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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor do livro "Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil". Editor da newsletter "Noticiário Comentado" (paulohenriquearantes.substack.com)

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Que a COP 30 sirva ao clima, não aos demagogos climáticos

Já passou da hora de todos aqueles que, de certa forma, gerem orçamentos terem como prioritária a causa climática

Que a COP 30 sirva ao clima, não aos demagogos climáticos (Foto: Marcelo Camargo/BNDES)

O pesquisador Carlos Nobre, maior autoridade do mundo sobre Amazônia e clima, foi ao programa Brasil Sustentável para alertar sobre a necessidade urgente de se descarbonizar a Terra. Há décadas ele adverte sobre a questão, a ciência corrobora o que diz, as catástrofes climáticas também, mas o negacionismo ganha força com a assunção de Donald Trump ao comando do país mais poluidor do planeta. 

Vale o parêntesis: explorar petróleo na Bacia da Fox do Amazonas é, sim, um passo atrás no compromisso com a busca de fontes alternativas de energia assumido pelo Brasil.  E o argumento de que, por ora, a Petrobras vai “pesquisar, não explorar” tangencia a discussão premente. 

Há um ano e meio, conversamos com Carlos Nobre sobre o efeito estufa e suas consequências, as quais não virão amanhã – já estão aí. De nada adiantará a COP 30 gerar outra dúzia de compromissos e protocolos se as lideranças globais não se condoerem de fato com as vítimas já existentes da destruição da atmosfera, que não são poucas. A reversão dos malefícios da queima de carbono é para ontem, mas o modelito “fim do mundo” veste os mandatários dos países que deveriam se ocupar de reverter a devastação da natureza antes de qualquer outra coisa. 

Vejamos o Brasil. Chuvas refrescantes e amenas perdem espaço para temporais como os que causaram a megatragédia do Rio Grande do Sul e que provocam catástrofes quase anuais no litoral norte de São Paulo e na serra fluminense, e tantas outras Brasil afora. O Poder Público não toma iniciativa efetiva para prevenir o caos. 

“Nós temos o enorme desafio de salvar o planeta. Já vimos os riscos pelos quais estamos passando pelo aquecimento global no nível a que chegou. As temperaturas globais já atingiram um aquecimento de 1,5 grau em comparação com 1850-1900. É também o momento de mais alta temperatura dos oceanos – o Atlântico está muito quente, partes do Pacífico e do Índico também”, disse o professor Nobre a este jornalista.  

A ciência já demonstrou reiteradamente que o aquecimento é responsável pelo aumento de eventos meteorológicos extremos, chuvas muito intensas ou secas intermináveis. Também por ondas de calor, fenômenos muito graves, extremamente prejudiciais à saúde. “Tudo isso já acontece com muito mais frequência do que antes. As emissões dos gases de efeito estufa, responsáveis por todo esse enorme aquecimento, são quase 70% humanas – queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão, gás natural). Cerca de 23% devem-se à agricultura e aos desmatamentos”, disse-nos Carlos Nobre em entrevista recente.

O alarme soou há muito tempo, mas as lideranças globais têm preocupação apenas retórica. Quem, efetivamente, persegue as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris? As emissões continuam a aumentar, apontou-nos Nobre. “Nós estamos caminhando num cenário muito perigoso, num cenário em que o aumento da temperatura pode passar de 2 graus. A temperatura pode chegar a um aumento de 2,5 graus em 2050 - isso é um risco enorme, uma tragédia climática”, projetou. 

Não há saída para o planeta Terra a não ser remover uma grande quantidade de gás carbônico da atmosfera, o que é viável mediante projetos de restauração florestal. Neste momento, o mundo está bem perto do ponto de não-retorno. Já passou da hora de todos aqueles que, de certa forma, gerem orçamentos terem como prioritária a causa climática. O que se tem visto é a questão climática servir de conteúdo a discursos demagógicos.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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