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Jeferson Miola

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Rebelião contra o hino racista do Rio Grande do Sul

No ano em que Porto Alegre elege o maior número de parlamentares negras/os da história, a “bancada negra”, já na cerimônia de posse, deu uma notável demonstração de combatividade ao se recusar a ficar em posição de reverência no momento em que o racista hino riograndense foi entoado, descreve Jeferson Miola

(Foto: Reprodução)
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Por Jeferson Miola

Monumentos e estátuas de escravocratas e espoliadores expostos em parques, praças e espaços públicos estão sendo derrubados na Europa e nos Estados Unidos.

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O avanço da consciência antirracista internacional cobra um basta ao genocídio do povo negro, à brutalidade racista cotidiana, à segregação racial; e um fim de assassinatos covardes e cruéis como do George Floyd nos Estados Unidos e do Beto Freitas em Porto Alegre/Brasil, que expressam a total desumanização do corpo negro.

A luta antirracista assumiu centralidade e ganhou forma de revolta em cidades, países e regiões de várias partes do mundo. Em Porto Alegre ganhou força, radicalidade e juventude na eleição de 15 de novembro, e se tornou ainda mais pungente com o bárbaro e covarde assassinato de Beto Freitas por seguranças do Carrefour em 19 de novembro.

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A população da capital gaúcha elegeu a maior representação parlamentares negras/os em toda a história do legislativo municipal – dentre 36, foram eleitas 4 vereadoras negras e 1 vereador negro [14%]: Bruna Rodrigues e Daiana Santos/PCdoB; Karen Santos e Matheus Gomes/PSOL; e Laura Sito/PT.

Já na cerimônia de posse esta “bancada negra” deu uma notável demonstração de combatividade ao se recusar a ficar em posição de reverência – de pé e em silêncio – no momento em que o racista hino riograndense foi entoado. Permaneceu sentada.

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Matheus Gomes usou o microfone do Plenário para explicar o motivo da rebelião contra o conteúdo racista do hino: “talvez a maioria não esteja acostumada com a nossa presença [aqui]; [mas] não temos obrigação nenhuma de estar cantando um verso que diz que o nosso povo não tem virtude e por isso foi escravizado” [lamentavelmente, nenhum parlamentar não-negro repetiu o gesto].

O hino gaúcho, arrogante e pretensioso em um dos seus versos – “Sirvam nossas façanhas / De modelo a Toda Terra” [sic] – noutro faz uma torpe justificativa racista: “Povo que não tem virtude / Acaba por ser escravo”.

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Ora, é como dizer que a escravidão não é um processo brutal e violento de dominação e subjugação forçada de classe, mas sim resultado da deficiência de caráter ou de qualidade moral do próprio escravizado!

Como canta Rafa Rafuagi na música homônima do documentário “Manifesto Porongos”, a ausência de virtude é, na realidade, característica da oligarquia branca e escravocrata que, por não ter virtude, “Acaba por escravizar”.

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Na opinião da historiadora e educadora em questões étnico-raciais Suzane Jardim, “a formação de uma identidade nacional passa por escolhas de heróis, símbolos, hinos, histórias. No Brasil, não foi diferente”.

Na construção da identidade brasileira, na visão da historiadora, houve o apagamento da memória negra e indígena. “A memória negra foi varrida, como a memória indígena foi varrida e ninguém questionou (…) A gente sabe que não tem uma estátua de Zeferina do Quilombo do Urubu, por exemplo”, afirma ela.

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Suzane entende que “todo esse movimento de questionamento de pensar em derrubar ou em ressignificar tem a ver com isso, é algo contínuo e que é fruto de todas as contradições que o colonialismo colocou pra gente até os dias de hoje”.

Para a historiadora, a derrubada destes símbolos, por outro lado, não deve representar a reescrita da história ou o apagamento da memória sobre o passado, por mais abominável que seja, pois é preciso evitar um futuro “onde se possa se esquecer que fomos racistas, que a nossa política e as nossas instituições exaltavam torturadores e genocidas”.

Nesta mesma linha de reflexão, a professora do Departamento de História da UFMG Heloísa Starling entende quequanto mais nós soubermos sobre o passado, mais forte será o tipo de ação que nós vamos construir para que não se repita. É mais importante construirmos uma ação política que detenha o conhecimento do que simplesmente destruir”.

A derrubada de símbolos e monumentos que reverenciam e homenageiam a escravidão, o colonialismo, o racismo e o autoritarismo é uma necessidade histórica inadiável.

A mudança do hino riograndense, nesta perspectiva, é a maior “façanha” que o povo gaúcho pode dar de exemplo “a toda Terra”. A rebelião por esta mudança ganhou o inspirador impulso da “bancada negra” na Câmara de Porto Alegre.

Como canta Rafa Rafuagi, “Uma história opressora / Que não fala a verdade”, “Todo 20 de setembro / Eles escondem a crueldade” […] “Que vocês tenham vergonha / E não mascarem a sua guerra” de extermínio do povo negro.

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