CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Paulo Teixeira avatar

Paulo Teixeira

Advogado e secretário-geral do Partido dos Trabalhadores, deputado federal por São Paulo

54 artigos

blog

Precisamos repactuar nossa democracia

Não são as esquerdas que estão sendo desafiadas a se repensar e a repactuar sua agenda. Nosso desafio é ainda maior do que esse. Precisamos repactuar nossa democracia e resgatar nossas capacidades estatais

Não são as esquerdas que estão sendo desafiadas a se repensar e a repactuar sua agenda. Nosso desafio é ainda maior do que esse. Precisamos repactuar nossa democracia e resgatar nossas capacidades estatais (Foto: Paulo Teixeira)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Regimes democráticos pressupõem um ambiente social plural e uma estrutura legal que garanta a liberdade de expressão e manifestação. Isto não significa, porém, que nesses regimes possa prevalecer o vale tudo sem limites. Viver em democracia é também firmar pactos em relação a certos princípios e valores, sejam eles definidos pela lei, sejam eles vivenciados no plano mais ordinário de nosso dia a dia.

Ao deixarmos para trás mais de 20 anos de ditadura militar, a sociedade brasileira firmou um pacto traduzido pela Constituição de 1988 e iniciou um novo ciclo de pactos sociais alinhavados pelo desejo de viver a democracia construindo uma nova cidadania e rompendo as barreiras das desigualdades sociais e regionais. As últimas décadas foram marcadas por esses compromissos, e, mesmo que reconheçamos os desafios que ainda temos pela frente, é impossível negar que avançamos muito nessa direção.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

O momento que vivemos, entretanto, ameaça nossos pactos democráticos mais básicos. Num contexto em que uma presidenta legitimamente eleita é alijada da presidência ao arrepio da Constituição e como produto de uma chantagem rasteira de um conjunto de atores interessados única e exclusivamente em "estancar a sangria", nossas bases institucionais começam a erodir.

Rupturas institucionais geram cada vez mais estímulos para outras rupturas. Tão grave são as ameaças aos pactos sociais que conseguimos carregar até aqui. Desde a redemocratização nunca houve momento político em que tantos grupos se colocaram à disposição dos discursos que minam as capacidades estatais para a promoção de políticas sociais e, ainda mais grave, tantos outros que vocalizam agendas autoritárias, xenófobas, racistas e misóginas.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Na noite do dia 02 de maio um grupo de manifestantes vociferava na Avenida Paulista, em São Paulo, contra a recém-aprovada Lei de Migração focando, principalmente, nos islâmicos que por aqui já chegaram ou que podem chegar ao Brasil. O discurso de ódio religioso e de xenofobia provocou a reação de um grupo de palestinos e sírios que passava pelo local.

O saldo foi a prisão dos imigrantes sob os gritos eufóricos dos manifestantes: "Viva a PM!". Na manifestação contra os imigrantes, os imigrantes é que foram presos. Não bastasse isso, na delegacia só puderam ser atendidos pelos advogados depois de cinco horas sob a vigilância ostensiva da polícia civil. Um deles, inclusive, bastante machucado.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Fosse esse um acontecimento pontual, poderíamos refletir sobre como construir bases mais adequadas para avançarmos com os desafios dos novos fluxos migratórios. Mas esse não é o caso. Há uma sequência de acontecimentos a retratar as erosões de nossos pactos democráticos mais básicos e de algumas de nossas instituições. Está havendo uma comunhão perversa entre os que romperam com o pacto de 1988 e um Estado que só tem entregado anulação de direitos, repressão e violência. São presos temporários sem prazo e sem julgamento, são manifestantes nos centros urbanos que terminam em hospitais em coma ou gravemente feridos, são conflitos rurais que perderam a mediação e acumulam mortos, e são indígenas decapitados e mutilados.

Não são as esquerdas que estão sendo desafiadas a se repensar e a repactuar sua agenda. Nosso desafio é ainda maior do que esse. Precisamos repactuar nossa democracia e resgatar nossas capacidades estatais. O que emergiu nos últimos anos dificilmente servirá de substrato para esse processo. Que nos sirva ao menos para nos alertar sobre que tipo de sociedade não queremos ser e que funcione como combustível para ativarmos nossas redes e fortalecermos nossos pactos.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO