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    Lelê Teles

    Jornalista, publicitário e roteirista

    394 artigos

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    Preparada pra parada?

    Detesto ser literal, mas me pareceu que a moça não tinha medo de Jesus, nem aversão, nem ódio. E não vi o menor sinal de desrespeito ao Cristo

    Eu vi diversas imagens da performance, neste último domingo 7, da belíssima modelo Viviany Beleboni sobre um trio elétrico, na 19ª edição da Parada LGBT.

    Com o corpo ensanguentado, e o busto nu, a transexual estava pregada a uma cruz, numa clara alusão à paixão de Cristo.

    No lugar do INRI, lia-se: Basta de Homofobia LGBT.

    Pastores de araque e fundamentalistas desmiolados partiram para cima da modelo, choveram xingamentos, insultos e pedradas.

    Feliciano chamou o gesto de Cristofobia.

    Fraude.

    Detesto ser literal, mas me pareceu que a moça não tinha medo de Jesus (fobia é medo), nem aversão, nem ódio.

    E não vi o menor sinal de desrespeito ao Cristo.

    Muito pelo contrário, onde houver seres humanos sendo mal tratados, assassinados, escarnecidos, torturados e desprezados, Cristo deve estar presente.

    Ali era o lugar.

    E oh, um dos fundadores do cristianismo, São Paulo, nada mais era que um assassino. Perseguia e matava aqueles que criam no Cristo.

    Não tô vendo ninguém jogar pedras em Paulo, vejo todos lendo e recitando seus escritos.

    Escritos, estes, ratificados por Constantino, o imperador sanguinário que usou a imagem da cruz como amuleto para vencer batalhas e matar inimigos.

    Constantino chegou a pintá-la nos escudos de seus soldados. Profanação?

    Quando escrevi o artigo Je Ne Suis Pas Charlie, entendia que os cartunistas assassinados - embora não merecessem a morte - zombavam de forma ridícula, infame, aviltante e inaceitável, de alguns símbolos religiosos.

    Enfiavam coisas no ânus de Maomé, cravejavam de balas um que segurava o Corão... desdenhavam da fé e dos fiéis; eram, em suma, uns babacas intolerantes.

    Por outro lado, Viviany não cuspiu na cruz, não fez sexo na cruz, não a tratou com desrespeito. Ela a usou na sua mais direta acepção cristã.

    A cruz é um instrumento de tortura criado pelos persas. Mais tarde foi adaptada pelos romanos, que também a utilizavam como propaganda do terror.

    Esse marketing grotesco que o ISIS faz hoje Wlad, o draculesco Empalador, já o fez outrora e os romanos também.

    Certa vez crucificaram milhares de pessoas e as deixaram penduradas ao longo de um caminho. Para que todos soubessem do que os romanos eram capazes.

    A cruz foi o primeiro outdoor.

    O cristianismo fez deste símbolo de morte e sofrimento, a imagem da ressurreição, do trunfo do amor e do perdão contra a violência.

    E era exatamente isso que Viviany queria dizer quando se deixou crucificar, "para representar a agressão e a dor que a comunidade LGBT tem passado".

    Onde o desrespeito?

    A Brasil é um país cruel. Aqui se mata mais travestis do que em qualquer outro lugar do mundo.

    Gays e lésbicas apanham covardemente nas ruas, e alguns grupos religiosos, liderados por falsários, legitimam toda essa violência quando fazem coro com os intolerantes.

    Jesus era um homem que preferiu viver com as minorias, os doentes e os pobres.

    Cristo, pelo que consta, curou cegos, leprosos, coxos, entrevados, chegou até a ressuscitar um cabra, mas jamais se incomodou ao ver um homossexual.

    E ele os viu e aos montes, porque eles sempre houveram e em todos os lugares; e ademais, entre romanos e gregos - que estavam sempre ali por perto - isso não era um comportamento tabu.

    E quando Jesus se meteu em assuntos de alcova, ele o fez para proteger uma prostituta da turma do Malafaia e do Feliciano, que já estavam com as pedras em punho, prontos para extravasarem seu ódio, sua intolerância e sua hipocrisia.

    É por isso que eu aceito o que vem de Deus, mas abomino o que vende Deus.

    Esses que fazem de Jesus uma mercadoria, que distorcem sua palavra para pregar o ódio, é que desrespeitam o crucificado.

    Uma moçada religiosa entendeu isso e apareceu na Parada com cartazes bacanas dizendo que Cristo cura a homofobia.

    Cura, sim.

    Palavra da salvação.

    PS: foi-se o tempo dos viados. Aqueles tipos magros, frágeis, lépidos e campeiros. Não que eles estejam ameaçados de extinção. Mas é que agora o que tá bombando é o seu primo bombado, o alce. Bicha, como tinha alce nessa Parada, uns cabra forte, anabolizados!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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