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Leonardo Boff

Ecoteólogo, filósofo e escritor. Escreveu Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres, Vozes 1995/2015; em espanhol por Trotta, Madrid 1996, Dabar, México 1996

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Que Brasil queremos: justo ou apenas rico?

Qual é o pomo de discórdia na política atual no Brasil? A oposição optou pela macroeconomia neoliberal. Líderes da oposição proclamam que os salários são altos demais, que toda a Petrobrás bem como o Banco do Brasil, a Caixa e os Correios deveriam ser privatizados. Já conhecemos esta fórmula

Qual é o pomo de discórdia na política atual no Brasil? A oposição optou pela macroeconomia neoliberal. Líderes da oposição proclamam que os salários são altos demais, que toda a Petrobrás bem como o Banco do Brasil, a Caixa e os Correios deveriam ser privatizados. Já conhecemos esta fórmula (Foto: Leonardo Boff)
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A exaltação dos ânimos nos partidos e na sociedade nos dificultam discernir o que está, efetivamente, em jogo: que Brasil queremos? Um país justo ou um país rico? Logicamente o ideal seria termos um país justo e simultaneamente rico. Mas os caminhos que escolhemos para este propósito são diferentes. Uns o impedem, outros o possibilitam.

Se quisermos que seja justo devemos optar pelo caminho da democracia republicana, quer dizer, colocar o bem geral de todos acima do bem particular. A consequência é que haverá mais políticas sociais que atendem os mais vulneráveis diminuindo assim a nossa perversa desigualdade social. Em outras palavras, haverá mais justiça social, mais participação nos bens disponíveis e com isso uma diminuição da violência. Foi o que fez o governo Lula-Dilma tirando da fome e da miséria cerca de 36 milhões de pessoas junto com outros programas sociais.

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Se quisermos um país rico optamos pela democracia liberal (que guarda traços de sua origem burguesa) dentro do modo de produção capitalista ou neoliberal. O neoliberalismo coloca o bem privado acima do bem comum. Em função disso, prefere investimentos em grandes projetos e dar facilidades às indústrias eficientes para que consigam conquistar consumidores para seus produtos. Os pobres não são esquecidos mas apenas recebem políticas pobres.

Thomas Piketty mostrou em seu livro O Capitalismo no século XXI que o melhor caminho jamais excogitado para se alcançar a riqueza é o capitalismo. Mas reconhece que lá onde ele se instala, logo se introduzem desigualdades, pois ele é montado para acumulação privada e não para a distribuição da renda. Mostra-o melhor em seu outro livro A economia da desigualdade (Intrínseca 2015). Em outras palavras, as desigualdades são injustiças sociais, pois a riqueza é feita gerando pobreza. Impõe arrocho salarial, ajustes econômicos que prejudicam as políticas sociais e laborais e dificulta a ascensão das classes do andar de baixo. Predomina a concorrência e não a solidariedade. O mercado comanda a política, pratica-se a privatização de bens públicos e o Estado mínimo não deve intervir, cabendo-lhe a segurança e a garantia dos serviços básicos.

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E mais: a busca desenfreada da riqueza de alguns implica a exploração dos bens e serviços naturais hoje quase exauridos a ponto de termos tocado os limites físicos da Terra. Um planeta limitado não suporta um crescimento ilimitado. Precisamos de quase uma Terra e meia para atendermos as demandas humanas, o que a torna insustentável, inviabilizando a própria reprodução do sistema do capital.

A macroeconomia capitalista é imposta pelos países centrais, especialmente pelos os USA, como forma de controle e de alinhamento forçado de todos às estratégias imperiais. Mas como observou o macroeconomista da Universidade de Oregon, defensor do capitalismo, Mark Thoma, agora ele já não funciona mais, pois a crise sistêmica atual parece insolvente. A ordem capitalista está conhecendo o seu limite.

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Qual é o pomo de discórdia na política atual no Brasil? A oposição optou pela macroeconomia neoliberal. Líderes da oposição proclamam que os salários são altos demais, que toda a Petrobrás bem como o Banco do Brasil, a Caixa e os Correios deveriam ser privatizados. Já conhecemos esta fórmula. Ela é cruel para os pobres e danosa para os trabalhadores, pois favorece a acumulação e assim as desigualdades sociais. O capitalismo é bom para os capitalistas mas ruim para a maioria da população. A riqueza não pode ser feita à custa da pobreza e da injustice social.

Acresce ainda um elemento geopolítico que não cabe aqui detalhar. Os USA não toleram uma potência emergente como o Brasil, associada aos BRICS e à China que mais e mais penetra na América Latina. Há que desestabilizar os governos progressistas e populares com a difamação da política e de seus líderes.

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O PT e os partidos e grupos progressistas querem o caminho da democracia republicana e participativa. Visam a garantir as conquistas sociais e alargá-las. Não é nada seguro que a vitória do neoliberalismo vai mantê-las pois obedece à outra lógica, a do capital que é a maximalização dos lucros. O atual governo busca um caminho próprio na economia e na política internacional, com a consciência de que, dentro de pouco, a economia mundial será de base ecológica. Aí emergiremos como uma potência, capaz de ser a mesa posta para as fomes e as sedes do mundo inteiro. Esse dado não pode ser desconsiderado. Mas a centralidade mesmo será superar a vergonhosa desigualdade social, a pobreza e a miséria com políticas sociais com acento na saúde e na educação.

A oposição ferrenha ao governo Lula-Dilma tem como motor propulsor a liquidação deste projeto republicano pois lhe custa aceitar a ascenção dos pobres e de sua participação na vida social.

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Mas é este projeto que responde à angústia que devorava Celso Furtado durante toda sua vida: "por que o Brasil sendo tão rico, é pobre e com tantas virtualidades continua atrasado"? A resposta dada por Lula-Dilma mitiga a queixa de Celso Furtado é boa não só para os pobres mas para todos.

Compreender esta questão é entender o foco central da crise política brasileira que subjaz às demais crises.

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