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Daniele Barbosa Bezerra

Doutora em Educação (UFC), professora, pesquisadora de gêneros biográficos e memorialísticos, contista e cronista.

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Primavera nas escolas

É importante que a sociedade civil e o governo federal estejam engajados na luta para que o PIBID passe a ser política de Estado

Primavera nas escolas (Foto: Arquivo Pessoal)

No próximo dia 28 de maio, será votado o projeto de lei 7.552/2014, proposto pelo deputado federal Rogério Correia, do Partido dos Trabalhadores, que propõe transformar o PIBID em política de estado; o que pode significar, caso seja aprovado, que o programa não mais ficará à mercê do bom humor dos governantes da vez e passará a ser permanente, entrando ou saindo governo. Aqui no Ceará, o Deputado Estadual, Missias Dias, também do Partido dos Trabalhadores, capitaneou um debate sobre a relevância do PIBID na formação inicial dos professores de diversas áreas.

O PIBID, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, é uma política governamental de formação de docentes em nível superior, valorização do magistério e, melhoria da qualidade da educação básica, que integra a Política Nacional de Formação de Professores do Ministério da Educação (via Decreto n.º 7.219/2010 e Portaria 096/2013), administrado pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).O programa, com 18 anos de atuação, objetiva a iniciação à docência dos discentes dos cursos de licenciaturas, isto é, consiste em fazer com que licenciados tenham contato com a realidade da educação básica, in loco. Em cada instituição de ensino superior (IES), o programa tem um Coordenador Institucional, que é o responsável por representar a IES perante a CAPES, garantindo o funcionamento do programa de acordo com o disposto no edital.

Cada IES possui vários subprojetos, que são divididos em diversas áreas do conhecimento, Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, Inglês e etc. Cada subprojeto tem um Coordenador de Área, que é o responsável por intermediar a seleção das escolas participantes, os bolsistas de iniciação à docência, além da seleção dos professores supervisores, que devem ser docentes da rede pública e atender aos requisitos do edital.

O último edital da Capes, de outubro de 2024, mais de 118.000 mil bolsas de PIBID foram solicitadas, entretanto 38.000 estudantes deixaram de ser contemplados. Atualmente, o programa atende 5,8 mil escolas de 901 municípios brasileiros, com projetos de 300 instituições de ensino superior; o que faz com que as universidades dialoguem com o público extramuros.

A escola de educação básica, em que leciono, foi umas das instituições contempladas no último processo seletivo e hoje, estou como Supervisora dos pibidianos do Curso de Letras, vinculados ao Centro de Humanidades, da Universidade Estadual do Ceará.

A entrada desses jovens estudantes de licenciatura é um bálsamo para as escolas, que apesar de se constituírem solo fértil para a germinação de novas práticas didático-pedagógicas, muitas vezes não prosperam devido a uma multiplicidade de fatores como: a vulnerabilidade social do corpo discente, o entra e sai de professores temporários, a falta de compromisso de gestores escolares com a educação, os salários aviltantes da maioria dos docentes, a pouca valorização do magistério, dentre outras pragas que dizimam o colorido desse jardim pedagógico.

Os licenciados como flores tenras, novinhas e perfumadas, colorem a terra educacional, muitas vezes, não enriquecida com os melhores insumos e fertilizantes pedagógicos. Tanto o interesse no que estão a fazer, quanto o frescor do conhecimento teórico recente, além das discussões e percepções afiadas acerca da escola e do ensino, fazem florescer as melhores experiências nessa primavera do saber.

Essa troca de saber entre universidade e escola é a base para a formação de futuros docentes críticos, preparados ao exercício de uma profissão que traz inúmeros desafios diários; profissionais que não tenham vergonha de dizer que são professores, como acontecia há bem pouco tempo, pois o ofício docente era injustamente associado às pessoas que “não deram para nada”, então restavam ser professores. Percepção da sociedade que desvalorizava o papel do professor e ainda o faz.

Num primeiro momento, os licenciados são apresentados às escolas para conhecerem o Núcleo Gestor, os professores, os ambientes da escola e as turmas; depois passam por um período de observação das aulas dos professores, concomitantemente à formação semanal com os coordenadores e supervisores.

Na escola em que trabalho percebi que, mesmo não tendo findado o período de observação, os jovens-flores já estavam ansiosos para espalhar o pólen do conhecimento a uma juventude também ansiosa, que acabou de perder o direito de usar o celular (ainda bem); o que já estão fazendo sob os meus olhares atentos e interesse dos alunos, que perguntam por eles, no dia em que não estão na escola.

Importante ressaltar que o PIBID é uma experiência de sucesso e os seus números evidenciam a sua importância social, o que tem fomentado uma grande quantidade de pesquisas acadêmicas materializadas em artigos científicos, monografias, dissertações e teses, entretanto a consecução do programa está sujeita a editais, o que lhe confere uma instabilidade ao número de bolsas, e até mesmo a própria existência do programa.

Sendo assim, é importante que a sociedade civil e o governo federal, na figura do então Ministro da Educação, Camilo Santana, estejam engajados na luta para que o PIBID passe a ser política de Estado e esses jovens-flores não murchem, não percam sua energia vital em terra infértil.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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