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Ivan Guimarães

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Quem mexeu no meu Home Office?

O Itaú mexeu num ninho de marimbondos. Isso vai lhe custar 10 mil salários-mínimos. O maior banco está no centro do debate: é permitido monitorar Home Office?

Home office (Foto: REUTERS/Brendan O'Brien)

O Banco Itaú é hoje, provavelmente, o maior conglomerado financeiro do País. Conhecidos pelo público como bancos, são gigantes com dezenas de negócios financeiros e ou não, altamente especializados. Envolvem financeiras, cartões de crédito, gestão de benefícios, previdência privada, seguros e participações em outras empresas, de donas de gasodutos a concessões de água e esgoto. 

Como a lei não exige define o que são os conglomerados, a consolidação dos dados passa a ser praticamente impossível.  

O Itaú é um conglomerado enorme, criado em 1965, fruto da incorporação de vários bancos ao longo dos anos. Em 2009 se fundiu com um gigante, a época, o Unibanco. Aqui se fundiram as atividades bancárias, mas não as demais empresas suportadas pelas holdings (mineração, vidros, cerâmicas etc.). Surgiu o conglomerado Itaú - Unibanco, controlado por outros conglomerados não financeiros. Ele vem crescendo, aproveitando o apoio governamental aos bancos, como, por exemplo, no crédito consignado, que praticamente determinou o fim do risco bancário, para as carteiras de pessoas físicas. Cobrando taxas elevadas de juros (cerca de 2% a.m.) e sem risco de inadimplência, esses conglomerados apresentaram lucros gigantescos.   

Recentemente o Itaú apareceu negativamente na mídia. Dessa vez por ter demitido cerca de 1.000 pessoas que trabalhavam em Home Office. O motivo declarado foi a baixa produtividade desses trabalhadores, aferida por softwares de monitoramento de trabalho a distância. Sem alertas prévios, sem nenhum contato pessoal, receberam um e-mail, comunicando a demissão.  

O Home office cresceu durante a pandemia, como solução para as empresas continuarem a desenvolver suas atividades. Complexos financeiros precisam de muitos empregados, como o Itaú, que alega ter mais de 96 mil colaboradores. O número de colaboradores em regime de trabalho remoto não é conhecido. Todos os grandes bancos reduziram os espaços alugados para seus colaboradores. 

Mas, como funciona o Home Office? Nos 3 anos de Pandemia, cada empresa adotou regras próprias, já que o desgoverno de então nada fez. Em geral elas ofereciam a conexão de banda larga, o notebook e um kit de mesa e cadeira. 

Os softwares utilizados costumam estar “na nuvem”, assim como os arquivos. Junto com o telefone celular, formam o kit do “colaborador”, que pode trabalhar em qualquer lugar do mundo. E ser monitorado, segundo a segundo.  Sim, a cada segundo.    

Há várias narrativas de importantes autores (Smith, Marx,..) descrevendo as mudanças introduzidas pela revolução industrial. A linha de montagem revoluciona as formas (artesanais) de trabalho, impondo o ritmo das máquinas, onde cada trabalhador realiza uma parte determinada ou tarefa, num tempo determinado. A repetição das tarefas leva a especialização, contribuindo para o aumento da produtividade. 

No mundo dos aplicativos, esses princípios são levados a sério e elevados exponencialmente.  Quando alguém pede uma entrega (ifood e outros), acompanha a elaboração e a entrega em tempo real. É um nível de controle nunca visto antes. O usuário consegue saber o momento exato da entrega de sua encomenda. 

No caso do Itaú não é claro que parâmetros foram monitorados. Existem centenas de sistemas que fazem esse monitoramento remoto, a maioria de forma oculta. Podem acionar câmeras, medir velocidade do teclado, ou outras formas de saber se o funcionário está efetivamente sentado em frente ao computador. 

Dada a repercussão do caso o banco se viu forçado a aceitar uma negociação coletiva com o sindicato, que gerou um amento expressivo no valor das rescisões trabalhistas. Mais precisamente um adicional de 10 salários para cada trabalhador. Mudou o status dos bancários, deixaram de ser colaboradores. Mas o retorno a categoria trabalhadores não alterou as demissões.  

Esse desfecho leva intrigantes questões. Estariam os bancos fazendo uso de uma IA para monitorar seus empregando informações de várias fontes? É obvio que no vácuo deixado pela inação do governo, os grandes empregadores vão desenvolver métodos de controle cada vez mais sofisticados. Resta aos combalidos sindicatos de trabalhadores tentar uma ação política visando que esses mecanismos tenham de ser discutidos nas mesas de negociação capital e trabalho.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.