Recall dos CACs
"Mesmo com a revogação dessas facilidades no governo Lula, as armas adquiridas no período anterior não precisaram ser devolvidas"
A cena de cinismo de um governador sob cujas barbas - com sua conivência e convivência - facções criminosas e milícias se espraiaram pelo território do Estado do Rio de Janeiro, fazendo um discursinho de que a operação genocida da última semana, nos complexos do Alemão e da Penha, seria “enfrentamento à criminalidade”, exige que todos pensemos seriamente sobre segurança pública. É preciso encarar o debate para que a narrativa rasa, oportunista e eleitoreira da extrema-direita não se consolide como “verdade” entre a população brasileira.
Esse enfrentamento se faz, claro, com ações objetivas, sustentadas por quem entende que combater organizações criminosas - milícias ou narcotraficantes - passa por outro caminho: o da inteligência, da asfixia financeira e da ruptura das cadeias logísticas, combinado com a presença efetiva do Estado nos territórios.
Nessa direção, ousei esboçar um conjunto de ações que poderiam compor um Plano Federal Anticrime. O governo do presidente Lula já mostrou do que é capaz ao atingir o braço financeiro dessas organizações. A Operação Quasar, da Polícia Federal, chegou à Faria Lima, onde operadores do narcotráfico lavavam recursos. São instituições financeiras que a extrema-direita no Congresso insiste em blindar contra maior taxação e controle.
Há, porém, outro braço que alimenta essas organizações a partir de atividades ditas “legais”, devidamente estimuladas e financiadas politicamente durante o governo anterior: os chamados Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores - os CACs. As mudanças legais de Bolsonaro, flexibilizando regras para compra de armas - inclusive armamentos antes restritos às forças de segurança, como fuzis - incendiaram o comércio e, por consequência, o desvio para o crime. Cada pessoa podia comprar até 30 armas.
Mesmo com a revogação dessas facilidades no governo Lula, as armas adquiridas no período anterior não precisaram ser devolvidas. Milhares continuam em circulação. Muitas, como apontam diversas investigações a partir de apreensões, estão nas mãos de milicianos e faccionados.
Por isso, uma medida central desse imaginado Plano Federal Anticrime seria um recall, conduzido pela Polícia Federal ou pelas Forças Armadas, exigindo que todos os ditos colecionadores, atiradores e caçadores apresentem fisicamente as armas adquiridas sob a legislação anterior. Uma ação assim permitiria identificar elos que hoje instrumentalizam o crime com armamento pesado.
Como falamos de um plano, não se trata de ação isolada. Nos próximos dias, seguirei explorando outras possibilidades na linha de propor medidas concretas - com inteligência, tecnologia e planejamento - em contraponto ao discurso fácil da extrema-direita de “entrar atirando” nas comunidades. Sabemos que isso não resolve nada, apenas coloca vidas inocentes em risco, como se vê nos cinco anos do ignóbil e oportunista Cláudio Castro à frente do Rio de Janeiro.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

