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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Que horas elas voltam?

DE VOLTA À CÓRSEGA é um melodrama, sem dúvida, mas esculpido com perícia e atenção à matéria social por trás das ações

(Foto: Divulgação)

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Nada como um veraneio para fazer sacudir as emoções de uma família. Ainda mais quando o veraneio se dá numa ilha cheia de jovens hedonistas, com sol, mar e drogas à disposição.

Quinze anos depois de saírem de lá após um evento trágico, Khedidja e suas duas filhas retornam à Córsega com a rica família parisiense para quem Khedhija trabalha como babá. Expostas às tentações do presente e aos ecos do passado, as adolescentes Farah e Jessica vão viver aventuras emocionais determinantes para suas vidas.

De Volta à Córsega (Le Retour) mobiliza questões de classe, raça, culpa e oportunidade à medida que Jessica se envolve romanticamente com Gaïa, a filha do patrão da mãe, e Farah põe em ação sua veia transgressora em pequenos roubos e venda de drogas. Ao mesmo tempo, elas descobrem um pouco mais sobre o pai que pouco conheceram e a mãe que julgavam conhecer melhor.

Um melodrama, sem dúvida, mas esculpido com perícia contra o cenário escarpado e luminoso da Córsega. A diretora Catherine Corsini alterna com inteligência os pequenos e aparentemente opostos mundos de Jessica, a estudiosa e insatisfeita com sua condição, e Farah, a caçula rebelde mas solitária. É fácil reconhecer ali a complexidade que pode existir entre irmãs, sobretudo pelas atuações excepcionais e pela química entre as atrizes Suzy Bemba (Jessica) e Esther Gohourou (Farah).

O filme esteve a ponto de ser excluído do Festival de Cannes em função de denúncias de assédio profissional da diretora e da inclusão de cenas de sexo com atrizes menores de idade. Existe, sim, um bocado de sensualidade e alguma nudez na relação entre Jessica e Gaïa, mas o que ficou na montagem final não é nenhum pecado mortal. A cena mais estridente nesse sentido termina por se transformar num momento de comédia maluca no interior de um banheiro.

O aspecto LGBT, comum nos filmes de Corsini, geralmente produzidos por sua companheira Elisabeth Perez (vide A Bela Estação), é apenas um segmento de De Volta à Córsega. O que se impõe como grande virtude do filme, além do capricho na realização, é a forma como lida com a matéria social por trás das ações. Apesar das imensas diferenças de contexto, em vários momentos me veio à lembrança Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert. Até porque a filha da empregada que aponta para um futuro de ascensão social também se chama Jessica.

>> De Volta à Córsega está nos cinemas

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