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Gislene Alexandre

Escritora em defesa da mulher negra rural e erradicação do trabalho infantil

5 artigos

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Quanto custa sua ideologia?

O governo tem como uma das prioridades de sua agenda passar a lei antiterrorista que classifica todo protesto e movimento social como um atentado à segurança nacional

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Definir um título para este texto levou bastante tempo. Me sentei diante do computador ouvindo uma música francesa cafona (e linda) enquanto escrevia e apagava por diversas vezes. O dilema se deu entorno da palavra custo. “Quanto custa ou quanto vale?” – Pensei muito até que voltei o pensamento para as aulas de economia e me lembrei que custo não é valor. Entretanto para o caso que vamos tratar aqui posso afirmar que quando algo tão importante tem preço, o custo pode ser muito maior e alguns danos são irreversíveis.

Tenho observado um fenômeno que vem ocorrendo frequentemente nas pequenas cidades e comunidades, e precisamos falar sobre isso com urgência. Alguns movimentos sociais perderam apoio e não conseguem mais manter projetos como fornecimento de alimentação, programas de bolsas estudantis, cursinhos populares, esporte, cultura e etc. Já sabemos que os programas de incentivo e financiamento agora são geridos por lacaios de Bolsonaro em nome de um projeto de transformar o país em uma teocracia neopentecostal e ultraliberal. Esses lacaios têm a obrigação de negar quantos recursos forem solicitados por pessoas ou entidades que lutam pela democracia, bem-estar social e pelas minorias.

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Um exemplo claro ocorreu esta semana quando A Fundação Nacional das Artes (FUNARTE) negou apoio de 145 mil reais ao Festival de Jazz do Capão, alegando que seria mau uso do dinheiro público. No parecer, a Funarte afirma que, “por inspiração no canto gregoriano, a música pode ser vista como uma arte divina, onde as vozes em união se direcionam a Deus”, e mais, coloca ainda que “a arte é tão singular que pode ser associada ao criador”.

O secretário especial de cultura Mário Frias (outro lacaio) comentou o fato do festival se propor a fazer propaganda antifascista. Segundo o lacaio, isso era fazer política, propagar a ideologia e deveria ser feito com dinheiro próprio.

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Após a polêmica o escritor Paulo Coelho, a quem direcionamos aqui todo o nosso carinho e respeito, se ofereceu para patrocinar o festival desde que fosse um evento antifascista e pela democracia. Você pode até dizer que pela rapidez que as coisas acontecem, este assunto já passou. Mas aí que você se engana. Este assunto é apenas um detalhe. Negar patrocínio é apenas uma represália. O governo tem como uma das prioridades de sua agenda, passar a lei antiterrorista que classifica todo protesto e movimento social como um atentado à segurança nacional. Deseja tornar a luta antifascista um crime. Deseja tornar a luta pela terra, a luta por moradia, o direito de expressão, as lutas por direitos trabalhistas e demais direitos básicos crimes. E enquanto a lei não passa, a direita vai se organizando e nos calando através de outras artimanhas.

Os protestos #ForaBolsonaro, que tem o próximo ato marcado para o dia 24 de julho em todo o Brasil estão evidenciando um fenômeno. Por medo de perseguição por parte de prefeitos bolsonaristas, funcionários públicos com estabilidade estão deixando de comparecer. Alguns líderes de movimentos de bairro dentre outros, estão preferindo ficar em casa e não participarem dos atos para não perderem apoio de deputados e vereadores bolsonaristas. Os mesmos deputados que votam cortando direitos, que são favoráveis à criminalização dos movimentos sociais financiam projetos e, em contrapartida recebem o silêncio de pessoas cujo primeiro chamado para o ato seria prontamente atendido. 

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Compreendemos a importância de algumas reformas pontuais que conseguimos em nome do pragmatismo. Entretanto quando estamos nas mãos do inimigo não temos nada. Se todas as pessoas de esquerda, anarquistas, humanistas, progressistas em geral assumissem seu papel nesta luta, que nem de longe é uma luta contra a direita, mas uma luta contra um projeto nefasto de destruição da nossa frágil democracia, portanto retomo, se cada um se posicionasse, seria menos doloroso e o custo por defender a vida, o direito e a ideologia seria rateado e cada um pagaria muito menos.

Não podemos aceitar afago das mãos que nos agridem. Esses poderosos e inescrupulosos a serviço do capital já entenderam que ao cederem migalhas, algumas lideranças aceitam o pacto de silêncio, pois assim conseguem alimentar sua comunidade ou prosseguir no seu projeto pessoal. Entretanto é preciso assumir a corresponsabilidade pela destruição do nosso país.

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Para terminar quero lembrar que clérigos da Teologia da Libertação preferiram pagar o preço de serem perseguidos dentro da própria Igreja. Escolheram ficar do lado dos pobres a terem paz. Os revolucionários que lutaram contra a ditadura preferiram correr o risco de pagarem com suas vidas do que viverem vidas sem propósito. Entretanto cada um deles sabia que podia confiar em seus camaradas. Eles sabiam que seus companheiros viriam. Marighella chegou a dizer que queria ser apenas um entre os milhões de brasileiros que resistem. E isso caro leitor, cara leitora vale para hoje. Isso significa que não adianta torcer para que alguém mais corajoso que você abdique de sua vida e se lance na guerra. Significa que você não pode se dar ao luxo de vender sua ideologia por um pouco de conforto e permitir que o outro pague o preço sozinho. Não há liderança sem grupo. Não seja o elo mais fraco! Não seja o alvo mais fácil porque se você está lendo este artigo significa que alvo você já é. Eu estarei à frente da batalha. Mas onde estará você quando o inimigo vier me abater?

Avante camaradas!

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Temos um país para recuperar. Nos vemos na rua dia 24 de julho.

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