Quem ganhou e quem perdeu nessa guerra?
"O sofrimento palestino foi mostrado em todo o mundo, refletindo-se no reconhecimento generalizado do seu Estado", escreve Emir Sader
Numa guerra inútil como essa, em princípio todos perdem. As maiores vítimas foram os quase 70 mil mortos palestinos, a grande maioria da população civil. Mas o maior derrotado foi Israel.
Foi derrotado seu objetivo de anexar o território de Gaza, para construir o Grande Israel. Mas, principalmente, porque saiu da Guerra com a justa pecha de país genocida. Com toda a destruição que produziu em Gaza, sai perdedor, politicamente.
Nunca mais a imagem de Israel será a de um pais vitima do holocausto. Essa imagem ficou para trás, coberta pela de um país genocida.
Netanyahu sai como herói para a direita israelense, mas muito provavelmente perderá o poder, com a guerra terminada, já que ele só servia para a guerra. Não tinha o apoio da opinião pública interna e deve cair, porque não serve para a paz.
O Estado da Palestina, com todas as vítimas que sofreu, saiu com o reconhecimento de grande parte da comunidade internacional, além da consagração da tese dos dois Estados como parte indissociável dos acordos de fim da Guerra. O sacrifício dos palestinos, nesse sentido doloroso, serviu para consagrar o seu direito a ter um Estado.
De alguma forma, o Hamas também saiu vencedor ou, pelo menos, teve o seu reconhecimento como participante dos acordos de paz, apesar da declaração dos governantes da Palestina de que não o incluiriam. Haverá eleições para o novo governo da Palestina: o Hamas pode ser o mais votado, com o reconhecimento da sua ação - qualificada pela mídia internacional como terrorista, sempre que se referem a ele, sem que nunca digam “o Estado genocida de Israel”.
Ao deter os reféns, o Hamas impôs sua participação nos planos de paz, tendo participado na reunião do Cairo num tete-a-tete com Israel, como as duas forças predominantes na Guerra.
Donald Trump sai fortalecido, vendo seu plano de paz realizado. Apesar de ser o maior abastecedor de armas para o genocídio cometido por Israel, Trump termina saindo como o pacificador, na sua campanha pelo Nobel da Paz. Se Henry Kissinger ganhou, por que não ele?
Como sai o Oriente Médio, depois de mais uma guerra? Com a ideia dos Dois Estados fortalecida, como já dissemos. Com Israel mais isolado ainda no mundo. Com a Síria de governo novo cujo futuro é uma interrogação. Com o Egito, mais uma vez fortalecido como mediador da paz. Com o Irã isolado. Com a solidariedade árabe em torno da Palestina confirmada e fortalecida.
Mais uma guerra inútil, brutal, devastadora para Gaza e para os palestinos. Como eu já havia conhecido, nas casas das famílias árabes na Cisjordânia, as paredes estarão ainda mais recheadas das fotos dos mortos de cada família. As viúvas e os órfãos serão ainda muito mais
A reconstrução de Gaza levará uns 10 anos, sem que se diga quem pagará os custos da destruição. Certamente não será Israel, o responsável por toda a destruição.
O sofrimento palestino foi mostrado em todo o mundo, refletindo-se no reconhecimento generalizado do seu Estado. As eleições próximas mostrarão a fisionomia do seu novo governo, pela vontade do povo palestino.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




