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Nêggo Tom

Cantor e compositor.

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Pra tudo recomeçar na quarta-feira

Sem dúvida o carnaval é uma festa que faz parte da nossa cultura. E como a nossa cultura também tem a função de alienar, ele cumpre bem esse papel

Sem dúvida o carnaval é uma festa que faz parte da nossa cultura. E como a nossa cultura também tem a função de alienar, ele cumpre bem esse papel (Foto: Nêggo Tom)
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O Carnaval chegou ao fim e o ano de 2015 finalmente está começando. É hora de pegar as chaves da casa de volta das mãos de momo e recolocar no lugar o que ele, com sua folia bagunçou. Mas será que dá para repor o que o reinado momesco consumiu?

A festa da carne e suas liberalidades são realmente fascinantes. É mais ou menos um período de expurgo da moralidade, onde vale tudo e pode tudo em nome da alegria. Mas que alegria?

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De onde vem essa felicidade quase insana dos foliões? Um trecho da música "Mucama" do grupo Cidade Negra resume "ilustra" um pouco o que eu estou querendo dizer. Diz assim: "O que se espera de uma nação que o herói é a televisão? Que passa todos os seus meses mal. Melhora tudo no carnaval. Dá pra brincar, dá pra comemorar, só não se sabe muito bem por que. Entrou de cara na realidade. Na quarta-feira que eu quero ver". Exatamente assim. Comemora-se, festeja-se, bebe-se até cair, transa-se com quem der na telha, droga-se e depois....E depois?

Sem dúvida o carnaval é uma festa que faz parte da nossa cultura. E como a nossa cultura também tem a função de alienar, ele cumpre bem esse papel. Gostar de carnaval não significa desconhecer os seus malefícios a sociedade. É como o fumante e o cigarro. O cara sabe que faz mal, mas ele gosta. Eu gosto. De carnaval. Cigarro eu detesto com todas as minhas forças. Não sou folião, mas curto o desfile das escolas de samba. Acho de uma riqueza cultural enorme. Não perco uma apuração. Marco as notas dos quesitos na tabelinha. Fico indignado quando tiram pontos da bateria do meu Salgueiro. Como músico, sou fascinado por sambas-enredos. Os bons, é claro! Digo isso porque ultimamente os sambas enredos estão perdendo a dinâmica. Quase não se vê mais aquela explosão no refrão. Mas isso é outro assunto.

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O papo aqui é tentar entender de onde vem a alegria, principalmente do povão, durante o carnaval. Que razões temos para festejar durante cinco dias se vivemos num país onde o salário mínimo vale R$ 788,00, e com essa quantia você não compra nem uma fantasia pra desfilar na ala dos bobos da corte da G.R.E.S Sabe de nada inocente? Que razões temos para festejar durante cinco dias se não temos sequer leitos nos hospitais públicos para tomarmos glicose na veia e curar o "nosso" porre ou talvez a nossa ressaca moral? Que razões temos para festejar durante cinco dias se centenas de crianças estão sem professores e sem merenda escolar em muitas das escolas públicas do país e depois querem que elas saibam escrever uma redação decente no Enem? Que razões temos para festejar durante cinco dias se não temos um transporte público de qualidade para nos levar para casa após um dia estressante de trabalho ou após uma maratona de felicidade nos blocos carnavalescos da vida? Que razões temos para festejar durante cinco dias se não temos segurança para impedir que nossas carteiras sejam batidas por foliões menos evoluídos que se infiltram no meio da nossa festa? Que tantas razões e motivos se têm para festejar se não temos sequer perspectivas de melhorias para os quesitos citados? Estamos realmente festejando o que? A nossa liberdade ou a nossa escravidão eterna perante o sistema?

Ao contrário do que tentam nos fazer acreditar, a festa não é do povo. Nós não somos os protagonistas dessa novela. Nós não estamos numa comissão de frente ensaiada por Carlinhos de Jesus que abre o desfile pomposa e organizadamente e é admirada por quem assiste. Nós estamos em cima de um frágil carro alegórico feito de isopor que quando resolve pegar fogo, estraga o desfile, faz perder pontos em evolução e causa um enorme prejuízo à escola. E ainda levamos a culpa quando isso acontece. E por que ainda levamos a culpa? Porque não sabemos evoluir juntos. Porque atravessamos o samba, com cada qual querendo cantar a sua maneira ou no tom que melhor se adéqua a sua voz, sem se importar com o conjunto. Porque cada um quer ter mais destaque do que o outro na comissão de frente. Porque vivemos de alegorias e nos iludimos com os adereços. Porque a nossa bateria não pulsa no mesmo ritmo e as divisões quebram o bom andamento da melodia. Por essas e outras é que a nossa porta-bandeira é a miséria e o nosso mestre-sala é a corrupção.

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Voltando à música do Cidade Negra, outro trecho dela e já com a participação do Gabriel, o pensador, diz assim: "Na quarta-feira é a volta pra realidade que arde. Acaba a comemoração apaga a televisão pra não gastar eletricidade". E mais a frente ele finaliza:

"Não é só a quarta-feira que é de cinzas, na verdade é a semana inteira. Quinta, sexta, sábado, domingo e segunda. E o povo mucama continua sorrindo, levando nas coxas, levando na bunda. Mas não faz mal porque depois melhora tudo no 'próximo' carnaval".

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Acho que o primeiro grito de carnaval do povo no próximo ano deveria ser: SOCORRO!

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