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Heitor Scalambrini Costa

Professor da Universidade Federal de Pernambuco

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Propina nuclear

Este episódio envolvendo o executivo principal da Eletronuclear é gravíssimo e suficiente para a interrupção das atividades nucleares no país, em particular a construção de Angra 3, com o congelamento de novas instalações

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No inquérito sobre corrupção na Petrobras (denominada operação lava-jato) surgiram suspeitas de fraudes sobre negócios do grupo Eletrobrás, composto de 15 empresas estatais responsáveis por mais de um terço da energia consumida no país, com patrimônio superior a R$ 60 bilhões.

Todo esse conjunto de empresas está sob investigação por iniciativas coordenadas entre o Ministério público (MP), Tribunal de Contas da União (TCU) e Polícia Federal (PF). Além de suas contas estarem sendo auditadas pela Hogan Lovells, escritório de advocacia americano contratado pela Eletrobrás.

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As suspeitas sobre negócios escusos foram reforçadas em depoimentos de executivos de empreiteiras, de ex-diretores da Petrobras e de agentes de distribuição de propinas. Foi nessa rede que caiu o diretor presidente da Eletronuclear, uma das menores subsidiárias do grupo Eletrobrás, o almirante da marinha brasileira Othon Luiz Pinheiro da Silva.

Nesta investigação envolvendo propinas na construção de Angra 3 também estão sob investigação acusados de receber subornos, o ex-ministro das Minas e Energia Edison Lobão, o ministro do TCU Raimundo Carreiro e o advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do TCU.

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O almirante Othon ficou conhecido por liderar, no auge da ditadura militar, a equipe que desenvolveu o Programa Nuclear Paralelo (entre 1979 e 1994) iniciativa militar no âmbito da antiga Coordenadoria de Projetos Especiais da Marinha, em que foram gastos, segundo revelado pelo próprio almirante, US$ 667,9 milhões. O objetivo era bélico com o desenvolvimento de tecnologia em enriquecimento de urânio, e assim produzir artefatos nucleares. Tudo a margem do projeto de construção das usinas nucleares.

No início do primeiro governo Lula o almirante foi convidado como conselheiro presidencial, e em seguida, em 2005 assumiu a presidência da Eletronuclear. Em 2009 se deu a retomada da construção de Angra 3, parada há 23 anos.

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O ex todo poderoso Othon, agora encarcerado, é acusado de receber R$ 9,8 milhões de propina de empreiteiras contratadas para o projeto da 3ª usina nuclear em Angra dos Reis (RJ), entre 2009 e 2014. Este dinheiro, segundo a investigação saíram dos cofres de empreiteiras com obras em Angra 3 (Andrade Gutierrez, Engevix, Camargo Corrêa...), passaram pelo caixa da Link Projetos e Participações e chegaram na empresa familiar que o almirante era sócio, a Aratec Engenharia Consultoria & Representações. O "modus operandi" destas transações criminosas é semelhante ao ocorrido na Petrobras, utilizando empresas de fachada para repasses de propinas.

Inicialmente detido em regime de prisão temporária, depois convertida em preventiva, na prática o ex-presidente da Eletronuclear (em 6/8 a Eletrobrás anunciou seu pedido de demissão) não tem prazo para ser solto. O juiz justificou sua decisão ao escrever no despacho, que "são robustas as provas do pagamento de propina a Othon Luiz em decorrência do cargo exercido na Eletronuclear e mediante a simulação de contratos de consultoria fraudulentos".

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Este episódio envolvendo o executivo principal da Eletronuclear é gravíssimo e suficiente para a interrupção das atividades nucleares no país, em particular a construção de Angra 3, com o congelamento de novas instalações. Espera-se que todas as denúncias sejam investigadas e apuradas as responsabilidades.

Não se pode mais ignorar as objeções técnicas ao projeto de Angra 3. Como as denúncias com relação à obsolescência dos equipamentos tecnologicamente defasados, e que não atende aos requisitos internacionais de segurança, comprometendo o seu funcionamento e aumentando o risco de um desastre nuclear. Assim nem as seguradoras querem ter Angra 3 como cliente.

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Também os altos custos na construção da usina, estimados para mais de R$ 18 bilhões depois de pronta, vai de encontro ao próprio discurso oficial de oferecer energia elétrica a tarifas módicas ao consumidor final.

É inaceitável e não se admite que a decisão de construir centrais nucleares no país tenha sido feita em um mero balcão de negócio, sem a necessária salvaguarda da vida das pessoas.

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