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Marconi Moura de Lima

Professor, escritor. Graduado em Letras pela Universidade de Brasília (UnB) e Pós-graduado em Direito Público pela Faculdade de Direito Prof. Damásio de Jesus. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Leciona no curso de Agroecologia na Universidade Estadual de Goiás (UEG), e teima discutir questões de um novo arranjo civilizatório brasileiro.

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Quantos milhares de mortos por Covid-19 enterraremos no pós-Enem

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“O ar-condicionado está ligado. Está fria a sala. Mesmo assim, o suor escorre meticulosamente sobre o rosto tenso. As mãos trêmulas, já não conseguem desenvolver o percurso necessário sobre a folha de papel. Joaquim, sufocado, leva a mão à máscara, move-a de forma a aliviar um pouco aquela angústia. A máscara fica parcialmente deslocada da boca. Pedro, sem mais conseguir segurar, espirra abruptamente. O ar está preso naquela sala. Partículas de seres minúsculos se divertem levitando sobre aquelas faces concentradas. O ar que tenta achar uma brecha para sair chega até Joaquim. Sem saber, Pedro está contaminado. Naquele dia, Joaquim dará um beijo do afeto diário em sua avó assim que chegar em casa. Dona Rosa não resiste ao sufoco do neto. Dona Rosa vem à óbito. Joaquim se desespera em prantos inconsolável. Sem ter mãe e pai, Dona Rosa era a responsável por motivar Joaquim na realização de seu sonho de ser advogado...” [1]

Eu confesso que não consigo entender nosso País. Só pode ser um grande deboche dos deuses a instituição de uma sociedade chamada Brasil. Enquanto o mundo inteiro está preocupado com a pandemia, decretando novo “lockdown” frente à segunda onda do coronavírus, nosso País brinca de ignorar a doença: eleições ocorrem “normalmente”; festas de fim de ano acontecem à revelia; comércios completamente abertos e sem controle sanitário; e agora uma das maiores aglomerações do mundo, dada a prova do ENEM, em que milhões de pessoas estarão sentadas lado a lado com o SARS-CoV-2. Dos fascistas e negacionistas, eu espero tudo; contudo, dos democratas e republicanos (dos lúcidos deste País), não é possível crer que reine a irracionalidade funcional. E neste caso, reporto-me particularmente ao Poder Judiciário, pois a ação do Poder Executivo, faz tempo, deixa clara uma política de morte; e a omissão do Poder Legislativo é algo que não consegue mais nem beirar a podridão. Destarte, ou o Supremo Tribunal Federal, provocado pelo Ministério Público Federal, ou por alguma entidade competente para ajuizar uma Liminar, impede a realização do ENEM[2] até que tenhamos a vacinação de nossa gente, ou iremos perder as contas das milhares de pessoas mortas por conta de uma formalidade, embora necessária ao Brasil, que não é urgente para o momento. Caso os 11 ministros do STF e as autoridades do Brasil não façam nada para adiar mais um pouco esse importante evento, mas de enorme impacto e aglomeração, tentem viver sabendo que as suas digitais estarão pelo resto da história nas alças dos milhares de caixões das pessoas que se forem deste mundo no pós-ENEM.

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[1] Essa estória é apenas uma alegoria. As cenas não denotam um fato real. Compus à título de ilustração, agora sim, de uma potencial tragédia que venha a ocorrer (com outros personagens) na vida real se o ENEM acontecer antes do processo de imunização do povo brasileiro.

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[2] A estimativa é que perto de 6 milhões de pessoas farão o ENEM. Sem contar os trabalhadores que aplicarão a prova. Todos estarão em salas fechadas onde a circulação de ar é uma das maiores fontes de contaminação do vírus.

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