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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

289 artigos

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Quanto custa a paz

No Brasil, dispomos igualmente de um governo que não se curva, não se humilha, frente a um país

Presidente dos EUA, Donald Trump (Foto: Reuters)

No filme O lado bom da vida, dirigido por David Russel, com Robert de Niro, Bradley Cooper e Jannifer Lawreance, esta encarna uma jovem traumatizada por detalhes de seu passado, razão pela qual não se lança numa aventura antes de examinar os sinais. É como se, por trás dos fatos, ingredientes significativos se espalhassem em torno das pessoas, advertindo-as sobre o presente. Não é a primeira vez que se insinua algo assim nas circunstâncias do mundo. Em seu livro A peste, Albert Camus também chama a atenção para tais minúcias quase imperceptíveis acompanhando a humanidade em instantes de tensão. A peste vem, mas avisa. Uma espécie de calmaria toma conta do ambiente e os seres humanos se percebem perdidos, inquietos, angustiados. Talvez não haja paralelos diretos entre essas situações e o que nos assalta hoje, num ambiente internacional de guerras, dúvidas e ameaças. Devemos nos acautelar. A paz tem um preço e lidar com ela constitui um desafio não desprezível. 

Nas tratativas com os Estados Unidos, Donald Trump à frente, a instabilidade toma conta das emoções. Pelas declarações absolutamente não diplomáticas que pronuncia, para não falar em acusações ou ameaças, é uma presença desestabilizadora. Arrogante, emite opiniões que pouco condizem com a verdade. Mostra-se agressivo e injusto, sem pudor. Agiu assim com o Canadá, o México e a Groenlândia (portanto, com a Dinamarca), além da Europa subserviente, sempre esperando homenagens e recebendo bofetadas. Não espanta que haja chegado nossa vez. Tarifas de 50% seriam apenas o começo, adverte Flávio Bolsonaro, louco para tirar proveito de possíveis desentendimentos em favor do pai. 

Com as pernas trêmulas, tomado de covardia, acrescenta: “Podem jogar uma bomba atômica em Brasília!” Enquanto isso, o Jair, de tornozeleira na canela, consciente de que se acha à beira da prisão, dá chiliques: “Não me preparei para a cadeia!...” Por sorte, nenhum dos dois nos comanda, muito menos o 03, o Bananinha, despeitado a ponto de entregar a alma aos bandidos, sem nenhum apego a compromissos nacionais. Num país feroz, já lhe haveriam cancelado a cidadania. Se gosta tanto dos EUA, que fique por lá, em companhia dos renegados Alan dos Santos e Paulo Figueiredo. Com eles, destile fel pelos caninos. Na verdade, gente dessa laia não funciona sob o manto da paz. Quer o conflito, a violência verbal, a guerra nos fronts da praça pública com ou sem seguidores. E lhe falta caráter para enfrentar adversários na arena política. Por isso, caminha nas sombras, se possível protegido pela Casa Branca.

 A personagem de Jennifer Lawrence, atraída pelo futuro e temerosa do passado, mesmo assim, ergue a cabeça. É o que a torna especial, pronta para enfrentar as agruras do momento. No Brasil, dispomos igualmente de um governo que não se curva, não se humilha, frente a um país, a ditadores ou tiranos. Supostos imperadores não lograrão enfrentá-lo. Se o fizerem, encontrarão um bom contendor. É assim que se ganha... a paz.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.