Raquel Lyra quer minar sectarismo do PSDB contra Lula
“Governadora de Pernambuco olha para os destroços políticos do partido e pede postura colaborativa com o país”, escreve Aquiles Lins
A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, frustrou os planos do ex-prefeito Gilberto Kassab de vê-la entre os quadros do PSD. Ao menos temporariamente. Em entrevista à Folha de S. Paulo publicada neste sábado (9), garantiu que pretende permanecer no PSDB, partido sob o qual foi eleita a primeira mulher ao comando do executivo estadual. E disse mais: com a eleição do novo presidente nacional tucano, o ex-governador de Goiás Marconi Perillo, Raquel quer que a legenda abandone a oposição automática e sectária ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e adote postura pragmática. “Em relação ao posicionamento nacional do partido, defendo que o PSDB se posicione pela independência, porque é um momento em que a gente precisa de muita cautela no Brasil”, afirmou a gestora.
O histórico do PSDB na política brasileira nos últimos anos reforça a ponderação da governadora de Pernambuco. Partido que dominou com o PT a política nacional por duas décadas e governou o país por oito anos, o PSDB foi praticamente dizimado, fagocitado pela extrema-direita nas últimas eleições, numa decadência política que se intensificou quando o então candidato presidencial derrotado Aécio Neves não aceitou a derrota nas urnas para Dilma Rousseff em 2014, e engendrou, juntamente com Eduardo Cunha e o lado mais podre da política brasileira, um impeachment sem crime de responsabilidade, o que aqui chamamos de golpe.
Dos 9 governadores do Nordeste, Raquel Lyra é a única que não é de um partido integrante da base do governo Lula. E governa o estado onde Lula nasceu, o que tem especial sentido ao presidente. Na entrevista à Folha, a governadora apontou no horizonte desafios importantes para o governo tocar sua agenda eleita nas urnas, mas ressaltou os avanços já alcançados. “Primeiro ano é sempre ano de arrumação da casa. Acho que ele tem projetos importantes já que as pessoas podem celebrar. Teve o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, um espaço fiscal para investimento em rodovias. Acho que a gente já tem apontamento para políticas públicas fundamentais. Existe um desafio na política também, de poder aprovar os projetos que são apresentados. Ele [Lula] está em processo de negociação, todo mundo assiste a isso. E eu espero que ele consiga alcançar a estabilidade necessária”.
A declaração é de alguém que não tem apenas relação institucional com o governo, mas que age em sintonia com os interesses do país. É esta visão que a líder política demonstra querer ver na atuação do PSDB. No entanto, para além das ponderações e votos de sucesso na agenda do governo, a governadora pode agir pragmaticamente, orientando sua base a apoiar os projetos essenciais do governo Lula em 2024.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

