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Evilázio Gonzaga Alves

Jornalista, publicitário e especialista em marketing e comunicação digital

48 artigos

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Quem ganhou e quem perdeu no sete de setembro

A análise dominante indica que Bolsonaro está derrotado, isolado e domesticado. Será?

(Foto: Divulgação)
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O centrão vai tentar de estabilizar o governo, pois seu maior interesse é o dinheiro; ninguém garante que Bolsonaro está domesticado; a terceira via morreu dia 12 de setembro; enquanto Lula viabiliza sua candidatura e a governabilidade.

O EXEMPLO NAZIFASCISTA DE BOLSONARO

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A análise dominante indica que Bolsonaro está derrotado, isolado e domesticado. Será?

A Batalha de Moscou, ocorrida entre outubro de 1941 e janeiro de 1942, determinou a derrota da Alemanha Nazista na Segunda Guerra Mundial. Caso Hitler fosse um dirigente normal, seja de esquerda ou direita, ele se movimentaria para obter a paz em uma posição ainda muito vantajosa. A Alemanha, a partir da dominação do coração da Europa e do prestígio de suas forças armadas, poderia obter ganhos geoestratégicos, políticos e econômicos, que fortaleceriam o país. A insistência em prosseguir no conflito, lançando uma nova ofensiva no verão seguinte, que terminou na derrota de Stalingrado, levou à quase destruição da Alemanha – o que só não ocorreu porque, logo após o fim da conflagração, começou a Guerra Fria, o que levou aos Estados Unidos e URSS a estabelecerem uma espécie de amortecedor armado entre os dois impérios.

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De acordo com o historiador e economista Adam Tooze, no livro “O preço da Destruição”, a Alemanha não teria condições econômicas de obter a vitória, exceto em uma campanha rápida, com objetivos delimitados e alcançáveis. De acordo com Tooze, o parque industrial das potencias que se aliaram contra a Alemanha era imensamente maior do que o se seus adversários do Eixo.

Como já havia ficado claro na Primeira Guerra Mundial, as guerras modernas são decididas pelo poder industrial. Os estrategistas profissionais da Alemanha compreendiam o peso das indústrias nos conflitos modernos e a ideia da blitzkrieg surgiu para evitar conflitos longos de desgaste. A liderança tradicional alemã pretendia recuperar alguns territórios e reposicionar o país como grande potência, porém não desejava um engajamento bélico longo, pois estava ciente do poder econômico e material dos seus adversários.

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Hitler pensava diferente e colocou no planejamento estratégico do país a ideia da Lebensraum, o conceito do “espeço vital”, uma teoria desenvolvida no século XIX, por Friedrich Ratzel, inspirado no modelo de colonialismo dos Estados Unidos, que a partir das 13 colônias originais, ocupou um imenso território da América do Norte, promovendo o genocídio dos povos que viviam naquelas terras.

A teoria original de Ratzel visava estimular o Império Alemão à expansão, através da conquista de colônias na África e Ásia. Entretanto outras figuras, especialmente os nazistas reinterpretaram as teorias originais, para orientar a expansão em direção às terras eslavas e nórdicas.

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Para convencer a elite financeira e intelectual de seu país, Hitler deu uma aparência mais pragmática ao projeto de expansão, alegando que a invasão da União Soviética tinha objetivos econômicos e visava controlar os férteis campos agrícolas da Ucrânia e as imensas jazidas de petróleo do Mar Cáspio e Cáucaso.

O PODER NAZIFASCISTA DEPENDE DE BRAVATAS

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Hitler precisava de tais projetos mirabolantes, porque seu poder dependia de uma série infindável de bravatas. As últimas eleições alemãs, antes do Incêndio do Reichstag, deram ao partido nazista apenas 33% dos votos. O ditador chegou ao poder através de um acordo com a oligarquia conservadora do país e os liberais donos do dinheiro. Para se manter na direção do governo, Hitler combinou a estratégia de expandir a economia, através de obras públicas e a reconstrução das forças armadas; com a manutenção do país em um estado de tensão permanente de cunho nacionalista.

O povo alemão foi levado viver uma série de eventos angustiantes. Logo que um era encerrado, outro o substituía.

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A série começou com os desafios aos termos do tratado de Versalhes, que estabeleceu a rendição incondicional da Alemanha na Primeira Guerra Mundial. Hitler primeiro anunciou que iria elevar o efetivo do exército alemão, para acima do contingente determinado no acordo, que era de 300 mil soldados. Depois, veio a restauração da força aérea, a construção de navios de tonelagem superior ao permitido e várias outras medidas desafiadoras, que visavam ir testando limites, até que ele determinou a perigosa remilitarização da Renânia, um território germânico, na fronteira com a França, onde o país estava proibido de manter forças militares. O povo alemão ficou em suspense, esperando uma reação da França, que não veio.

Apesar do exército francês poder ter expulsado os alemães facilmente, pois este tinha ordens para não resistir e retirar se necessário, os governos francês e britânico continuaram com a política de apaziguamento.

A vitória diplomática entusiasmou a população germânica, o que fez a popularidade e o poder de Hitler aumentarem. Estimulado pelos sucessos, o chefe nazista se sentiu estimulado a testar limites cada vez mais ousados, que levaram à incorporação da Áustria, a ocupação da Tchecoslováquia e à Segunda Guerra Mundial.

PAZ É INCOMPATÍVEL COM O NAZIFASCISMO

Após Moscou, Hitler poderia ter iniciado negociações a partir de uma posição de força, o que era possível na época. Suécia e, também, os Estados Unidos (país cujas empresas continuavam negociando normalmente com a Alemanha) se mostravam dispostos a servir como intermediários. O ditador alemão, ainda mantendo grande popularidade – inclusive porque controlava os meios de informação – descartou as expectativas da elite do país, que via com bons olhos a possibilidade de negociações.

Como a história registra, a permanência no conflito foi um terrível erro. No entanto, para Hitler não havia outro caminho, pois, seu poder dependia de um permanente estado de tensão. Aceitar negociações, mesmo que em posição favorável, significava distensionar e reduzir o estado de tensão emocional da sociedade, o que era, talvez, o seu principal elemento de manutenção do poder. Se a Alemanha voltasse à normalidade, mais poderosa e com economia fortalecida, Hitler seria descartável, porque o ressentimento de massa, provocado pela derrota na Primeira Guerra e a forma como as potências vendedoras trataram a Alemanha, iria se dissipar pela nova realidade.

Hitler estava preso no personagem que representava, como os príncipes tiranos descritos por Maquiavel. Para essas figuras, só há um caminho para manter o poder: a mobilização permanente das emoções populares, através da fabricação de crises, desafios e conflitos constantemente.

Se Hitler ou Mussolini não mantivessem seus países em uma interminável série de conflitos internos e externos, a população voltaria a atenção para as dificuldades econômicas e isso seria fatal aos governos nazifascistas.

A economia alemã ficou bastante frágil após a Primeira Guerra, pela destruição causada pelo conflito, a perda de territórios (inclusive as colônias) e as pesadas compensações financeiras cobradas pelos vencedores. De acordo com Adam Tooze, Hitler conseguiu um período de recuperação, porém sem sustentabilidade, pois se a remilitarização acelerada chegasse ao limite e perdesse força, o crescimento poderia definhar. Portanto, a guerra em um primeiro momento foi uma solução para a Alemanha, pois manteve sua indústria funcionando em ritmo cada vez mais elevado.

A Itália, por seu lado padecia de uma industrialização recente – comparada com os principais centros mundiais –, baixo padrão tecnológico e o desequilíbrio entre o norte e o sul do país. Logo que assumiu, Mussolini iniciou um ambicioso programa de modernização das forças armadas do país, que ativou a economia italiana. Entretanto, como na Alemanha, o crescimento somente poderia prosseguir em um ambiente de insegurança internacional permanente e, finalmente, a guerra.

Giovanni Arrighi percebeu um fenômeno semelhante nos EUA. Segundo o professor Italiano, a manutenção dos altos níveis de crescimento obtidos a partir do New Deal, somente puderam ser mantidos e acelerados graças aos estímulos à indústria militar em função da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria.

O GÂNGSTER SEGUE O MANUAL DOS DITADORES

Obviamente Bolsonaro não poder ser considerado nazista ou fascista. Ele é apenas um gangster de baixo escalão, galgado acidentalmente ao poder, como subproduto de uma trama para deter a escalada do Brasil em direção ao grupo das maiores potências do planeta. Porém seus principais estrategistas, comandados pelo jornalista estadunidense Steve Bannon, são assumidamente neonazistas e procuram transferir para a moderna sociedade os métodos de disputa do poder das suas referências, que chegaram ao poder na Alemanha e Itália (principalmente) nas décadas de 1920 e 30.

Provavelmente por volta de 2012, ano em que Edward Snowden denunciou, que o Brasil, inclusive a presidenta Dilma e a Petrobras, eram alvo da espionagem da NSA; já estava definido projeto de mudança de regime como é o padrão das “revoluções coloridas” patrocinadas pelos EUA. No entanto, Bolsonaro na presidência não era o plano dos operadores internacionais e dos seus aliados das mais altas oligarquias brasileiras. Para este papel, a aliança golpista possivelmente preferia alguém com perfil mais próximo do neoliberalismo clássico – gente como Aécio Neves ou Geraldo Alckmin.

No entanto, após abrir os portões do inferno para provocar o terremoto, que levou ao golpe de 2016, os operadores da crise perderam o controle do processo. Vários motivos contribuíram para a crise do comando neoliberal, como o excesso de emoções desencadeadas; as fakenews produzidas pela mídia da oligarquia, tendo Globo e Veja à frente; a criação do ambiente de ódio à política; o estímulo à ignorância; a ganância de figuras centrais do golpe, como é o caso de Aécio Neves; a falta de carisma de Alckmin; e a incompetência das lideranças alinhadas às oligarquias e os interesses internacionais.

NAUFRÁGIO NEOLIBERAL LEVA MARGINAIS AO PODER

O naufrágio do neoliberalismo com pedigree, no decorrer da crise política provocada por suas lideranças e operadores, abriu espaço para a entrada de novos atores na disputa pelo poder. Esses novos personagens se aglutinaram em duas quadrilhas, organizadas para atuar no ambiente político.

A primeira foi a grande beneficiária do golpe de 2016. Liderada, principalmente, por Temer, esta quadrilha reúne os predadores sociais do centrão, que há décadas usam a política com objetivos pecuniários. Este grupo suspeito levou Temer à presidência da República, de onde saiu odiado pelo país.

O desastrado governo Temer ampliou a rejeição da população brasileira à política. Isso abriu caminho para outra quadrilha, liderada por Jair Bolsonaro, que apesar dos seus 30 anos nos meios políticos, fingiu ser novidade. Sua quadrilha representa o que há de pior no país: militares reacionários, o lúmpen do empresariado e o submundo que flerta com o crime, como as milícias, os pastores espertalhões, os destruidores das florestas e os ruralistas que mantêm o trabalho escravo.

Bolsonaro, como Hitler, chegou ao poder com apoio das oligarquias e dos seus operadores, em uma eleição suspeita, na qual houve o despejo de muito dinheiro ilegal e mentiras distribuídas aos milhões pelas redes sociais.

O governo Bolsonaro é um desastre. Ele não trabalha. Insiste nos caminhos mais nocivos ao povo brasileiro, como porte de armas, eliminação de cadeiras próprias para o transporte de bebês, defende e remoção de radares nas estradas, dificulta a emissão de multas contra suspeitos de destruição de florestas, bloqueia a demarcação de terras indígenas, paralisou a reforma agrária, comandou uma gestão desastrada no combate à pandemia do COVID19, foi garoto propaganda de medicamentos inúteis, é responsável por quase 700 mil mortes, entre muitos outros erros graves.

Bolsonaro nem seus estrategistas, sejam generais, assessores fundamentalistas ou aliados do centrão não têm projeto para o país, são incompetentes e, pior, paira sobre eles a suspeita de que somente visam o enriquecimento.

Hitler e Mussolini não fizeram governos tão desastrados como Bolsonaro antes de entrar na aventura da Segunda Guerra Mundial. Porém, como o nazismo e o fascismo sempre eram minoritários eles mantiveram seus países em um clima de tensão permanente, contra inimigos internos e externos, para evitar questionamentos e assegurar o poder. Ambos seguiram neste rumo, até a derrota, que implicou na destruição física deles e dos seus seguidores.

SÓ O AFASTAMENTO DETÉM BOLSONARO

Estimulado por seus estrategistas, Bolsonaro adota os mesmos métodos de manter o país permanentemente em crise política. Desta forma, ele distrai a população e os analistas, fazendo com que não deem atenção devida ao que é de fato importante; além de manter sua base fiel em um estado constante de mobilização e agitação.

Desta forma, Bolsonaro provavelmente não vai parar com seus constantes desafios às instituições brasileiras e ainda deve tentar novas formas de se manter no poder sem depender das eleições de 2022, que ele sabe que vai perder. Assim é a sua natureza, pois ele só sabe atuar através de bravatas e agressões. Ao mesmo tempo, esta é a estratégia sugerida pelos seus estrategistas, que seguem os métodos de luta nazifascista.

Como ele voltará a atacar, é difícil saber. É bastante provável que Bolsonaro tenha sofrido uma derrota no Sete de Setembro e foi obrigado a entregar os anéis, para não perder os dedos. O que houve de fato, é provável que o publico nunca saiba, pois Temer é uma criatura de transações ocultas no submundo da política e dos negócios.

É preciso esperar mais alguns dias, para ver quais serão as atitudes dos principais atores envolvidos. Na primeira segunda feira da semana posterior à tentativa de golpe bolsonarista, o único player que se moveu foi o PRG, augusto Aras, que pediu a suspensão da MP, que dificulta o combate as fakenews na Internet. Foi uma atitude contrária aos interesses bolsonarista.

De outro lado, Jair Bolsonaro e seus operadores mais próximos, inclusive o General Augusto Heleno, se esforçam para conter a debandada de suas bases mais aguerridas, decepcionadas com o que consideram uma traição do seu líder no Sete de Setembro.

A TERCEIRA VIA MORREU DIA 12 DE SETEMBRO

Fora da arena principal, Lula comemora a vitória em mais um inquérito contra ele, o 19º, o que faz dele o único político brasileiro com atestado de honestidade. Nenhum cidadão foi tão investigado ou perseguido e conseguiu provar sua inocência em todos os casos.

A chamada direita não bolsonarista também se movimenta. A Folha de São Paulo apurou que o ex-juiz Sérgio Moro e o General Santos Cruz fazem com outros interlocutores uma reunião todas as sextas feiras, via online, para tramar seus planos.

Os grupos de direita, como o MBL e o VPR; formados com treinamento, métodos de organização e dinheiro de fundações mantidas por bilionários estadunidenses, como Charles Koch, dono de uma fortuna de aproximadamente US$ 100 bi; organizaram suas manifestações no dia 12 de setembro. Foram um fracasso, o que revela a irrelevância dessas organizações mercenárias.

No cenário após o Sete de Setembro, é de se esperar a tentativa do centrão de estabilizar o governo, pois o maior interesse do grupo é o dinheiro; mais tumultos provocados por Bolsonaro, coerente com a natureza do bolsonarismo; muita dificuldade para a viabilização de uma terceira via (é provável que surjam vários para ocupar a mesma cadeira); e Lula continuar é se movimentando para viabilizar sua candidatura e a governabilidade.

Às esquerdas cabe trabalhar, a fim de estabelecer a maior aliança possível para a remoção de Bolsonaro, via impeachment ou a cassação da chapa com Mourão; e com o objetivo de fortalecer a campanha de Lula, na campanha eleitoral 2022.

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