Quinto dos infernos
Um quinto “dos infernos” insiste em apoiar Bolsonaro e expõe a hipocrisia que ameaça a democracia brasileira
Não é surpresa que a esmagadora maioria dos eleitores não vote em candidatos que apoiam criminosos. O que surpreende é que, segundo um recente Datafolha, um quinto “dos infernos” (cerca de 19% dos eleitores) votaria com certeza em quem livrasse a cara de Bolsonaro! Se a condenação de Lula não tivesse sido anulada, eles apoiariam algum candidato que defendesse o petista? A hipocrisia de parcela significativa da população é enorme, e a extrema direita surfa globalmente nessa onda. Havia pouca gente nas ruas naquele fatídico domingo, mas havia gente. O fascismo e o nazismo também começaram pelas beiradas — e deu no que deu.
Em outro Datafolha, mais recente, a insistência é por perguntas capciosas, longe da realidade, em que queriam saber de quem seria a culpa pelo tarifaço de Donald Trump, e o próprio presidente norte-americano não apareceu como opção! Ou seja, esconde-se o principal culpado para encontrar outro. De qualquer forma, reforçaram que 35% dos brasileiros atribuem a Lula a culpa, enquanto o dado mais importante dessa tendenciosa pesquisa é que 65% não culpam o presidente pelo que está acontecendo. Ou seja, esses 35% reúnem aquele quinto dos infernos mais um sexto da população, que é muito bem manipulada e que irá decidir os rumos do país e da democracia no ano que vem.
Setembro será um mês de flores. De rosas, mais especificamente. Mas, além da cor e do aroma, trará espinhos — e espero que o STF saiba lidar com eles no momento do histórico julgamento em que colocará na cadeia, em definitivo, os golpistas de hoje, herdeiros do golpismo de sempre. Inclui-se aí o ex-capitão, já sabidamente criminoso desde o tempo em que quebrava a hierarquia militar, planejava atentados a quartéis e ao sistema de abastecimento de água de Guandu (RJ) e enaltecia torturadores no plenário da Câmara dos Deputados. Assim, aliviaríamos o quinto dos infernos em que podemos vir a viver.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

