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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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Quem matou PC Siqueira?

Youtuber foi condenado pelo tribunal da internet, a partir de denúncia anônima, e até pessoas próximas, como Rafinha Bastos, ajudaram a empurrá-lo da janela

PC Siqueira (Foto: Reprodução/Instagram)
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A pedofilia é um problema real e ninguém em sã consciência nega o dever do Estado e das famílias de enfrentá-lo. Mas é preciso reconhecer que, no Brasil, a questão foi usada como bandeira para ascensão da extrema direita, com a produção de casos notórios de fraudes e injustiças, em que se insere o trágico evento que vitimou o youtuber PC Siqueira.

O youtuber foi alvo de uma postagem no Twitter (atual rede X) de junho de 2020, em que ele aparecia num suposto chat em que supostamente compartilhava fotos íntimas de uma menina de 6 anos de idade. Tudo suposto, nenhuma prova. Quem divulgou o suposto chat foi uma conta identificada como ExposedEmo1.

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Até hoje, não se tornou público quem está por trás dessa conta, que foi desativada após provocar um estrago irreversível na vida de PC Siqueira/ 

Apesar da fragilidade da acusação, a Polícia Civil de São Paulo abriu inquérito e obteve autorização do Poder Judiciário para realizar busca e apreensão de equipamentos eletrônicos na casa do youtuber.

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Em fevereiro de 2021, a Polícia Técnica divulgou o resultado da perícia nos computadores, celular e aparelhos de videogame de PC Siqueira. O laudo não encontrou nenhum registro que pudesse incriminá-lo.

Segundo a coluna Notícias da TV, que teve acesso a todos os laudos, "PC Siqueira não armazenava ou compartilhava fotos ou vídeos de conteúdo pornográfico de menores de idade, não teve conversas com outras pessoas sobre o tema e tampouco fez buscas em sites de pesquisas a respeito do assunto".

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O resultado da perícia provou a inocência de PC Siqueira, mas já era tarde. O youtuber, que pouco tempo antes havia recebido prêmios como o melhor produtor de vídeo na internet, tinha fechado o canal no YouTube, perdido seguidores e, pior, amigos e colegas de trabalho.

Um deles foi Rafinha Bastos, com quem apresentava o programa "Ilha dos Barbados". O ex-apresentador do CQC – a extrema direita deve tanto a esse programa – participou do linchamento virtual de PC Siqueira, ao postar texto após a denúncia da conta ExposedEmo1, mesmo sabendo que poderia "empurrar o cara da janela" com essa iniciativa.

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"Eu sou pai, eu tô puto com essa história, eu não tô conseguindo produzir conteúdo, e obviamente estou extremamente preocupado com a criança envolvida nessa história", afirmou.

PC Siqueira tinha uma trajetória bem diferente da de Rafinha Bastos. Enquanto este era protagonista de um programa que usava criança para demonizar políticos de esquerda, como ocorreu com José Genoíno, e dava espaço a Jair Bolsonaro, PC Siqueira se manifestou a favor de Dilma Rousseff, quando ela disputava a eleição com Aécio Neves, em 2014, e foi contra o impeachment, em 2016.

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PC Siqueira também denunciou ter recebido proposta para elogiar o projeto de reforma da Previdência apresentado por Michel Temer. "Não me misturo com golpistas", disse, em janeiro de 2018. Depois, apagou a postagem. E, questionado, explicou:

"Sim, eu apaguei o tweet porque eu tenho medo do governo golpista. Não sei do que são capazes. Não confio, não compactuo, não sou amigo e não me surpreendo", afirmou.

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Dois anos depois, PC Siqueira foi abatido por uma conta misteriosa do Twitter. 

Embora não se tenha o nome de quem está por trás dessa conta, existe uma porta-voz, que, na época do escândalo, deu entrevista para a coluna TAB, do UOL, que a manteve no anonimato.

Ela justificava a divulgação de denúncias em razão da notoriedade de seus alvos.

"Quando a pessoa é pessoa pública, ela sabe que esse tipo de informação tem alcance. Tudo que a pessoa faz de bom contribui para que ela ganhe fama e dinheiro. As pessoas têm o direito de saber a quem estão venerando", afirmou.

"Não estamos incentivando nenhum linchamento ou julgamento", disse, ignorando que a própria divulgação de denúncia sem prova é o linchamento. E, pior, protegido pelo manto do anonimato – o que, de resto, é inconstitucional.

"Nem temos legitimidade para aplicar nenhuma penalidade", declarou. Nenhuma penalidade? O linchamento de PC Siqueira, iniciado pela conta ExposedEmo1, custou a ele a própria vida.

Com o resultado da perícia que o inocentou, a Polícia Civil tinha a obrigação de encerrar o inquérito e encaminhar sua conclusão para que os responsáveis pela conta ExposedEmo1 fossem investigados. Ou puni-los diretamente.

Mas até hoje, quatro anos depois, PC Siqueira é mantido pela Polícia Civil como investigado. Procurada pelo 247, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo declarou:

"O caso segue sendo investigado pela 4ª Delegacia de Repressão à Pedofilia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Até o momento, não houve indiciamento. Demais detalhes sobre o andamento da investigação serão preservados, devido ao sigilo decretado pela Justiça", diz a nota.

Enquanto a Polícia Civil mantém sigilo, PC Siqueira seguiu (e segue) condenado. Agora, seja qual for o resultado dessa longa investigação, o youtuber será uma cadeira vazia, como a que foi apresentada por Rafinha Bastos, quando retomou o programa Ilha dos Barbados, com Cauê Moura, em março de 2021.

Cauê Moura, Rafinha Bastos e a cadeira vazia
Cauê Moura, Rafinha Bastos e a cadeira vazia(Photo: Reprodução do YouTube)Reprodução do YouTube

 

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