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Bia Willcox

Bia Willcox é advogada, jornalista e pesquisadora nas áreas de Empreendedorismo, Inovação e Marketing. Atua como mentora de negócios e escreve sobre os impactos da hiperconectividade, da inteligência artificial e das tecnologias emergentes nas relações humanas e no futuro da sociedade.

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Quando a montanha vai até Maomé

Se é difícil envolver os alunos nas aulas e com os conteúdos necessários no formato tradicional, levemos o ensino pra dentro dos smartphones que os encantam

Drummond uma vez disse que perder tempo em aprender coisas que não interessam nos priva de descobrir coisas interessantes.

Apesar de essa ideia fazer todo o sentido pra mim, isso me remete a uma das questões mais difíceis do planeta: educação formal hoje, com tantas coisas interessantes fora da sala de aula ou pela janela dos smartphones dos alunos.

Sou o que os americanos chamam de natural teacher - sempre gostei de ensinar. Ajudei a alfabetizar meus irmãos mais novos e ainda aos 16 já gostava de dar aulas de inglês. E assim foi. Desenvolvi uma metodologia de ensino e sabe qual era o conceito? Ensinar o que tenha significado e que traga motivação.

Hoje, com as redes sociais e os messengers da vida, me sinto uma professora inexperiente entrando pela primeira vez em sala. Talvez pelo fato de hoje não estar mais dando aulas - a vida do business me deixou pedagogicamente medrosa. Ou talvez porque eu realmente me sinta impotente diante das rotinas dos alunos.

Volto ao Drummond.

Com certeza checar as fotos do Instagram e criar hashtags é bem melhor que aprender logarítimos, principalmente se o aluno sonha em ser artista ou historiador. Falar no whatsapp é quase compulsão, como tirá-lo das aulas para não dispersar? Não sou hipócrita - todos nós o usamos o dia todo com os intervalos que se fazem necessários, mas não tão longos quanto um turno na escola. Proíbe-se o uso de celular, então? E o controle "onde você tá? já chegou? volta que horas?" exercido pelos pais (e compreendo já que a qualidade de vida e de segurança em nossa cidade se deteriorou)?

Não vejo uma solução cartesiana que não envolva repressão. E essa é bom evitar, afinal, trata-se de educação. Vejo uma equação difícil onde:

x = a escola deve dar limites e exigir disciplina
y = a escola deve ser um espaço de felicidade, afinal boa parte dos anos dourados passamos dentro dela
z = temos que trabalhar na realidade de hoje (dos smartphones e suas muitas redes) e não na de 50 anos atrás.

Nessa inequação, priorizo o conteúdo e não a forma. Priorizo o resultado e não o processo. Acredito na máxima "se Maomé (!) não vai à montanha, a montanha vai a Maomé". Se é difícil envolver os alunos nas aulas e conteúdos necessários no formato tradicional, levemos o ensino pra dentro dos smartphones que os encantam. Levemos a competição, a brincadeira e, principalmente, a linguagem deles, para dentro dos aparelhos.

E assim tomei coragem e instruí a minha equipe: treinar vocabulário? quiz no whatsapp; desenvolver compreensão de textos? memes e posts populares no Facebook; treinar os ouvidos? séries populares na internet; informação e cultura? blogs e portais online. Isso tudo aonde? Em seus celulares. Os resultados têm vindo e os alunos faltando cada vez menos. Meu medo do tempo presente tá passando. E os alunos sendo felizes e aprendendo, como tem que ser.

Entendo melhor o nosso tempo. Se antes já não tínhamos que dar o peixe e sim ensinar a pescar, hoje, na era Google, Whatsapp e Facebook, a gente tem mesmo é que ensinar a fazer a vara de pescar, pois pescar mesmo, os adultos de amanhã já aprendem sozinhos.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.