Promessa é... justiça tributária
"Quando há compromisso, método e senso de prioridade, promessa deixa de ser slogan e vira renda, comida, tempo, dignidade"
Políticos são todos iguais. Essa é a frase preferida de 11 em cada 10 eleitores. Vira muleta para o ceticismo, conforto para a frustração e, não raro, desculpa para desistir da política. Mas a realidade insiste em dizer que não é bem assim - ainda que muitos trabalhem, dia sim e outro também, para parecer a mesma coisa. A votação de ontem no Senado é um bom lembrete de que escolhas importam: foi aprovado um projeto que evidencia, com números e consequência prática, o quanto Lula difere de boa parte da classe política brasileira.
Durante a campanha, ele disse ao país, olho no olho de cada brasileiro e brasileira que o assistia: acabaria com a cobrança de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil por mês. No governo, enviou o projeto com isenção até R$ 5 mil e redução de alíquotas para rendas entre R$ 5 mil e R$ 7.350. O texto, relatado pelo senador Renan Calheiros, foi aprovado e agora segue para sanção presidencial - muito provavelmente com um ato público à altura do que representa para a classe trabalhadora e para a chamada classe média assalariada.
Traduzindo do economês para a vida real: mais de 10 milhões de brasileiras e brasileiros deixarão de pagar ao Leão a partir do próximo ano. Somados aos já isentos, serão 26,6 milhões de contribuintes fora da mordida - algo na casa de 65% de todos os declarantes. É dinheiro que não sai do bolso, que vira feira do mês, remédio, parcela do curso, conserto da casa, respiro no orçamento. Em tempos de correção de rota econômica, esse tipo de medida ajuda a recompor renda sem recorrer a atalhos irresponsáveis.
A aprovação do projeto, além de desenhar diferenças entre projetos de país, oferece um conteúdo político poderoso para o próximo ano. Serve como ponte de reaproximação com segmentos que, nos últimos tempos, se afastaram de Lula: trabalhadores formais, pequenos empreendedores, servidores com salário apertado, profissionais liberais que pagam a conta sem ter como repassar custo. Quando a política toca o cotidiano, a conversa muda de patamar. Não é narrativa; é boleto.
Mas nada disso se sustenta sozinho. É preciso cacarejar - bater bumbo, martelar o argumento, não permitir que uma conquista concreta vire paisagem de timeline. O governo, claro, fará a sua parte: campanhas nas redes e na mídia tradicional, comunicação simples e direta, simuladores que mostrem quanto cada faixa economiza, prestação de contas didática. Mas, ao mesmo tempo, é necessário que agentes políticos, movimentos sociais, lideranças comunitárias e militância ecoem essa mensagem no dia a dia: no ponto de ônibus, na reunião de condomínio, na conversa do trabalho, no grupo da família, na pelada de final de semana.
A aprovação dessa mudança no Imposto de Renda faz mais do que aliviar a carga de quem sustenta a máquina: reabilita a ideia de que a política pode, sim, cumprir palavra. E isso, num país cansado de promessas vazias, vale muito. Há diferenças entre políticos - e há diferenças entre governos. Quando há compromisso, método e senso de prioridade, promessa deixa de ser slogan e vira renda, comida, tempo, dignidade. E é exatamente aí que se reconstrói confiança: mostrando, sem pirotecnia, que quem assume compromisso… cumpre.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

