Que venha 2026, será um ano turbulento
Que venha 2026, com os seus desafios, conflitos, lutas e resistências. Que venham as eleições de 2026 no Brasil e consigamos abrir o caminho para o futuro
Com certeza eu não conseguirei lembrar de todos os eventos ocorridos no decorrer de 2025, mas vale a pena relembrar algumas dessas situações, positivas e negativas, pois deixaram marcas e suas consequências possivelmente estarão presentes no ano de 2026.
Tudo indica que 2026 será um ano turbulento, tanto no Brasil e América Latina, como no resto do mundo e tentar fazer um uma breve retrospectiva de 2025 pode apontar o que nos espera no ano que chega.
Posso começar pela posse de Donald Trump, em janeiro de 2025. A primeira surpresa é que o seu mandato ainda não completou um ano e a sensação que temos é que o fanfarrão fascista ocupa há anos a cadeira da presidência dos Estados Unidos. O seu governo começou com ameaças dirigidas ao mundo todo, já anunciadas no discurso de posse, em conjunto com o seu vice JD Vance.
De cara disse que “os inimigos dos EUA, externos e internos, seriam os alvos do governo”. Ameaçou invadir o Panamá, o México, a Groenlândia, anexar o Canadá. Criou um tarifaço global, mobilizou a guarda nacional e colocou suas tropas contra a população das cidades governadas pelos democratas, especialmente as que têm prefeitos negros e mulheres.
Transformou a polícia de imigração (ICE) em uma verdadeira Gestapo e passou a perseguir, prender e deportar imigrantes, mesmo aqueles legalizados, separando famílias e criando pânico na população. Deslocou a frota de guerra para a costa da Venezuela, assassinou mais de cem pescadores venezuelanos e colombianos, roubou (com uso de violência), até o momento, três petroleiros da Venezuela. Trump mostrou a verdadeira face dos Estados Unidos, a sua natureza truculenta, uma ditadura plutocrática, violadora de direitos humanos, que não cumpre as normas do direito internacional, colocando em risco a paz no mundo e o seu próprio povo.
Trump também apresentou a nova política de segurança nacional dos Estados Unidos, reeditando a velha Doutrina Monroe e a política do “Big Stick” (política do porrete) de Theodor Roosevelt, centrando a sua atuação na retomada do “seu quintal”, a América Latina, e apontando inicialmente as suas armas contra a Venezuela e a Colômbia. Para tanto, primeiramente usou o pretexto de guerra contra o narcotráfico e criou a noção de narcoterrorismo, narco-ativismo e narco-Estados para atacar os governos de esquerda e centro-esquerda da região.
Na América Latina, o imperialismo neoliberal neofascista conseguiu algumas vitórias. Chile, Paraguai, Bolívia, Equador, Argentina, Peru estão sob governos da direita neofascista e neoliberal. Em 2026 teremos, nos meses de maio e junho, eleições presidenciais na Colômbia, com o risco de que a extrema-direita volte ao poder. Em outubro serão as eleições brasileiras com a possível reeleição de Lula, mas também com a possibilidade de um novo congresso bem pior do que o atual.
Enquanto isso, a Venezuela resiste aos ataques dos Estados Unidos e o cerco que se fecha.
No decorrer de 2025 vimos o aprofundamento da decadência da hegemonia dos Estados Unidos e do conjunto das potências imperialistas do Ocidente, revelando a face sombria, antidemocrática, violenta e a falsidade dos chamados valores ocidentais.
Foi também o ano em que perdemos a presença física de Pepe Mujica e do Papa Francisco.
Em 2025 as investigações sobre a tentativa de golpe violento por parte de Bolsonaro, militares e da extrema-direita brasileira revelaram que pretendiam assassinar o Presidente Lula, o Vice Alckmin e o Ministro Alexandre de Moraes e colocar o país sob uma ditadura.
Todas essas revelações juntamente com provas robustas levaram ao banco dos réus e à condenação o ex-presidente Bolsonaro e uma quantidade razoável de militares de alta patente.
No entanto, vimos que os neofascistas e neoliberais têm poder de fogo e até estes últimos dias do ano não têm dado trégua ao governo do Presidente Lula, com ataques nos editoriais da chamada grande mídia, com fake news, com a não divulgação dos sucessos do governo no campo social e econômico e, mais uma vez, preparando o ambiente hostil e golpista. Não podemos deixar de dar nomes aos bois de toda essa canalha, Globo, Folha, Estadão, Veja, Jovem Pan etc, além do grande capital financeiro (a chamada Faria Lima), classes médias incultas e iletradas, pastores fascistas da teologia do domínio (verdadeiros mercadores da fé) e toda aquela gente estranha que emergiu nos esgotos impulsionados pela articulação internacional da extrema-direita.
Por outro lado, os senhores da guerra ocidentais tocam alto os seus tambores, com a remilitarização da Alemanha, com Macron e Starmer anunciando que seus jovens devem se preparar para a guerra contra a Rússia. E por falar em Rússia, continua em alta na Europa a ensandecida “russofobia”, onde diariamente a grande imprensa bombardeia a população europeia com suas fantasiosas mentiras de que no dia seguinte acordarão com um tanque russo na porta de casa. Aqui, em terras europeias, vive-se a loucura, como se um cidadão lisboeta, a 5.000 km de distância de Moscou, estivesse ameaçado pelas tropas de Putin.
O Ocidente não apenas está em decadência e degradação moral, como passou a viver em um universo paralelo.
E quando aqui falamos em Ocidente não estamos nos referindo ao conceito geográfico, mas ao geopolítico, de Ocidente Coletivo Ampliado, onde se encontram o Japão e Austrália em contraposição ao Sul Global.
Da mesma forma que a Alemanha volta a se militarizar, temos o Japão com um governo de extrema-direita é que também passa a ter uma retórica hostil em relação à China e aumenta significativamente o orçamento com gastos militares.
Por trás de tudo isso temos a grande potência decadente da América do Norte.
Ainda falando de Ocidente e das suas ações pelo mundo afora, lembramos do cessar-fogo de mentirinha que em nada mudou a prática do genocídio em Gaza e a violenta ofensiva sionista na Cisjordânia, Líbano e Oriente Médio em geral. Na verdade o braço fascista do sionismo não se restringe à Ásia Ocidental (o chamado Oriente Médio), mas está presente em todo o mundo, inclusive dentro do território brasileiro, ameaçando as liberdades democráticas , os
direitos humanos e os valores de emancipação humana. O que muitos já sabiam foi confirmado em 2025, o sionismo é uma das pragas da atualidade e uma das expressões do neofascismo.
A guerra na Ucrânia ainda está em curso, na verdade uma guerra da Otan contra a Rússia, uma guerra por procuração em que o povo ucraniano entra como bucha de canhão para os interesses do decadente Ocidente Coletivo Ampliado.
Falando em decadência, nada mudou em relação à indecente e pusilânime posição europeia, enterrando todas as conquistas civilizatórias da sua história e preferindo realçar as suas vergonhosas características colonialistas e supremacistas. Mas também mostrando a traição covarde das lideranças europeias em relação aos seus próprios povos.
Também tivemos a eleição em Nova York de um prefeito socialista e muçulmano, Zohran Kwame Mamdani. A decadência do império também cria terremotos internos e podemos vir a presenciar no futuro o renascimento de um forte movimento de esquerda naquele país.
O Brasil, como um dos países mais importantes do Sul Global, está sob o cerco da extrema-direita fascista neoliberal com forte sustentação interna em forças políticas neofascistas e neoliberais representadas pelos bolsonaristas, pelas classes dominantes colonizadas oligárquicas e seus inúmeros representantes, no agro, na Faria Lima, nos grandes meios de comunicação, na alta cúpula militar, nas igrejas e em grande parte das classes médias.
Mas o ano de 2025 também aqueceu um pouco os nossos corações com a premiação do Óscar de melhor filme estrangeiro para o filme “Ainda estou aqui”, levando ao grande público, nacional e estrangeiro, a mensagem de que tortura e ditadura nunca mais.
Que venha 2026, com os seus desafios, conflitos, lutas e resistências. Que venham as eleições de 2026 no Brasil e consigamos abrir o caminho para o futuro.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

