diretores considerados “subversivos” pelo governo. 

Em 1982, com a chegada aos cinemas do filme “Pra Frente Brasil”, que tem cenas de prisões, torturas e um personagem identificado com o delegado Sérgio Fleury, o próprio Figueiredo levou o caso para reunião de ministros. O encontro gerou este documento, (emitido pelo SNI), que ainda lista nomes de cineastas que não poderiam ser cotados como candidatos ao cargo por envolvimento com a “esquerda”. O ex-chanceler registrou o episódio de sua saída no livro “Por uma questão de liberdade – Ensaios sobre Cinema e Política”. E, na época de sua “saída”, exatamente quando a ditadura completava 18 anos, em entrevista à Folha de São Paulo, ironizou: “Completou 18 anos, mas não atingiu a maioridade!” 

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A demissão de Celso Amorim, como presidente da Embrafilme mereceu do jornalista Carlos Castelo Branco, o seguinte comentário: “a Embrafilme procurou alargar os espaços da abertura” e completou: “Seu Diretor Geral, Celso Amorim, não foi compreendido”. Como descreve hoje, Amorim, sorte sua que ele “já estava a servir  na Holanda. (Arquivo Elio Gaspari)

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