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      João Scarpanti

      Jornalista independente, fotógrafo e graduando em História pela UNESP Franca

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      Quem realmente foi Karl Marx e o que ele pode nos ensinar?

      Aos 207 anos de Marx, devemos aproveitar para um resgate crítico não apenas de seu programa para a transformação socialista, mas de sua história

      Karl Marx (Foto: Reprodução/Wikipédia)

      Hoje, dia 5 de Maio, fazem 207 anos do nascimento de Karl Marx , fundador do socialismo científico, e se faz crucial resgatar a verdadeira dimensão da vida e obra deste revolucionário. Longe da imagem deturpada imposta pelos chamados "marxistas de cátedra", que tentam apresentá-lo como um mero teórico acadêmico, Marx dedicou sua existência à fervorosa luta da classe operária e ao trabalho militante, horizonte tão central hoje para organizações partidárias dos trabalhadores.

      A história começa nas tumultuadas décadas de 1830 e 1840, quando Marx, proveniente de uma família judia convertida ao protestantismo, ingressou nas universidades alemãs. Sua passagem por Bonn e Berlim foi marcada pela expulsão devido a seu caráter indomável, levando-o a se aproximar dos círculos hegelianos de esquerda, um movimento político de oposição ao governo prussiano.

      Contrapondo-se aos hegelianos de direita, Marx tornou-se um crítico contundente do Estado monárquico prussiano, iniciando uma fase intensa de agitação política. Em 1842, assumiu a posição de redator-chefe no jornal Gazeta Renana, onde denunciou as injustiças contra os trabalhadores prussianos e os abusos do governo.

      A vida de Marx ganhou uma nova dimensão quando, em 1843, ele se exilou para Paris, estabelecendo-se como redator nos Anais Franco-Alemães. Nesse período, iniciou uma colaboração frutífera com Friedrich Engels, um amigo e teórico que viria a ser seu principal parceiro. Juntos, Marx e Engels enfrentaram as teorias de Pierre-Joseph Proudhon, destacando a importância da luta política da classe operária. Suas críticas foram consolidadas no livro "Miséria da Filosofia" (1847), evidenciando a necessidade de organização política dos trabalhadores.

      O exílio forçado de Marx em Bruxelas, em 1845, coincidiu com sua filiação à Liga dos Justos, que posteriormente se transformou na Liga dos Comunistas. No Primeiro Congresso, em 1847, os marxistas saíram vitoriosos, alterando o nome e estabelecendo princípios fundamentais para a luta contra a burguesia. O ápice desse período revolucionário foi o lançamento do "Manifesto do Partido Comunista" (1848), um chamado incisivo à revolução e à união dos trabalhadores em todo o mundo. O Manifesto foi publicado às vésperas da Revolução de 1848, que sacudiu a Europa.

      Em 1859, Marx publicou a "Contribuição à Crítica da Economia Política", polemizando com economistas burgueses e pequeno-burgueses. Seu magnum opus, "O Capital", publicado em 1867, explorou as relações de produção capitalistas e a fisiologia do sistema.

      A década de 1860 testemunhou um ressurgimento das mobilizações democráticas e revolucionárias. Em 1864, Marx participou do encontro em Londres que resultou na formação da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), a primeira organização política internacional permanente dos trabalhadores. A AIT, liderada por Marx, desempenhou papel fundamental nas greves operárias na Europa. Seu congresso em Lausana, em 1867, reafirmou o programa marxista, enquanto sindicatos em toda a Europa adotavam suas resoluções.

      Entretanto, a ascensão das lutas operárias foi seguida por uma conjuntura reacionária que levou ao declínio da AIT. A cisão entre marxistas e bakuninistas culminou no Congresso de Haia, em 1872, e a AIT foi dissolvida em 1876.

      Apesar das dificuldades, Marx continuou orientando o movimento operário, lutando contra setores oportunistas e sectários. Sua morte em 1883 não pôs fim à influência de suas ideias, que moldaram a formação de partidos operários e a luta pela emancipação política e social do proletariado.

      A "Nova Gazeta" tornou-se a voz do movimento revolucionário de 1848, agitando politicamente contra governos, partidos e políticos. Marx enfrentou perseguições da polícia, sendo julgado diversas vezes por acusações variadas. A repressão indicava o início da contrarrevolução na Europa.

      A revolução na Prússia, seguida pela suspensão da "Nova Gazeta Renana", levou Marx a ser expulso da Alemanha em 1849. Após breve retorno a Paris, onde enfrentou a contrarrevolução, Marx refugiou-se em Londres, centrando a sede da Liga dos Comunistas na capital inglesa.

      A contrarrevolução europeia resultou no refluxo do movimento operário, dando a Marx a oportunidade de aprofundar seus estudos sobre economia política em Londres. A correspondência com Engels, colaborador em Manchester, sustentou financeiramente Marx durante esse período difícil.

      Marx contribuiu para jornais internacionais, escrevendo análises da situação política global. Essas contribuições, como "A Luta de Classes na França" e "O 18 Brumário de Luís Bonaparte", refletiram uma concepção materialista dos eventos, destacando a luta de classes e rejeitando análises idealistas testemunhando o envolvimento ativo de Marx em movimentos revolucionários em Paris e na Bélgica.

      A trajetória de Marx e Engels é marcada pela busca incansável pela emancipação operária, pela crítica às ideias vigentes e pela construção de um movimento revolucionário sólido. Seu legado, longe das distorções contemporâneas, continua a inspirar a luta pela justiça social e pela verdadeira emancipação da classe trabalhadora.

      Sua passagem por Paris, breve e transitória, foi apenas o início de uma jornada intensa e revolucionária. Marx, após sua passagem por Paris, direcionou-se rapidamente a Colônia, Alemanha, imbuído do propósito de influenciar a revolução em sua terra natal. Em meio a uma monarquia vacilante, ele elaborou as "Demandas do Partido Comunista na Alemanha" (1848), destacando problemas específicos do país. Na Alemanha, com sua estrutura atrasada no modo de produção capitalista, Marx delineou a necessidade de unidade e destruição do poder feudal, propondo um programa democrático-burguês.

      Julho testemunhou o início da edição da "Nova Gazeta Renana", em Colônia, sob o subtítulo "órgão da democracia". Considerada por Lenin como o maior jornal do movimento operário, financiado pela herança de Marx, a publicação se tornou um modelo para futuras organizações partidárias.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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