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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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“Renan é um cangaceiro”

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Eu já tinha ouvido muitos epítetos qualificando políticos brasileiros – ladrão, safado, cafajeste, corrupto, delinquente – mas esse com que o ex-senador Delcídio do Amaral brindou, ontem à noite, o presidente do Senado é inédito, pelo menos para mim. "Renan é um cangaceiro" disse ele. "Está condenado, tem 12 processos nas costas e continua lá", completou.

Fiquei tão impressionado que sonhei com ele. Delcídio estava elegante, aquele cabelão de algodão, terno cinza e gravata azul, nó largo – como se apresentou no "Roda Viva" – mas sentado numa cadeira de madeira, de pernas cruzadas, diante de uma mesa das antigas, com máquina de escrever, na redação do jornal onde eu trabalhava. "Você não tem medo de dizer que o Renan é cangaceiro"? Ele deu de ombros, como quem diz "isso pra mim é café pequeno".

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E – cá entre nós – estava coberto de razão. Um homenzarrão daqueles, do Mato Groso do Sul, terra de não menos pistoleiros que a Alagoas de Renan ele não precisa ter medo. Quem deve sentir medo somos nós, eu e você, cercados de políticos como Renan, o cangaceiro e Delcídio, o delator.

O mais preocupante é que Renan é o vice não oficial de Michel Temer, seu substituto em qualquer eventualidade, ocasião em que, data vênia, o país será governado por um cangaceiro. "Um cangaceiro assume a presidência da República" será a manchete, senão nos jornais daqui, sempre comedidos quando se trata de qualificar políticos de direita, dos principais jornais da Europa e dos Estados Unidos.

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Mais preocupante ainda é que ele é o líder da Casa que vai julgar o afastamento definitivo da presidente Dilma em no máximo 180 dias.

Mesmo levando em conta que o presidente das sessões do impeachment será o presidente do STF, Ricardo Lewandowski e não ele, não se pode menosprezar o fato de que os julgadores da presidente serão os senadores que o elegeram, portanto a maioria está alinhada com ele, e que ele é o maior interessado em que Dilma perca a votação.

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Outro agravante – também revelado pelo delator Delcídio – é que "vinte senadores estão na Lava Jato e cinquenta respondem a ações penais no STF".

Num estado de direito pleno, sem tergiversações, senadores processados deveriam se sentir ou, caso contrário, serem impedidos de julgar o impeachment de uma presidente da República, mas o estado de direito brasileiro é um genérico, no qual os ministros do Supremo Tribunal Federal assistem a tudo de camarote e não se abalam com esses detalhes que nos afligem, cidadãos comuns, pois são juristas de notório saber e, da mesma forma que não se pronunciam a respeito de um ministério onde abundam fichas-sujas também não se sentem no dever de nos proteger das quadrilhas que tomaram de assalto o país. Quando afastam um "delinquente" da presidência da Câmara dos Deputados – embora o deixem em liberdade para continuar delinquindo – já levantamos as mãos aos céus.

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Se num tribunal do júri de um criminoso comum exige-se dos jurados 'notória idoneidade', ou seja, não podem ter antecedentes criminais, como se explica que o mesmo critério não se adote em relação aos jurados do julgamento mais importante que o país pode ter, que é o impeachment de um presidente da República?

Só quem tem "notório saber jurídico" deve ter a resposta na ponta da língua, inacessível a leigos como nós.

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