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Simão Pedro

Professor e mestre em Sociologia Política, ex-deputado estadual do PT e ex-secretário de Serviços da gestão Fernando Haddad

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Presidente ilhado

Cresce ideia de que Bolsonaro precisa cair fora

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Vai ter impeachment? Vai renunciar? Vai tentar um golpe? São as perguntas que os brasileiros estão a se fazer desde ontem, após as repercussões negativas sobre o pronunciamento do presidente em cadeia nacional de rádio e TV na noite de terça, onde ele atacou a imprensa, governadores e outros inimigos, defendendo o fim da política de isolamento e a volta à normalidade, na contramão de tudo e de todos, se isolando mais ainda. A percepção geral é que Bolsonaro e seu Gabinete do Ódio agem com irresponsabilidade sem tamanho e estão atrapalhando toda a estratégia de guerra à doença empreendida pela sociedade brasileira, sabotando, espalhando divisão e confusão. Assim, cresce em vários setores e já é quase consenso de que o presidente precisa sair e de que o enfrentamento do coronavírus é problema de todos.

A proposta de impeachment já havia sido protocolada na semana passada, depois que o Bozo, com suspeita de estar com o vírus após viagem aos EUA, saiu nas ruas, como um sádico tresloucado, em apoio aos protestos contra o Congresso Nacional e STF, confraternizando-se com seus fanáticos apoiadores. Seguiu-se uma série de mentiras sobre resultados dos testes, entrevistas atrapalhadas e caricatas, gestos de ciúmes em relação ao seu ministro dos planos de saúde Mandetta. 

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Ao que tudo indica, foi no último fim de semana, quando o coronavírus entrou na fase de expansão e mortes mais rápidas,  que Bolsonaro, influenciado por seu ministro Paulo Guedes, seus amigos empresários mais próximos, líderes das grandes igrejas neopentecostais e o chamado “gabinete do Ódio” (seu filho Carlos e os ministros e secretários que agem sob orientação do astrólogo brasileiro-norteamericano Olavo de Carvalho) decidiu ir para a ofensiva. Na madrugada de segunda-feira, o País foi surpreendido com a edição de uma Medida Provisória (917/2020) permitindo que as empresas possam suspender os contratos com seus funcionários por até 4 meses sem precisar pagar salários, além de outras mudanças no que restou da Legislação Trabalhista, sempre desfavoráveis aos trabalhadores. Depois, descobriu-se que a MP foi encomendada pela Confederação Nacional da Indústria com apoio da famigerada Fiesp. Ou seja, o governo, instrumentalizado pelos grandes capitalistas, resolveu se aproveitar da crise gerada pelo coronavírus para impor à sociedade mais perdas de direitos aos trabalhadores, dando fim ao que restou do sistema de proteção social.

Apelidada de “MP da morte” ou “da Maldade” por demonstrar toda a insensibilidade do governo e setores patronais para com a vida dos trabalhadores, além de ser inconstitucional e correr o risco de ser devolvida pelo Congresso Nacional, a proposta do governo teve repercussão negativa muito forte, fazendo Bolsonaro recuar e Paulo Guedes aparecer dizendo que tudo não passou de um mal entendido, fazendo publicar nova edição sem o artigo central.

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Concomitantemente a isso, empresários milionários como o véio da Havan, o Durski dono da hamburgueria Madero, Roberto Justos, entre outros, passaram a dinamitar, nas redes sociais e entrevistas, a estratégia dos prefeitos, governadores e pessoal da área da Saúde, de isolamento social como contenção à proliferação do coronavírus, defendendo a reabertura do comércio e serviços não essenciais. Durski, mostrando toda a insensibilidade da sua classe, chegou a dizer que “tudo bem que morrerão de 5 a 7 mil pessoas, mas a economia não pode parar”. Em outra trincheira, os pastores evangélicos Silas Malafaia e Edir Macedo foram na mesma linha, minimizando os efeitos do coronavírus e exigindo autorização para reabertura das suas igrejas. 

Durski, Justus e Havan prepararam o terreno para o pronunciamento em que Bolsonaro dobrou a aposta. Foram algorotimizados ao extremo, inclusive pela esquerda. Assim como foi feito com os pastores. A estratégia foi falar para os pobres ligados ao neopentecostais, para setores dos trabalhadores que temem o desemprego, micro e pequenos empresários e para o núcleo duro da classe média que saiu dos esgotos. Eles representam em torno de 12 a 30% do eleitorado. Dessa forma, Bolsonaro também passaria a ideia, para seus apoiadores, de que está preocupado com a economia para salvar empregos. Se a coisa degringolar, não seria por culpa dele que tentou mas governadores, prefeitos, outros políticos e a turma da ciência não o deixaram tomar as medidas que defendia.

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Assim, na terça à noite, depois de ensaiar discurso de entendimento com os prefeitos e governadores, o presidente surpreendeu então toda a Nação com seu pronunciamento em cadeia de rádio e TV, gerando indignação geral e a certeza de que o País, numa hora de crise, não pode contar com seu comandante maior, muito pelo contrário, que é preciso ignora-lo ou mesmo afasta-lo. Bolsonaro partiu para o confronto com seus adversários políticos, apostando na divisão da sociedade. A reação ao seu discurso foi de incredulidade, mas foi também pesada. A Rede Globo, principal porta-voz da Direita brasileira, dedicou edição inteira do JN e Jornal da Globo da quarta à dar voz às autoridades, instituições e entidades da sociedade civil indignadas com as recomendações de Bolsonaro. Hoje, editoriais do O Estadão e Folha desbancaram Bolsonaro. Este último conclamou-o a retirar-se. Governadores se reuniram e resolveram ignorar as ideias do presidente. O ministro Mandetta quase demitiu-se e o vice Mourão disse que o isolamento social deve ser mantido, totalmente em desacordo com o titular. Os elogios são de genocida, irresponsável, semeador do caos, “Coringa” e assim por diante. 

Ontem à noite Lula entrou na parada. Em entrevista à Haddad no Facebook, ele abandonou a ideia de que não era hora de propor impeachment e passou a defender a saída do presidente, seja por renúncia ou por impeachment. E hoje de manhã ganhou repercussão a matéria da importante jornalista Maria Cristina Fernandes do jornal Valor Econômico de que a carta de renúncia de Bolsonaro já estaria sendo preparada e negociada com ele em troca daquilo que seria “o maior bem dele”, ou seja, a imunidade para seus filhos contra as acusações que pesam contra eles, principalmente nos casos conhecidos como “rachadinha”, enriquecimento ilícito, envolvimento com milicianos e na morte da vereadora Marielle Franco. 

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A matéria do Valor Econômico pode soar como balão de ensaio, mas, diante das circunstâncias, pode mesmo apontar um processo rumo a saída de Bolsonaro. Lula pode ter sido procurado para ajudar a construir algo nessa linha, já que mudou frontalmente o que pensava no início do mês. Hipótese muito remota, já que Lula está cumprindo isolamento voluntário. 

Outras especulações me foram levantadas hoje, de que a aprovação de um Projeto de Lei no Congresso proposto pelo PT, com amplo apoio de entidades da sociedade civil que arrecadou centenas de milhares de assinaturas de apoio, que implementa uma Renda Básica ou Mínima para trabalhadores desempregados, informais e pessoas vulneráveis, pode ser parte de um “grande acordo” costurado por Rodrigo Maia, incluindo militares e instituições como STF, e sossegando setores das esquerdas, para afastar Bolsonaro, unir o País e tocar a luta contra o coronavírus e enfrentar a crise econômica.

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Acontece que esse tipo de saída não muda a linha econômica do governo e do Congresso. Ainda mais com a manutenção de Paulo Guedes à frente do poderoso Ministério da Economia, que tem sido um entrave no combate à pandemia no Brasil, segurando recursos para a área da Saúde e também negando socorro às empresas, pequenos e médios empresários, trabalhadores formais e informais e os pobres. 

Cabe à Esquerda garantir que os trabalhadores, os pobres informais, pequenos, médios empresários e a classe média sejam protegidos como em outros paises, e que o nosso SUS seja recomposto e protegido de uma vez por todas, até por que esse não sera o último coronavirus.

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