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Airton Faleiro

Deputado federal (PT-PA)

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Reflexões sobre as mobilizações bolsonaristas de 15/03

Eventos deste dia 15 mostraram a vitimização do presidente e afirmação do mesmo como a salvação messiânica do país. Ao mesmo tempo que declaram a negação odiosa das instituições e de forças políticas demonizadas como inimigas do Brasil

O primeiro grande erro tático de Bolsonaro (Foto: Agência Brasil)
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Seguindo a lógica que rendeu a Bolsonaro a eleição para presidente da república, poderia afirmar que esta mobilização é mais uma jogada de marketing para atiçar a polarização direita/ esquerda e assim manter o bolsonarismo em evidência e na defesa do governo de Jair Bolsonaro. 

Para início de conversa, não está em discussão a legitimidade de qualquer manifestação de rua, já que tem respaldo constitucional; mas da mesma forma não se pode ignorar a legitimidade de quem tem uma visão crítica desta mobilização, como é meu caso e de tantas outras pessoas. 

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Vamos buscar entender o que motivaria e faria com que tal mobilização se faça necessária, mesmo em tempos de coronavírus, para além da manutenção da fatia da sociedade de extrema direita mobilizada e em defesa do governo com quem ela se identifica ideológica e politicamente. 

Estaria ameaçada a permanência do presidente da república e à beira de um impeachment? Claro que não, pois a esquerda não apresenta musculatura política e social para encampar esta campanha neste momento. Estaria, então, a direita sob risco “do comunismo hegemonizar o mundo e a política no Brasil”, como se ouviu muito nos discursos desse 15 de março? Sem fundamento, pois nem o socialismo e nem mesmo a socialdemocracia estão na atualidade em vantagem em relação ao neoliberalismo. Mas, então quais seriam as principais razões que levariam o presidente da república a chamar tal mobilização? 

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Desde o início, a mobilização foi motivada contra o Congresso Nacional e o STF. Mas o que essas duas instituições estariam fazendo de tão grave a ponto de levar o poder executivo a tentar jogar a opinião pública do país contra eles? Teve um momento em que se falava que era para impedir que o Congresso não indicasse livremente a aplicação dos 30 bilhões, através de emendas do relator da Comissão de Orçamento. Mas aí moram algumas contradições inexplicáveis do executivo, comandado por Bolsonaro; pois quem mandou o Projeto de Lei com essa proposta foi o seu ministro Paulo Guedes e a base do seu governo votou em massa na proposta. Aliás, essa medida, chamada de Emenda do Relator, visava exatamente atender à base do governo no Congresso Nacional, para além das emendas impositivas já garantidas por Lei. Quando isso virou polêmica surgiu uma proposta de acordo entre o executivo (Bolsonaro) e as presidências das duas casas do Congresso Nacional (Maia e Alcolumbre) para dividir em iguais partes o bolo da discórdia. O que significa que não teria sentido levar o povo para rua por este motivo. 

Pensando do ponto de vista político eleitoral, poderíamos então afirmar que este movimento foi para dar combustível para as candidaturas bolsonaristas municipais? Pelos discursos que ouvi em minha cidade, sim. Mas essa razão certamente não foi a principal. Ainda explorando as motivações eleitorais, poderíamos afirmar que isso representaria um racha do Centrão, que se uniu aos bolsonaristas, para tirar o PT do governo, e agora busca suceder o Bolsonaro em 2022? Não podemos esquecer também que estando Bolsonaro sem partido e não conseguindo registrar o seu “Alianças Pelo Brasil”, as manifestações de apoio poderiam servir como um aviso aos demais partidos de centro-direita que Bolsonaro está vivo e com poder de influenciar nas eleições. Tudo isso não deixa de ter fundamento também, porém não deve ser a principal motivação.

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Primeiro, o que se observa é que as principais razões (não ditas nas mídias sociais e nos discursos de ruas, pois talvez muitas das pessoas que foram às ruas não estejam entendendo), são outras. O Brasil caminha para um colapso na sua economia diante do plano econômico de Paulo Guedes e por isso é necessário assegurar o projeto pela polícia e pela ideologia. 

O Paulo Guedes tem sido tão sem sorte que não vai poder botar culpa no coronavírus - mesmo todos nós sabendo que a pandemia vai contribuir negativamente para a economia mundial e brasileira -, pois o anúncio do pibinho de 1,1% foi anunciado antes de vir à tona a crise do coronavírus. 

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Um segundo aspecto a ser considerado é a intransigência autoritária do executivo e sua base extremista, de fora e dentro do Congresso, que não aceita que o legislativo exerça seu papel de alterar as proposições vindas do executivo. O que se observa é um acirramento das divergências sobre as medidas a serem tomadas como soluções para as crises do país. A esquerda e setores do Centrão agora, mesmo com suas diferenças e por razões distintas, sinalizam ser contrários à política econômica de Bolsonaro sobre a retirada de dinheiro das camadas sociais afetadas com cortes de direitos, políticas e programas sociais que dariam maior capacidade de compra para o povo brasileiro e assim a economia poderia ser aquecida. 

Diante das derrubadas dos vetos presidenciais e das discordâncias em votar novos projetos, que na opinião da esquerda e de grande parte do Centrão, levariam à recessão, com implicações irreparáveis para o país e para o povo brasileiro, o presidente da república e sua cúpula de fora e de dentro do Brasil tentam desmoralizar o poder legislativo e o STF junto à opinião pública para forçar a aprovação das medidas em curso pela via democrática, com os outros poderes ajoelhados ao executivo; ou então criar um ambiente para intervenção e assim apenas o executivo determinar os rumos do país. 

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Não à toa, as quatro mais respeitadas instituições democratas brasileiras (CNBB, OAB, ABI e a Comissão ARNS) lançaram hoje um comunicado conjunto em defesa da Democracia “É urgente neutralizar as ameaças às instituições”. Estas instituições sabem bem ler termômetros de ameaças totalitárias.

Devemos ainda nos manter atentos para este movimento do governo brasileiro de articulação com o presidente Trump, que enfrenta dificuldades para sua reeleição e sinaliza em deflagar uma guerra com a Venezuela, para assim, como é tradição dos EUA o uso de guerras para influenciar nos resultados eleitorais, envolvendo o Brasil como instrumento (descartável no futuro) em guerras desnecessárias. Já há quem diga que este mesmo caminho poderá vir ser usado por Bolsonaro na busca de sua reeleição diante de seu desgaste visível e o que ele pode acumular diante do fracasso de seu plano econômicos.

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Os eventos deste dia 15 mostraram a vitimização do presidente e afirmação do mesmo como a salvação messiânica do país. Ao mesmo tempo que declaram a negação odiosa das instituições e de forças políticas demonizadas como inimigas do Brasil. 

Diante da incapacidade de criar um partido para chamar de seu, o bolsonarismo intensifica a negação da política como estratégia para obter apoio de massa para um governo que promove a destruição do Estado brasileiro, rasgando a constituição de 1988. 

Este é o projeto ao qual o bolsonarismo quer o Congresso Nacional e o STF subordinado. 

Espera-se que as forças progressistas e democráticas do Brasil percebam a gravidade do golpe autoritário em curso e mobilizem a sociedade na defesa do país e do povo brasileiro, maior vítima do bolsonarismo. A CNBB, a OAB, a ABI e a Comissão ARNS já deram o tom de como a sociedade deve reagir.

Sejam lá quais os reais motivos que estão por trás das manifestações deste 15/03, devemos estar atentos e mobilizados, pois “é urgente neutralizar as ameaças às instituições”.

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