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Roberto Bueno

Professor universitário, doutor em Filosofia do Direito (UFPR) e mestre em Filosofia (Universidade Federal do Ceará / UFC)

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Quem é Steve Bannon? (I)

Em Stephen Kevin Bannon (1953-), floresceram as mais favoráveis condições culturais para a reconfiguração das forças político-partidárias alimentadoras da revolução neofascista devidamente mascarada com falsa roupagem neoliberal-capitalista

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Stephen Kevin Bannon (1953-), ou simplesmente “Steve” Bannon, como ficou conhecido mundo afora, é um personagem que vergou o subsolo da ideologia neoconservadora e emprestou-lhe novo rumo ao semear solo autoritário bastante fértil. Nele floresceram as mais favoráveis condições culturais para a reconfiguração das forças político-partidárias alimentadoras da revolução neofascista devidamente mascarada com falsa roupagem neoliberal-capitalista. Esta é o sentido dos fatos nas Américas e na Europa sob intensidades diversas para articular os interesses do império norte-americano e seus associados capitalistas.

De família católica irlandesa simpática aos democratas, Bannon percorreu caminho inverso ao seu núcleo originário, e após finalizar seus estudos, ainda antes de seus 30 anos começou a trabalhar no mercado financeiro no auge da década de 1980 sob os intensos efeitos do neoconservadorismo neoliberal da era Reagan, recrutado pela flamejante Goldman Sachs (NY) (1984-1990), passo prévio a sua mudança para Los Angeles. Sairia em 1990 com colegas da Goldman para fundar uma empresa, a Bannon & Co, tendo como objeto declarado era realizar investimentos em mídia, cujas operações lhe foram aproximando mais de homens e instituições que logo seriam de extrema utilidade para as suas futuras ocupações e opções políticas.

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Em Los Angeles Bannon atuou em diversos setores, da banca à produção de filmes mas principalmente como executivo de mídia. Nesta posição Bannon desenvolveu habilidades de manipulação importantes para a propaganda política, como a sensibilidade para compor e divulgar notícias falsas nas redes sociais. Expressiva parte delas vem sendo construída a partir de uma “falsa cidadania”, a saber, um conjunto digital de alta voltagem, com alta capacidade de interferir e formatar a percepção pública sobre os fatos políticos, econômicos e culturais de um determinado grupo humano. Até aqui a carreira de Bannon expressa o perfil de uma figura que evolui de homem da Marinha a financista da Goldman Sachs, produtor em Hollywood e depois transformado em rei da mídia de direita nos EUA.

Na atividade midiática Bannon atuou durante longos anos à frente do conhecido site de notícias “Breitbart News”, organização midiática da “alt-right” norte-americana financiada com fundos privados, mas já era notável o êxito do site quando conseguia 17 milhões de visitantes. Antes que Donald Trump surgisse no cenário e obtivesse a vitória eleitoral o Breitbart News serviu para atacar o então Presidente Obama e ao establishment, focando criticamente temas como comércio, globalismo e a imigração, o que predominantemente ocorreu antes de 2015, sendo que logo após tornou-se uma bem azeitada máquina de propaganda favorável a Trump, levando a que seus detratores não hesitassem em apelidá-lo de “Trumpbart News”.

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Corria o ano de 2012 quando Bannon assumiu o controle da direção executiva do no site de notícias Breitbart News, e sua marca ideológica foi a emissão de opiniões e comentários sob o tom de extrema-direita explicitando admiração por fascistas ditadores, teocratas e fanáticos de toda sorte, tudo isto temperado por convicções antiglobalistas, tendo em perspectiva a realização de uma radical transformação em escala mundial através da articulação de grupos nacionalistas de extrema-direita neofascistas. O nacionalismo encarnado por Bannon e sua área de influência é de muito difícil justificação (se acaso viável) relativamente aos interesses da economia e da soberania dos países de economia periférica sob os quais orientam o exercício de sua influência.

As habilidades de Bannon continuaram a ser desafiadas até alguns anos após quando já afastado de suas funções na Breitbart foi trabalhar como assessor político de Trump. Durante a campanha eleitoral atuou como diretor executivo da campanha a partir de agosto de 2016, apenas poucos meses antes de fevereiro de 2017, quando mereceu a capa da revista Time, que o reconhecia como o verdadeiro cérebro pensante do obtuso Trump, alguém que logo demonstraria extremas habilidades publicitárias e manipulatórias.

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Bannon pertenceu ao Conselho da Cambridge Analytica, empresa criada em 2014 pelo bilionário norte-americano Robert Mercer, tendo como objetivo auxiliar o espectro ideológico conservador. Eleito Trump, e tendo anunciado o seu desligamento definitivo da Breitbart em 9 de janeiro de 2017, Bannon foi uma das primeiras nomeações da nova administração, a quem serviria como estrategista-chefe na Casa Branca, embora por curto período até agosto de 2017, mas que se revelou intenso espaço de ofensas, com a veiculação de notícias atravessadas e o objetivo de ampliação das esferas de conflito e medidas doses de desorientação fronteiriças com o caos.

Bannon operou grande parte das estratégias de mídia carregadas do que Trump publicamente negava ser a sua real opção político-ideológica, a saber, racismo, defesa do supremacismo, sexismo, e o conjunto de valores distanciados daqueles ordinariamente associados com a democracia plural e tolerante cultivada nos meios liberais ilustrados. A este respeito David Duke (Tulsa, 1950) veio a público afirmar que Bannon estava a criar o espectro ideológico sobre o qual os EUA seriam conduzidos no futuro próximo, que avaliamos recheado de perigos quando se sabe que Duke foi em seu momento o grande líder da Ku Klux Klan.

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Sob este abandeiramento ideológico Bannon pode ser considerado o primeiro norte-americano de extrema-direita desde meados da década de 1930 cujas ideias efetivamente passaram a contar na cena pública, inclusive internacionalmente. Desde a experiência nacional-socialista este ideário extremista não havia encontrado tamanho espaço nos países em que a democracia foi brandida como valor-eixo das instituições, malgrado as corrosivas atividades plutocráticas dedicadas a solapá-la tenham sido incessantes.

O conteúdo ideológico com o qual Bannon contamina as suas ações e impregna os seus contatos vem insuflado por uma personalidade excepcionalmente compatível com a finalidade belicosa que despreza os meios para alcançar os fins de dominação global aos quais serve. Há quem aponte o quão intenso é o compromisso de corte racista que prioriza os valores judaico-cristãos alimentados por Bannon, que os combina e resolve em composição étnica caucasiana associada a conteúdos sexistas e xenofóbicos, focando o islamismo (outro) como inimigo. Bannon é também orientador de estratégias solapadoras das estruturas de Estado, apontando para uma espécie de falso anarquismo que poderia apenas aproveitar às grandes plutocracias fascistas globais.

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Firme o plano ideológico de Bannon, era indispensável encontrar vias eficientes para dispor de eficientes formas de também alcançar êxito em eleições fora dos EUA, e para tal finalidade a Cambridge Analytica, tão próxima a Bannon, desempenhou papel central para a obtenção ilícita dos dados do Facebook, algo logo trazido ao conhecimento público de forma impactante em março de 2018. A Cambridge Analytica foi central para o processamento de dados obtidos ilegalmente junto ao Facebook supostamente através da quebra de códigos de acesso digital, tornando possível a manipulação decisiva do eleitorado. Este acesso permitiu obter informações de aproximadas 30 milhões de contas individuais, que tiveram descobertos dados particulares assim como as últimas pesquisas realizadas na internet, facilitando assim a montagem de um avançado perfil psicológico individual aparentemente muito útil para influenciar as eleições brasileiras de 2018.

Vencido o processo eleitoral, a articulação norte-americana para dar sequência a crescente influência no Brasil foi declarada abertamente por Bannon em jantar com Olavo de Carvalho em sua casa em Washington presenciado por segmento da mídia conservadora impressa brasileira. Na oportunidade Bannon deixou claro que o Brasil ocupa posição geopolítica chave para que os EUA possam contrabalançar o poder da China, e neste aspecto o títere Bolsonaro representaria a chance dos EUA espalhar o seu “Movimento” pela América Latina, ou seja, o Brasil e sua política externa recebem o tratamento de mero apêndice dos interesses do império.

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A estratégia de poder norte-americana é conduzida pela atual administração em perfeita coordenação com as diretrizes típicas desenhadas por Bannon que visa dispor livremente não apenas do Brasil para extrair os recursos e riquezas necessárias para a concretização de sua política de enfrentamento com a China, senão de toda a América Latina. Para tanto são empreendidos movimentos de desestabilização tais como os provocados na Argentina, Bolívia e no Equador, país em que a estratégia implicou mover peças para substituir o progressista Correas por Lenin Moreno, virtual traidor do projeto político popular e progressista. Certamente, nestes dias em nenhum outro país os movimentos de desestabilização são mais perceptíveis do que na Venezuela, e a concepção geopolítica que a inspira certamente está bastante próxima ao pensamento de Bannon. (segue)

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