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Proibido ser pequeno

A cultura ocidental, da acumulação, prega a ideia do crescimento, das coisas grandes, mas no Brasil essa visão ganhou dimensão ainda mais forte na relação do ser humano com a natureza

A cultura ocidental, da acumulação, prega a ideia do crescimento, das coisas grandes, mas no Brasil essa visão ganhou dimensão ainda mais forte na relação do ser humano com a natureza (Foto: Jaime Sautchuk)
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A cultura ocidental, da acumulação, prega a ideia do crescimento, das coisas grandes, mas no Brasil essa visão ganhou dimensão ainda mais forte na relação do ser humano com a natureza. Nas aglomerações urbanas, nos negócios, nas moradias, em tudo está cravado um estigma: é proibido ser pequeno.

É certo que a população brasileira aumenta freneticamente, por mais que haja um controle espontâneo da natalidade em parcela da sociedade. Estamos crescendo a taxas que resultam em quase três milhões de novos viventes por ano.

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Ou seja, todo ano adicionamos o equivalente a uma cidade de Salvador, a capital dos baianos, aos nossos índices. E a taxa de mortalidade segue o sentido inverso, como resultado dos avanços científico-tecnológicos e da melhoria da qualidade de vida tupiniquim.

No entanto, esse fato não justifica o preconceito contra a dimensão adequada dos elementos que compõem a vida nos espaços da Terra. A tecnologia deveria influir no rumo contrário, mas nem sempre é assim, pois um de seus focos é a redução da presença humana na produção de bens, por meio da automação, nas cidades e no campo.

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Na área rural, as máquinas substituem o braço humano nas lavouras, mas essas ficam cada vez maiores, tirando a terra do pequeno, que vai pras cidades virar sem-terra, sem-teto, sem-nada. Há menos de cem anos, uma vaca dava um litro leite por dia, mas agora dá 30 e mesmo assim a maioria dos ruralistas mantêm a média de uma rês por hectare de chão, como era um século atrás.

Nas cidades, o empresário é forçado a expandir o seu negócio sem limites. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), por exemplo, já nos seus estatutos determina que seu suporte visa fazer com que o micro deixe de ser micro.

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O cara do carrinho de cachorro-quente tem que sonhar com um caminhão truck lunch, senão não terá futuro. Não interessa se o carrinho já lhe dá um sustento digno.

Nas próprias moradias, as classes mais abastadas fazem casas, mansões ou mesmo apartamentos enormes, exagerados, com cômodos desnecessários. É comum vermos pessoas que raramente visitam partes de suas habitações – e nem se tocam que ao seu redor há milhares de famílias que viveriam felizes naqueles espaços vazios.

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As áreas urbanas, por sua vez, são acometidas de complexo de inferioridade se não tiverem novas ruas, novos bairros a cada ano, ainda que não tenham redes de água e esgoto, nem onde depositar lixo. Salvam-se algumas tombadas como patrimônio histórico, como se apenas as coisas muito velhas representassem nossa história.

Com essa volúpia, lá se vão as áreas verdes, os cursos d'água, lagoas, a fauna e a flora, enfim. Nem campos de pelada existem mais, tal a ganância da especulação imobiliária.

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O mais grave, no fim das contas, é que a dimensão da existência humana é colocada nas aparências, não em seu conteúdo ou consistência. É, pois, uma visão autocorrosiva, sem grande porvir.

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