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Taciano Valério

Professor UFPE/Caruaru

7 artigos

blog

Precisamos é da Revolta!

Precisamos falar sobre o corpo fora dos limites biológicos, fora dos limites que a língua legitima como normal, fora dos limites de todo processo que legitima o certo e o errado. Precisamos é da Revolta mesmo, enfim, de outros heróis que não nos reforcem a ideia de machão, pegador, badalador

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Hoje acordo! Vou ao quarto do meu filho de 13 anos. Dia frio. Seis horas da manhã. Dou bom dia e peço para ele se vestir. Hora da escola. Ele diz que já sabe. Vou para cozinha preparar um lanche para ele. Meu filho vai aos poucos, como adolescente, tateando entre roupas, banheiro, escova de dentes e o famigerado celular que ele já começa a acessar logo cedo da manhã. Peço a ele para deixar o celular um minuto. Ele diz que sim, vai deixar, não deixa, deixa, não deixa. Falo sério parecendo um pai brabo, ignorante devido a voz rouca que imprime algo sonoramente destoante. Ele responde com ímpeto dizendo que deixou depois de muitas idas e vindas.

Lanche pronto. Come. Hora de sairmos. Portão com problema. Chamo ele: “Filhoooo! Vem aqui me ajudarrrr”. Ele vem, ajuda, não ajuda, ajuda sim, ajuda não, ajuda sim! Depois, saímos. Deixo na escola. No percurso ele ligou o celular. Escutamos seus hits sul coreanos, também, cantoras latinas, negras, etc. Gosta disso, gosto com ele. Meu filho, mais um dia. Fica na escola. Volto. Ao chegar em casa ligo o celular, o meu celular. Vejo uma notícia. Jovem comete suicídio. Segundo a notícia e algumas postagens o jovem de 16 anos é mais uma vítima da homofobia. Ora, sabemos que existe vítimas de transito, vítimas de infarto, vítimas de queda de cavalo, acidentes de moto. Sabemos, também, que essas mortes acabam sendo naturalizadas, ou seja, a gente nunca discute o que está por trás. Assim, o que habita por trás dessas mortes, muitas vezes, é nosso modo de existir, viver, consumir, etc. No entanto, sabemos que acidentes acontecem e muitos são inevitáveis. Quanto a homofobia estamos naturalizando.  

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O que habita por trás desse fenômeno de excrecência é a ignorância das pessoas, o preconceito, estruturas sexistas, etc. Um jovem quando expressa o seu amor e o seu carinho por um outro (a sociedade fala sexo oposto) é sinal de pertencimento, descoberta do mundo, florescer do amor, afeto. A Heteronormatividade diz: “coisa linda já ta na balada fazendo isso ou aquilo!”. Quando um menino se abraça com outro menino, beija, a sociedade se cala, irrompe uma série de silêncios ou uma série de descalabros em forma de palavras e/ou imagens que legitimam cada vez mais nossa sociedade doente, preconceituosa, ressentida.

Ao ler a notícia e ver a mensagem do jovem que cometeu suicídio me senti profundamente triste. Nesta semana junto com meus alunos assim como nas outras aulas discutimos o preconceito, as estruturas sexistas da sociedade que matam e continuam matando. Isso mata e/ou faz matar. Não há como deixar de fora esse debate. O desejo, a sua vivencia, pertence a todos nós e não pode ser mediado por estruturas do poder predicalizando o que é certo ou errado para nossos jovens. Desconfio de quem afirma veementemente o desejo como obra da diferença sexual e da sua legitimação heteronormativa. Somos peles e a transformação opera como constituição e construção de povos, sociedades e pessoas. No entanto, não há doença maior do que a degeneração da sociedade que acredita na centralidade do objeto Homem como marcador de verdades absolutas. A única verdade que conheço e a questão mais revolucionária como nos diz Deleuze é o desejo. Desejo de criar/ desejo de amor/desejo de causar/desejo de pertencer junto daqueles que querem também ser pertencidos pelo circuito dos afetos. No entanto, o desejo é cooptado também pelas estruturas de poder que nos informam através do discurso o que devemos desejar. Quem deseja fora desses pressupostos muitas vezes se sente “doente”, fora da caixa. Há discursos que legitimam isso. A norma médica sempre disse isso, a norma jurídica, os dogmas religiosos. Ainda bem, que há pessoas que conseguem transitar e se sentem livres, mas há quem não consiga transitar porque se sentem impelidos, ameaçados, não aceitos.  

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Aguardo meu filho voltar da escola. Uma mãe, um pai, assim como outros tantos, não terá seu filho de volta. Essa morte, mais uma vez, me deixa triste, revoltado, indignado. Precisamos falar sobre o corpo fora dos limites biológicos, fora dos limites que a língua legitima como normal, fora dos limites de todo processo que legitima o certo e o errado. Precisamos é da Revolta mesmo, enfim, de outros heróis que não nos reforcem a ideia de machão, pegador, badalador. Estamos fartos de heróis homens ou de heroínas mulheres que muitas vezes legitimam o discurso da heteronormatividade. Precisamos de devires, transformações que façam circular em nossos corpos as intensidades nômades que nada mais são aquelas que nos conclamam o ímpeto ao desejo na criação de territórios afetivos, na arte, nas relações, no trabalho. Sem esses devires continuaremos com as reproduções e representações de nossos ídolos e heróis que estão no poder cheios de ressentimento, reatividade e muito, muito ÓDIO em seus Corações...

Fora ressentidos!

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