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      Washington Araújo

      Jornalista, escritor e professor. Mestre em Cinema e psicanalista. Pesquisador de IA e redes sociais. Apresenta o podcast 1844, Spotify.

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      Qual é o espírito desta época, o seu mais íntimo zeitgeist?

      Os indiferentes são como suicidas. Desistem cedo demais de apitar o jogo da vida. Delegam aos demais a tarefa de pensar o mundo em que vivemos e se omitem quando precisam se posicionar

      Os indiferentes são como suicidas. Desistem cedo demais de apitar o jogo da vida. Delegam aos demais a tarefa de pensar o mundo em que vivemos e se omitem quando precisam se posicionar (Foto: Washington Araújo)

      Ao contrário do que muita gente pensa sou dos que acreditam que as coisas tendem a melhorar, que o ser humano tem motivos para ter esperança no futuro, que o mundo pode ser muito melhor do que nossas melhores expectativas.

      Não, não sou sonhador profissional. Busco manter a cabeça (ou será o coração?) nas nuvens e os pés firmemente fincados no chão. Há os que veem o mundo e o ser humano como projetos inacabados, fadados ao fracasso, rascunhos interrompidos e inacabados de um Criador muito cioso, detalhista e dado a extremo perfeccionismo. Os que fazem essa leitura estão certos. A conclusão final, o acabamento da criação – tanto nossa quanto do mundo - é de nossa inteira responsabilidade, assim como o que fazemos (ou deixamos de fazer) com nossas vidas depende exclusivamente de cada um de nós. Como nos ensina Shopenhauer "caráter é destino".

      E tem os que torcem pelo pior, que colocam na conta do nosso senso de humanidade suas certezas quanto ao futuro sombrio que acreditam nos espreitar. Para estes, pensar no pior parece ser a melhor solução; afinal, se não se concretizar a miséria toda, ainda assim, com o que vier, 'estaremos todos no lucro', que é como ouvimos a torto e a direito no jargão popular. São pessimistas por profissão e por opção. Comprazem-se, um tanto envergonhados, quando veem espocar uma nova guerra, um grande atentado terrorista, uma calamidade urbana de imprevisíveis proporções, os números cruéis que apontam para a imensa desigualdade social que paira como espectro sobre quase 2/3 da humanidade.

      E tem o pior dos tipos.

      São os indiferentes. Esses que subiram no muro e lá montaram acampamento. Decidem, quase sempre como cheios de razão, pelo não-compromisso quanto a qualquer assunto, dos problemas do trânsito em Nova Iorque à caça da baleia nos mares do Pacífico Sul; do desmatamento na Amazônia à epidemia do Ebola na Costa do Marfim; das aflições dos palestinos na Faixa de Gaza ao avanço do narcotráfico em escala mundial; da seca de água que inferniza a vida de milhões de moradores de nossa maior metrópole (São Paulo) ao crescimento vertiginoso do fundamentalismo religioso em várias nações do planeta.

      Os indiferentes são como suicidas. Desistem cedo demais de apitar o jogo da vida. Delegam aos demais a tarefa de pensar o mundo em que vivemos e se omitem quando precisam se posicionar quanto ao mundo em que desejam viver. E são fatalistas. Desde sempre desvalorizam qualquer intervenção humana que possa alterar o curso da História, vista por este como longo período de guerra marcado por breves espaços de paz. Os indiferentes possuem uma força poderosa e inegável porque é a eles que cabe a pouco lisonjeira missão de aprisionar o espírito da época em que vivemos.

      E qual é o espírito desta época, o seu mais íntimo zeitgeist?

      Não é outro que o das forças que apontam vigorosamente para a unificação da espécie humana. E essa unificação passa necessariamente pela igualdade de gênero, a abolição do racismo, o estabelecimento de um padrão mínimo de justiça social que possa incluir e proteger as massas sofridas da humanidade.

      É um processo vigoroso que exige a completa reformulação do sistema Nações Unidas, começando por um novo desenho de seu ineficiente Conselho de Segurança e, também, o consequente reforço às salvaguardas capazes de impedir que uma nação de levantar armas contra outro qualquer. Na base de tais ações pontuais repousa a percepção inequívoca de que "a Terra é um só país e os seres humanos seus cidadãos".

      A unificação pressupõe um tácito acordo entre as religiões mundiais, cada uma fixando ações que promovam pontos de convergência e trabalhem juntas para o estabelecimento da paz no mundo e que, no fundo mesmo, passa por um vigoroso melhoramento do caráter humano – e convenhamos, que força social (e espiritual) oferece as melhores perspectivas enfrentar essa missão que as religiões?

      Feitas as contas, fechadas as reflexões, analisados os prós e os contras, o resultado é que temos mais é que apostar todas as fichas no mundo que está se desenhando no útero mesmo dessa Ordem mundial cambaleante e lamentavelmente defeituosa. E será um novo mundo, assim como novo é o ano que nos bate à porta.

      Bem-vindo, 2015.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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