Quem protege Bolsonaro na chuveirada de urina

"Enfraquecido pela própria obscenidade, ampliada por uma série de fiascos na economia e na diplomacia, Bolsonaro  irá sobreviver enquanto conseguir convencer seus patrocinadores de que é capaz de cumprir as promessas que Paulo Guedes fez em Nova York e na avenida Faria Lima", avalia o jornalista Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia; Num país onde o impacto dos escândalos políticos depende do poder de retaliação das partes atingidas, Dilma Rousseff perdeu o cargo sem cometer crime de responsabilidade enquanto Michel Temer salvou o pescoço depois de promover um ataque global aos direitos dos mais pobres"

Quem protege Bolsonaro na chuveirada de urina
Quem protege Bolsonaro na chuveirada de urina


Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia - A simples possibilidade de que o porno-presidente Jair Bolsonaro venha a ser denunciado na Câmara  por quebra de decoro  em função da "goldenshower" é uma demonstração do grau de degradação de um governo empossado há apenas dois meses.

Essa situação é uma demonstração de fraqueza congênita. Estimula terríveis presságios para os aliados de Bolsonaro e acende luzes de esperança nos círculos adversários. 

É bom cultivar um pouco de cautela, contudo, e  não desprezar o arsenal de recursos à disposição da articulação política que levou Bolsonaro ao Planalto.

Por mais vergonhosa que tenha sido a chuveirada de urina, o governo Bolsonaro representa uma oportunidade única de acerto de contas para uma elite disposta a eliminar todo e qualquer vestígio de Estado de bem-estar social em nosso país e resgatar a oitava economia do mundo para o controle imperial de Washington.

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Não se pode imaginar que a agenda de regressão que Bolsonaro-Guedes tentam impor aos brasileiros e brasileiras será abandonada em função de um vídeo, por mais escabroso que seja.

Vamos falar sério: depois de assumir o controle do Estado e dos grandes negócios do país como poucas vezes se viu em nossa história, a prioridade número 1 deste governo não é uma suposta reeducação moral da população mas a destruição do sistema público de aposentadorias. Essa é a dívida, a conta que precisa ser paga, custe o que custar. 

Nossa experiência política mostra que o impacto real de escândalos políticos -- mesmo gravíssimos -- é determinado pelo poder de retaliação das partes atingidas. 

Foi isso que permitiu que os adversários de Dilma ( e Lula) levassem  até o final uma investigação que fingia acreditar que pedaladas fiscais poderiam constituir crime de responsabilidade, montando o circo correspondente. A destruição de um projeto que, com todos os defeitos e limites, produziu mudanças inegáveis na paisagem social e econômica do país,  já se tornara prioridade absoluta.

Um ano depois, viu-se a contra prova desse comportamento, com sinal invertido.  Nem  as escabrosas gravações do porão do Jaburu, material que jamais foi reunido contra qualquer dignatário de qualquer governo, em qualquer época,  abriram a porta de saída para Michel Temer.  

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Em março de 2017, ameaçado pela Lava Jato,  Joesley Batista providenciou gravações que poderiam servir como defesa e como chantagem. Em maio, elas foram divulgadas pelo Globo. Em julho, o Senado aprovou a nefasta reforma trabalhista elaborada nos laboratório de Temer e seus patrocinadores -- ponto de partida para o desmonte da CLT, sonho de 80 anos da camada superior da pirâmide social brasileira.

Resultado: em consideração pelos serviços prestados, até agora  Michel Temer tem sido capaz de usufruir de um descanso pós-presidencial de dois meses sem maiores atropelos.

A chuva de urina atinge Bolsonaro na testa do falso moralismo. Demonstra a falta de escrúpulos que alimenta seus métodos políticos, cuja base é um estímulo permanente à intolerância e à perseguição política, num padrão de barbárie que atinge até uma festa como o carnaval.

Enfraquecido pela própria obscenidade, Bolsonaro  irá sobreviver enquanto conseguir convencer seus patrocinadores de que é capaz de cumprir as promessas que Paulo Guedes fez em Washington e na avenida Faria Lima. Visível pelo caráter escandaloso, a chuveirada de urina vem na impressionante sequência dos vexames diplomáticos, do desemprego crescente, das insanidades anunciadas na Educação.  

Bolsonaro será derrotado quando se mostrar incapaz de cumprir o que prometeu a  aliados e protetores, que tem imensos interesses materiais a defender no estágio atual de demolição do país.

Essa é a luta no dia de hoje, quando faltam 15 dias para 22 de março, primeiro ato da mobilização de trabalhadores e da população explorada contra a reforma da previdência. Todos devem comparecer aos atos convocados pelos sindicatos e lideranças populares.  

Alguma dúvida?

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