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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Questão de pele

Agora a preocupação não é mais dos intestinos obstruídos. Agora é questão de pele. Sei...

Jair Bolsonaro - 18/07/2025 (Foto: REUTERS/Mateus Bonomi)

Em 7 de setembro de 2021, no auge do seu fogo golpista, Jair Bolsonaro disse aos berros, de cima de um carro de som: “Quero dizer aos canalhas que eu nunca serei preso.”

No preâmbulo para o aviso teatral, estava a demonstração de toda a sua empáfia e, ainda, a insegurança de que venceria as eleições do ano seguinte, o de 2022: 

"Só saio preso, morto ou com vitória", afirmou o então presidente”, antes de emitir a frase de “super-herói”. 

Na ocasião, questionava as eleições e dizia que não podia "participar de uma farsa como essa patrocinada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)". E acrescentou que: "só Deus" o tirava do poder. 

Se esqueceu de dar uma olhada a quantas ia a campanha no céu. Deus parece ser Lula.

Eis que, a história andou e ele será, sim, preso, independentemente das suas manobras com a saúde, pra lá de manjadas. Para quem se vende como “candidato” a presidente, a fragilidade da sua saúde não colabora (tão pouco a condenação à inelegibilidade).

Desde que estava no poder, saltava aos olhos em fotos ou tomadas de vídeo as “cracas” em sua pele, exposta ao sol de Mambucaba – Angra dos Reis – Costa Verde – RJ) -, provavelmente sem protetor solar, (pois isso não é coisa para macho!).

Desfilou por salões internacionais – ainda que pelos cantos, é certo-, com todas as pelotas no rosto, sem se importar com elas. O apelo aos médicos, quando necessário, eram sempre as tais “sequelas” daquele episódio mal explicado. Abre a barriga aqui, abre a barriga ali, tira tela, bota tela, costura, estica, puxa, e quem somos nós, pobres mortais, para discutirmos sobre tais procedimentos, não é mesmo? 

Desde os arroubos de 2021, quando deu o seu brado do Ipiranga, ops, da Paulista, muitas idas e vindas hospitalares aconteceram. Algumas, de acordo com os próprios boletins médicos, por falta de educação, por engolir inteiro os alimentos, por se entupir de camarões com casca e tudo, literalmente. 

Desde então, sua história nada teve de heroica. Deixou-se vitimizar, fotografar às lágrimas, confessou o medo de morrer na prisão. (Se fôssemos perversos, devíamos, nós, agora, dizer como ele disse na pandemia: “e daí? Não somos coveiros!” E muito menos carcereiros, diga-se de passagem). 

A bravata daquele setembro de 2021 morreu num processo do TSE, que o tornou inelegível. Foi desalojado do Planalto, vivinho da Silva, pelos eleitores que preferiram o seu adversário: Luiz Inácio Lula da Silva. A vitória que buscou nas urnas a bordo de R$ 800 bilhões do orçamento – que se não fosse a PEC da transição nem recursos para a conta de luz do palácio existia, pois ele raspou o cofre -, não veio. 

Bolsonaro saiu num jato especial da presidência – nos estertores dos seus dias no cargo -, levando dólares, joias e sua entourage, incluindo o ajudante-de-ordem, Mauro Cid, que hoje frequenta o mesmo banco dos réus que ele, mas em lados opostos, porque na hora da onça beber água, vale salvar a própria pele. 

Enquanto Cid tenta salvar a sua, com os advogados defendendo a validade da delação que fez, a ferro e fogo, Bolsonaro quer cuidar também da sua. 

As perebas que nunca pareceram incomodá-lo, agora, num cenário de prisão inevitável, podem ser usadas para adiar a saída de cena. Vou ali e volto já, (depois da condenação, e de um procedimento cirúrgico), disse ele ao ministro Alexandre de Moraes. Agora a preocupação não é mais dos intestinos obstruídos. Agora é questão de pele. Sei.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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