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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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Queda de braço perigosa

Cabe assinalar que Lula possui experiência e maturidade para contornar as dificuldades e vencer nos dois turnos do próximo pleito

Congresso Nacional (Foto: Antônio Cruz/Ag. Brasil )

Ao longo da nossa história republicana, foram muitas as tentativas de golpe. A de Deodoro, voltando-se contra o Império, a de Floriano Peixoto e assim por diante, até recentemente com a instalação da ditadura militar, em 1964. Isso para não mencionar o que afastou Dilma Rousseff do poder, com a aprovação do impeachment recheado de falsos pretextos. Tantas manifestações de autoritarismo instilam no espírito dos nossos contemporâneos uma sensação de cansaço, como se ninguém mais tolerasse essas medidas de exceção. Mesmo assim, é certo que os conspiradores de extrema direita ou de centro, inconformados desde a última eleição, transitem no traiçoeiro terreno das confrontações para alcançar tais objetivos. É pelo menos a leitura que se pode fazer dos acontecimentos nas votações do Congresso, derrubando hipóteses de arrecadação do governo, para não citar acidentes significativos embora de pequena monta. 

O que se pretende, com eles, diz respeito a atitudes que visam enfraquecer nosso frágil equilíbrio de poderes. Se fosse possível atentar contra o judiciário, sem dúvida o fariam. Como não logram chegar tão longe, atacam os ministros do Supremo com sugestões de arbítrio e coisas semelhantes, tendo Alexandre de Moraes como alvo principal. Frente a um governo tão hábil como competente, vociferam, agridem as autoridades nos cargos, difamam e usam as redes sociais para lhe aumentar o desgaste. São táticas que até o presente não tiveram sucesso, além de arranharem, apenas arranharem, os relacionamentos institucionais.

A derrota do governo no caso da taxação do IOF se contrapõe à aprovação, no Senado, do Dia da Amizade com Israel. Esta, para se efetivar convenientemente precisaria contar com a assinatura de Lula, um incômodo constrangedor quando mais nos distanciamos de Tel Aviv em virtude dos massacres de Gaza, condenados no mundo inteiro. Patrocinado por Davi Alcolumbre, o presidente da Casa, aquilo soava como provocação, como afronta à própria linha de nossa política externa, avessa às barbaridades cometidas na Palestina. Estudando as matérias em pauta nas suas verdades ocultas, comentaristas não demoraram a interpretar primórdios da corrida eleitoral para 2026. Neoliberais e financistas da Faria Lima, associados a parte da imprensa conservadora, com o Tarcísio de Freitas como o seu candidato, uniram-se num arco amplo para desestabilização da nossa democracia, com o sacrifício do Presidente da República. Resta verificar se o plano dará certo. 

Cabe assinalar que Lula possui experiência e maturidade para contornar as dificuldades e vencer nos dois turnos do próximo pleito. A seu favor, estará um cansaço nacional contra as intentonas e o desejo de que se obedeça às normas do sistema. As condenações pelo STF em torno dos vândalos do 8 de janeiro e bolsonaristas de plantão representam a amostra institucional para coibir as ousadias mais irreverentes. As quedas de braço de inconformados encontrarão o seu destino: a lata de lixo da História.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.