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Washington Araújo

Jornalista, escritor, professor da UnB, tem 17 livros sobre mídia e direitos humanos. Autor do blog de jornalismo e cultura Cidadaodomundo.org

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Precisamos falar da Cracolândia

A solução só pode vir de forma conjunta. Da reunião regular e sistemática de agentes públicos de saúde, familiares 'encontráveis' da população de rua usuária de drogas, representantes de forças de segurança. E psicólogos, mas com boa formação humanista

A solução só pode vir de forma conjunta. Da reunião regular e sistemática de agentes públicos de saúde, familiares 'encontráveis' da população de rua usuária de drogas, representantes de forças de segurança. E psicólogos, mas com boa formação humanista (Foto: Washington Araújo)
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Primeiramente, precisamos entender que bem antes de o crack ter chegado ao Brasil (o primeiro lugar foi São Paulo), em princípios dos anos 1990, o centro histórico da capital paulista já era ponto principal da venda e do consumo de drogas: álcool, maconha, cocaína. Segundo: o uso do crack, assim como diversas outras drogas, a começar pelo abuso do álcool, é consequência - e não causa - da existência de tão grande número de viciados dentre a população vulnerável que busca sobreviver nas ruas.

A causa é a própria vulnerabilidade dessa população: falta de abrigo (físico), falta de alimentação, falta de higiene, falta de trabalho, falta de cuidados básicos de saúde. E principalmente, e que entendo ser o mais importante: a falta de perspectivas para o próprio futuro.

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E o que uma pessoa pode esperar do futuro, se nada de positivo lhes é acenado?

A população de rua se afoga no álcool, mergulha no uso do crack e tenta se alienar usando diversas outras drogas, como fuga da realidade infernal em que vive, fuga para esquecer tanto as dores físicas quanto as dores da alma. As drogas quase sempre oferecem uma viagem paradisíaca, rápida, imediata, instantânea. Mas uma viagem que não tem passagem de volta.

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Neste contexto, afugentar os usuários de drogas de seu contumaz ponto de encontro, demolir os prédios insalubres e muito antigos - e já caindo aos pedaços em que vivem -, nada mais é que obrigá-los a buscar outro lugar, a recriarem novamente sua "Cracolândia". Atacando as consequências o que estava concentrado - a velha Cracolândia - se torna descentralizado, surgindo então grande número de filiais da mesma.

Também há um outro aspecto: o consumo de álcool e drogas, como o crack, por exemplo, não enferma apenas e tão somente moradores de rua. Infelizmente este são vícios que já se consolidam na classe média e na classe rica. E de acordo com o poder aquisitivo dos viciados drogas mais caras se tornam rapidamente acessíveis, como por exemplo, a cocaína.

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Ocorre que esses mesmos vícios por usuários das classes média e rica não parecem tão evidentes. E isso acontece por um motivo muito simples, banal até - eles consomem no recinto mesmo de seus apartamentos, protegidos pelos muros de seus condomínios, nas academias e nos clubes sociais e esportivos que frequentam. Portanto, o vício se alimenta de forma bastante diversa da forma como se alimenta o dos moradores de rua que seguem pela vida em uma permanente vitrine pública de sua dor, acessível ao olhar de todos, devassável a todos, facilmente 'publicizável' em matéria de qualquer aspirante-júnior a jornalista.

E é fato que a tragédia humana alavanca audiência da mídia, vende mais jornais e revistas, consegue mais pontos no Ibope deles de cada dia.

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Há todo um trabalho por ser feito.

E este trabalho tem a ver com dignidade humana. Trabalho que acene àquela população de rua com possibilidade de recuperação de sua saúde, com oferecimento de emprego, por simples e com baixa remuneração que seja. É como um tipo de coach. Tem que se prover profissionais que possam fazê-los repensar toda sua existência, rever o próprio jeito de viver, oferecer algo que se assemelhe a algum factível futuro. (E isso só me lembra o trabalho dos coachs!)

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A solução só pode vir de forma conjunta. Da reunião regular e sistemática de agentes públicos de saúde, familiares 'encontráveis' da população de rua usuária de drogas, representantes de forças de segurança. E psicólogos, mas com boa formação humanista.

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