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Miguel do Rosário

Jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje

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Quem é o procurador que persegue Lula?

A perseguição de Serra Azul contra Lula, enquanto FHC é deixado em paz, reflete esse espírito vingativo e aristocrático do MP. FHC mereceu ser presidente, porque estudou na Sorbonne e fala francês. Lula não. Tem de pagar pelo crime de governar o Brasil

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O Ministério Público Federal, através de um parecer assinado por Marcelo Antônio Ceará Serra Azul, entrou com uma ação de improbidade administrativa contra Lula. A mesma ação já havia sido anulada pela Justiça, mas o MP apelou, e trabalha para que a denúncia seja aceita pela Justiça.

Tudo muito bem, só que é importante a gente lembrar alguns episódios. E jamais esquecer que o Ministério Público, que tem a nobre missão de combater a corrupção e a incompetência administrativa, também tem seus problemas.

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O MP tem muitos integrantes ilibados e valentes, mas há momentos em que aqueles que cultivam rancores políticos e se associam a forças partidárias conservadoras (para não dizer mafiosas), parecem predominar.

Serra Azul, o procurador que assina o parecer contra Lula, por exemplo, além do sobrenome de pirata, tem uma mácula em seu passado que, pelo jeito, ainda não se apagou por completo.

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Ele acompanhava outro procurador José Santoro, quando este tentou pressionar Carlos Cachoeira, a entregar uma certa “fita” que poderia prejudicar José Dirceu.

O escândalo foi parar no Jornal Nacional (que tentou, mesmo assim, aliviar a barra de Santoro, ao lhe dar todas as chances de se explicar):

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(O vídeo acima foi editado por mim para mostrar somente a parte em que Serra Azul é citado; a íntegra da matéria do Jornal Nacional está aqui).

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Santoro não ocultava seus objetivos: atingir José Dirceu e “derrubar o governo do PT”.

O caso chocou parte da opinião pública, e obrigou o então procurador-geral da República, Claudio Fonteles, a entrar com uma representação contra três procuradores:

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O coordenador criminal do Ministério Público Federal em Brasília, Marcelo Antônio Ceará Serra Azul, o procurador Mário Lúcio de Avelar, bem como o sub-procurador, José Roberto Figueiredo Santoro, que extrapolaram suas funções na investigação do caso Waldomiro, poderão sofrer desde a pena mínima de advertência até a máxima, que seria a demissão.

Os atos por eles praticados afrontam “ao princípio do Promotor Natural e improbidade administrativa na modalidade de violação do dever de lealdade para com a Instituição”, no entender de Cláudio Fonteles, procurador-geral da República, que, nesta quarta-feira (31/3), encaminhou à Corregedoria-Geral do órgão pedido de abertura de inquérito administrativo. (veja íntegra abaixo)

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Segundo Fonteles, ao tomarem conhecimento, no dia 4 de fevereiro passado, das fitas gravadas da conversa entre Waldomiro Diniz e o bicheiro Carlos Cachoeira, que foram enviadas pelo senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) com um pedido de investigação, deveriam ter encaminhado o material para o primeiro grau. “Eles invadiram atribuições”, afirmou.

Na época, a senadora Ideli Salvati foi à tribuna expressar sua suspeita de que Serra Azul estaria associado a Carlos Cachoeira, porque o procurador havia “anistiado” a Gtech, da qual Cachoeira era sócio, e jogado todo o peso do MP sobre a Caixa.

O próprio Dirceu também descobriu que Serra Azul entrara na Caixa para levar documentos, sem autorização judicial.

Uma rápida pesquisa nos permite descobrir que Serra Azul integrava o grupo de procuradores ligados à José Serra, do qual fazia parte Santoro, Mário Lúcio de Avelar; na Polícia Federal, o serrista mais conhecido era Marcelo Itagiba. Santoro, Avelar e Itagiba estiveram à frente, por exemplo, do caso Lunus, onde Serra conseguiu a proeza de extirpar pela raíz a candidatura de Roseane Sarney.

(Digressão: assista essa denúncia do deputado estadual Marcelo Freixo, que acusa Itagiba de ser um dos nomes mais constantes na CPI da Milícia, e que a milícia no Rio de Janeiro jamais cresceu tão rápido e matou tanta gente como quando Itagiba esteve à frente da secretaria de Segurança.)

A relação entre Serra Azul e Serra vem desde os tempos em que o tucano foi ministro da Saúde e montou uma espécie de “central de inteligência e contra-inteligência” no próprio ministério.

Matéria da Folha de 31 de outubro de 2001 informava que o empresário Alexandre Paes dos Santos, 47 anos, vivia um estranho pesadelo. Após comentar com uma jornalista sobre um esquema dentro do Ministério da Saúde para forçar empresários a colaborar no caixa de campanha de José Serra (seria um dos “mensalões” de José Serra?), o procurador Serra Azul apareceu na sua vida como um anjo vingador – em defesa de Serra. De possível denunciante, Santos passou a ser investigado.

“O procurador Marcelo Antonio Ceará Serra Azul, o ministro e o assessor, segundo Santos, estariam invertendo a situação. No lugar de investigarem sua denúncia de que existiria no ministério um esquema para forçar empresários a colaborar com a caixa de campanha presidencial de Serra, ele, Santos, é que passou a ser investigado por supostamente levantar suspeitas que visam obter benefícios para seus clientes.

O esquema do ministério seria, segundo o advogado Felipe Amodeo, um crime de concussão (extorsão ou peculato cometidos por servidor público no exercício da função). A acusação contra Santos é de tentativa de extorsão.”

Essas informações servem para alertar os cidadãos a olharem o Ministério Público com o mesmo grau de desconfiança que tem contra o Legislativo e o Executivo. O jogo pesado de poder e a corrupção estão tão entranhados no Ministério Público como em qualquer outra instituição. Com um agravante: os procuradores são como príncipes. Não passam pelo filtro do voto popular e gozam de uma blindagem e imunidade que nenhum parlamentar, ministro ou mesmo presidente da república, possuem.

Além disso, não é difícil observar, no seio do Ministério Público, a presença de uma mentalidade profundamente aristocrática, e um preconceito muito grande contra a classe política, vista como inculta, corrupta e incompetente. A figura de Lula, especialmente, por encarnar exatamente o oposto do perfil sociológico de um membro do Ministério Público, desperta um ódio irracional.

No julgamento do mensalão, esse ódio corporativo veio à tôna com muita força. Ao apresentar oficialmente a denúncia, Roberto Gurgel, não expõe somente os supostos fatos que deveriam levar à condenação: ele faz um discurso muito mais adjetivo do que substantivo. É um discurso de ódio e ressentimento. Como figura mais importante do Ministério Público naquele momento, Gurgel representava o neocoronelismo burocrático, já denunciado por Raymondo Faoro, cuja obra, ironicamente, é citada por Gurgel no discurso, mas sob um viés totalmente deturpado; Faoro antevira o golpe de Estado de 64 ao alertar que o coronelismo renascia disfarçado na burocracia.

O neocoronelismo burocrático, alertava Faoro, seria a maneira como as elites reagiam à democracia, sobretudo quando, após Vargas, perdem as prerrogativas de controlar (e fraudar) o processo eleitoral. Para setores da elite, a democracia implica em perda de poder. Por isso, o espírito de vingança, que perdura até hoje.

A perseguição de Serra Azul contra Lula, enquanto FHC é deixado em paz, reflete esse espírito vingativo e aristocrático do Ministério Público. FHC mereceu ser presidente, porque estudou na Sorbonne e fala francês. Lula não. Lula tem de pagar pelo crime de ganhar as eleições e governar o Brasil. Com o julgamento do mensalão, derrubaram alguns dos melhores quadros políticos do PT. Agora é a vez do próprio Lula.

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